Mulheres se fortalecem em coletivos e projetos compartilhados para empreender

Em 2011, quando se tornou mãe solo de filhos gêmeos, aos 21 anos, Cynthia Paixão decidiu empreender. Trocou o emprego estável, de carteira assinada, pela possibilidade de viver a maternidade com mais equilíbrio. Lançou, então, sua marca e loja própria de moda praia plus size. Em 2021, após a pandemia de Covid-19, percebeu a dificuldade de muitas empreendedoras, principalmente de mulheres negras, como ela, em manter uma loja sozinhas, pagando aluguel e funcionários. Foi quando decidiu convidar 10 dessas mulheres para participar do seu ponto físico. Nascia, assim, a loja colaborativa Afrocentrados.“Comecei em uma unidade de 19 metros quadrados, na rua, e hoje estamos numa loja de 200 metros quadrados, em um grande shopping, trabalhando com 100 marcas”, celebra Cynthia. Como o nome diz, a Afrocentrados vende produtos cosméticos, de moda, artesanato, papelaria, arte e decoração de empreendedores negros, sendo 95% mulheres. Em 2024, o negócio movimentou R$ 500 mil.Iniciativas como a de Cynthia Paixão ajudam mulheres a driblar obstáculos como a falta de financiamento ou de estrutura para conquistar o próprio negócio. De acordo com especialistas, mulheres que empreendem juntas se sentem mais seguras e têm mais chances de êxito. “A Afrocentrados se tornou uma rede de apoio que as ajuda a conquistar sua liberdade financeira”, diz Cynthia, que oferece mentoria para colegas do ramo sobre identificação de público, precificação e marketing em redes sociais.Rosângela Gonçalves, coordenadora do programa Sebrae Delas, de fomento ao empreendedorismo feminino, diz que a proximidade com mulheres que já superaram barreiras é um aprendizado inspiracional. Segundo ela, empreendimentos coletivos, como o de Cynthia Paixão, são uma tendência de negócio. “Além de reduzir custos, como com o aluguel, eles permitem melhores condições de negociar com fornecedores, colaboração para campanhas de marketing e estratégias promocionais mais abrangentes”.PertencimentoA empresária Ana Carolina Alonso, coordenadora da Câmara da Mulher Empresária (CME) da Fecomércio Bahia, lembra que as mulheres se preparam mais que os homens para empreender, investindo em cursos e capacitações antes de abrir o negócio e na educação continuada, com novas ferramentas, para se manter no mercado. O acúmulo de conhecimento não elimina, no entanto, a necessidade da sensação de pertencimento ao mundo do empreendedorismo. “As trocas de experiência propiciam ainda mais capacitação. E conviver com outras mulheres de sucesso, entendendo que dores e alegrias são comuns a todas, com certeza as incentiva a seguir em frente”, afirma.Ana Carolina diz que, sempre que mulheres se reúnem e se incentivam, a possibilidade de durabilidade e expressão do negócio se amplia. Por isso, é fundamental que mulheres empreendedoras façam parte de associações que as representam, conversem sobre negócios, sobre dinheiro e sobre formas de ampliarem a sua participação no mercado. “Empresas femininas são importantes para a geração de emprego e renda para a sociedade e quanto mais duráveis e rentáveis elas forem, mais todos os agentes participantes se beneficiam”, pontuaIsso é especialmente verdade para aquelas que atuam no empreendedorismo social. No Centro de Arte e Meio Ambiente (Cama), em Salvador, há 30 anos, mulheres negras são incentivadas a empreender em diversos setores, gerando trabalho e renda na própria comunidade. “A gente já nasce empreendendo. Costureiras que já faziam roupas em casa, mulheres que vendiam geladinho e quitutes hoje têm espaços no bairro para comercializar seus produtos”, conta Ana Carine Nascimento, coordenadora da ONG.Entre os empreendimentos fomentados no Cama ao longo dos anos estão a Associação de Doceiras e Confeiteiras de Itapagipe , o grupo Colher e Sabor, e o Costura Solidária, que reúne costureiras que transformam resíduos têxteis em acessórios.Ana Carine conta que muitas dessas mulheres chegam acanhadas, com muitas demandas familiares e em situação de vulnerabilidade e, graças às redes formadas, constroem sua autoestima como indivíduos e como empreendedoras. “Elas recebem diferentes capacitações, passam por todo um processo formativo e entendem que são senhoras de sua vida”. É um dos poderes do empreendedorismo feminino.
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