O fanatismo alimenta-se das emoções. É da perda da racionalidade que nasce o fanatismo

James Arthur Baldwin (1924-1987 — viveu 63 anos) é considerado um expoente da literatura americana. Romancista, dramaturgo, poeta e ensaísta, segundo a resenha da revista “The Economist”, dedicada ao seu centenário, poucos norte-americanos viram o seu país mais claramente do que o autor dos clássicos “O Quarto de Giovanni” e “Notas de um Filho Nativo”, ambos editados no Brasil pela Companhia das Letras.

Nos ensaios, onde destacou-se como um dos melhores críticos americanos, James Baldwin, que era profundamente patriótico e resistente ao fanatismo, assumia: “Eu amo a América mais do que qualquer outro país do mundo e, exatamente por esse motivo, insisto no direito de criticá-la perpetuamente”. América, no caso, são os Estados Unidos.

A sua aversão ao fanatismo foi expressa em um pensamento que ganhou notoriedade. Disse o autor de “Terra Estranha”: “Nem tudo o que pode ser enfrentado pode ser mudado; mas nada pode ser mudado se não for enfrentado”. Uma censura aos fanáticos que se recusam a criticar uma realidade.

O mundo conhece e a história registra ondas de fanatismos. Elas são notórias principalmente por terem sido reconhecidas como ondas de fanatismos: as Cruzadas, a Santa Inquisição, a Revolução Comunista e tantas outras. O fanatismo alimenta-se das emoções. É da perda da racionalidade que nasce o fanatismo.

Oportuno levantar a existência de fanáticos quando estes estão corrompendo a liberdade das ideias. São os torcedores apaixonados que defendem os seus partidos com unhas e dentes no campo dos esportes, na política e na religião. O fanático faz parte de uma turba movida a emoção.

Azul e vermelho: é preciso respeitar as diferenças políticas e ideológicas | Foto: Reprodução

A postura maniqueísta — o fanatismo — é de uma miopia condenável. O fanático não consegue, por ser psicologicamente insensível a opiniões outras que não a sua, a olhar o outro lado da cerca com empatia. Ao fanático irrita ser confrontado com a divergência, com as diferentes opiniões. Ele considera-se dono da verdade, mas na verdade é um ingênuo.

Justamente por amar a América é que James Baldwin — um escritor negro, e militante — julgava-se no direito de criticá-la. Apontar os erros é uma forma de amar. Torcer por alguém que está na direção errada não contribui para o seu desempenho. O fanático quer adesão incondicional às suas posições. Opiniões contrárias são rechaçadas como torcida contra o objeto, não como crítica contra o caminho tomado.

Discutir o país é também amá-lo

Depois que os petistas dividiram o Brasil entre “nós e eles”, a nação separou-se em dois partidos. Os que criticam o governo e os outros. Estes não consideram críticas ao jeito petista de governar como discordância com o meio, mas como uma torcida cega contra o país. Quando na verdade, discutir outras maneiras de governar, sim é amar o Brasil. Torcer para alguém que está no caminho errado é contribuir para o seu insucesso.

Parafraseando James Baldwin: amo o Brasil mais do que qualquer outro país do mundo e, exatamente por esse motivo, insisto no direito de criticá-lo perpetuamente. Exatamente porque “nem tudo o que pode ser enfrentado pode ser mudado; mas nada pode ser mudado se não for enfrentado”.

Enfrentar a equivocada trajetória do Brasil em busca da civilidade, criticando-o, é um direito de nós que o amamos.

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