A Vida Futura, de Sérgio Rodrigues, exibe a luta de clássicos de José Alencar e Machado de Assis

Carlos Willian Leite

Especial para o Jornal Opção

Quinto livro lido em 2025, “A Vida Futura” (Companhia das Letras, 166 páginas), de Sérgio Rodrigues.

O livro propõe uma travessia no tempo que é engraçada, trágica e inusitada: Machado de Assis e José de Alencar retornam ao século 21 para confrontar um projeto que busca tornar suas obras mais acessíveis. Batizada de “Luta de Clássicos”, a iniciativa provoca reflexões sobre o impacto da modernização de textos consagrados na preservação de sua essência.

O contraste entre os temperamentos dos dois autores é explorado de forma brilhante. Alencar, expansivo e teatral, se sente ultrajado pela ideia de remodelarem suas narrativas, enquanto Machado, contido e irônico, observa com fascínio e estranhamento a adaptação de obras clássicas à contemporaneidade. O choque entre suas visões vai além das páginas de seus livros, tocando em questões culturais e identitárias.

José de Alencar e Machado de Assis: dois “pais fundadores” da literatura brasileira | Fotos: Reproduções

A narrativa também destaca a condição de Machado como escritor negro em um Brasil escravocrata, refletindo a tensão entre seu contexto histórico e as demandas modernas por representatividade. Sérgio Rodrigues habilmente questiona como o criador de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” reagiria à leitura contemporânea de sua obra, que exige o reconhecimento explícito de sua herança, mas sem perder de vista as contradições e ambiguidades do autor.

Outro ponto de destaque é Mar, uma estudante não binária que se recusa a reduzir Machado a um símbolo político, preferindo explorar a complexidade de sua escrita. Mar nos convida a enxergar os clássicos como obras multifacetadas, que transcendem estereótipos e simplificações.

Sérgio Rodrigues conduz a narrativa com elegância, em uma prosa crítica, irônica e fluente, que instiga reflexões sem recorrer à militância explícita.

Uma leitura indispensável para quem deseja revisitar os clássicos e repensar o papel da literatura em tempos de transformação. Sérgio Rodrigues prova que os clássicos continuam vivos e dialogando com as inquietações do presente.

Nota: 9,5

Carlos Willian Leite, poeta, jornalista e editor da “Revista Bula”, é colaborador do Jornal Opção.

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