Perguntas que intrigam

Fui para o interior, dias atrás, num velório em direção a Monte Alverne. Conheço bem esta região. Nasci em Quarta Linha Nova Alta. Acho que não fizemos o melhor roteiro, mas por apego às raízes, passamos pela terra natal, pelo Cerro do Baú para, enfim, chegarmos a Linha Araçá. Para quem não conhece, fica a poucos quilômetros da sede do terceiro distrito.

Fiquei constrangido. Andei por essas estradas cinquenta anos atrás. E é muito triste dizer que estejam hoje em piores condições do que em décadas passadas. Que fique claro, isso não é uma crítica a um ou outro governo municipal. Mas o nosso interior está órfão de uma política que contemple de forma mais efetiva a população resiliente que teima em ficar na colônia, produzindo e movimentando a economia.
Então vamos às perguntas: como se conseguiu pavimentar uma estrada de Santa Cruz a Monte Alverne – a ERS-418, Rodovia Arno Frantz – quase 30 quilômetros, com recursos municipais, por topografia severa e acidentada, e hoje, três décadas depois, moradores de localidades adjacentes ainda sacolejam e tropeçam em valas de estradas descuidadas?

Por que comunidades tradicionais – onde as pessoas vivem, ganham a vida produzindo, investem, se divertem, praticam esporte – ainda precisam sacudir a poeira ou mergulhar os pés no barro em dias de chuva porque não têm pelo menos suas sedes pavimentadas?

Pior que isso, como ainda não se solucionou os problemas em pontes danificadas pelas enxurradas do ano passado e que ainda dificultam a logística e mobilidade de comunidades do interior?

Temos problemas e não achamos solução. Sequer conseguimos delimitar divisas entre municípios. Os moradores de Linha Seival que o digam. É surreal, mas por preciosismos de alguma natureza jurídica ou legal, uma parcela da população ainda não sabe se pertence a Santa Cruz do Sul ou Venâncio Aires. É patético.

Assim como soa patético o silêncio nosso, das autoridades ambientais, de outros órgãos que têm por atribuição zelar pelos interesses públicos e comunitários, que permitiram ou autorizaram, seja lá o que aconteceu, o corte de uma das árvores mais bonitas de Santa Cruz do Sul, o flamboyant majestoso que enfeitava a cidade com suas flores na esquina da Borges de Medeiros com a Thomaz Flores. Mesmo que estivesse em área privada, não conseguimos fazer nada por ela, sequer implorar por uma revisão de projeto que, por certo, dará outras formas a essa esquina. Sem poesia!

Nós brigamos, com convicção, pela preservação de cada tipuana do Túnel Verde da Marechal Floriano. Mas não me conformo até hoje com o corte e eliminação de frondosas árvores no entroncamento da Gaspar Silveira Martins com a Juca Werlang. Lá está, no lugar de árvores que eram verdadeiros marcos da entrada da cidade, com suas flores amarelas e copas abundantes, uma muda de pata de vaca que se esforça para sobreviver ao verão escaldante. E que, não por culpa sua, mas de quem a plantou ali, nunca vai reconstituir aquele cenário urbano que nos era familiar e acolhia nossos visitantes vindos da Capital.

Não é tão difícil. No interior ou na cidade, que se respeite as pessoas. Elas querem viver com dignidade, se sentir acolhidas, poder se locomover, produzir e se divertir e, talvez o mais importante: ter a percepção de que alguém se preocupa com elas. É isso: as pessoas querem ser minimamente cuidadas para que possam zelar pelos seus bichinhos, pelas plantas do jardim, pela árvore na frente da casa. Pela vida em sua plenitude!

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