Opinião | De novo, Luighi? Não é sobre futebol

O recente caso de racismo contra o jogador Luighi Hanri, do Palmeiras Sub-20, durante uma partida contra o Cerro Porteño pela Copa Libertadores da categoria, é mais uma prova de que o preconceito ainda está presente no futebol. Durante o jogo no Paraguai, um torcedor fez gestos de macaco para os jogadores brasileiros, levando Luighi às lágrimas. O atleta denunciou o caso ao árbitro e, depois, desabafou em suas redes sociais sobre a dor de sofrer racismo.

Infelizmente, esse não é um episódio isolado. Casos assim acontecem no futebol de vários países e também aqui no Brasil. Recentemente, Santa Catarina teve um caso marcante quando o atacante Celsinho, do Avaí, foi alvo de insultos racistas na final do Campeonato Catarinense de 2023. Em nível nacional, o jogador Vinícius Júnior já foi vítima de racismo tanto no Brasil quanto na Espanha, onde sofreu ataques seguidos nas arquibancadas. Clubes como Grêmio e Cruzeiro também já tiveram torcedores flagrados cometendo atos racistas.

A conivência também é um problema

Um dos maiores obstáculos para combater o racismo no futebol é a falta de punição aos clubes e a postura de muitos dirigentes, que, na imensa maioria, são brancos e evitam tratar o problema com a seriedade necessária. Muitas vezes, em vez de tomarem medidas firmes contra o preconceito dentro de suas próprias torcidas, preferem minimizar os casos ou tratá-los como incidentes isolados. Essa postura conivente só contribui para que os episódios se repitam.

No entanto, alguns clubes têm mostrado que é possível agir de forma diferente. O Bahia é um dos exemplos mais positivos nessa luta. Nos últimos anos, o clube adotou campanhas antirracistas, promoveu a diversidade dentro e fora de campo e não se calou diante de casos de discriminação. O compromisso do Bahia mostra que os clubes podem e devem ser exemplos de uma sociedade sem preconceitos. Se todos seguissem esse caminho, o futebol poderia ser um espaço verdadeiramente inclusivo.

O que pode ser feito?

Para acabar com o racismo no futebol e na sociedade, é preciso agir de duas formas: com educação e com punição. A educação é fundamental para ensinar desde cedo que todos devem ser respeitados, independentemente da cor da pele. Campanhas de conscientização dentro dos clubes e nas escolas podem ajudar a combater o preconceito.

Mas a educação sozinha não basta. Em casos graves, é preciso punições severas. Na Espanha, por exemplo, o governo e a LaLiga firmaram um acordo para punir torcedores e jogadores envolvidos em atos racistas. Já a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e alguns clubes têm adotado medidas para denunciar e afastar torcedores racistas dos estádios.

Além disso, a LaLiga e a Federação Espanhola de Futebol criaram um gesto oficial para os árbitros indicarem atos racistas durante os jogos, tornando mais rápido o combate ao preconceito. Medidas assim precisam ser aplicadas também no Brasil, garantindo que o racismo não seja tratado como algo normal ou sem consequências.

Não pode ser só mais um caso

Cada episódio de racismo no futebol deve ser levado a sério. Não pode ser apenas mais uma manchete que cai no esquecimento. O esporte tem o poder de unir pessoas e deve ser um espaço de respeito e igualdade. Para isso, é preciso que jogadores, clubes, torcedores e autoridades se mobilizem contra o racismo. A mudança começa agora, e ela depende de todos nós.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

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