Famílias de vítimas reagem à suspensão de voos da Voepass

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EDUARDA ESTEVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Sete meses após o acidente, os familiares das vítimas da queda do avião da Voepass em Vinhedo (SP), que matou 62 pessoas no dia 9 de agosto de 2024, receberam a notícia da suspensão de voos da companhia aérea pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) com sentimento de alívio e revolta.

Operação da Voepass foi suspensa por falta de garantias de segurança. A jornalista Adriana Ibba, mãe de Liz Ibba dos Santos, de três anos, uma das 62 vítimas que estavam no voo, acordou ontem com a notícia da suspensão. “Confesso que senti raiva e tristeza. Teve que cair um avião e morrerem 62 pessoas para que a fiscalização começasse a ser feita de forma adequada e para que os olhos se voltassem ao manejo desses protocolos de fiscalizações. Mas senti alívio porque é a vida humana em jogo”, contou em entrevista ao UOL.

“Onde estava a fiscalização da Anac?”. Esse é o principal questionamento dos familiares das vítimas sete meses após o acidente. “E quando cai um avião com todas aquelas avarias que constavam nele, aquele avião que levou a minha filha, você se questiona: onde está a fiscalização? Mas eu senti um alívio nesse sentido, de que uma decisão foi tomada, mesmo sete meses após o acidente”, acrescentou Adriana. A pequena Liz estava no voo acompanhada do pai, Rafael Fernando dos Santos. Eles iriam para Florianópolis passar o Dia dos Pais.

Um misto de sentimentos. Bianca Faller, sobrinha de André Armindo Michel, também compartilha do sentimento de alívio e angústia. “E talvez uma raiva de tudo que aconteceu não deveria ter acontecido, mas também um alívio que medidas agora estão sendo tomadas para garantir e evitar que acidentes assim aconteçam e que outras famílias não sintam o que a gente está sentindo, que é uma dor muito grande”, disse.

“Hoje é um dia importante para os familiares e responde algumas das nossas dúvidas. Foi necessário o acidente e a perda dos nossos familiares para que essa medida fosse tomada, é um misto de sensações”, disse Bianca Faller, sobrinha da vítima André Armindo Michel.

Famílias criaram associação para acompanhar a investigação. Fátima Albuquerque, representante da associação dos familiares das vítimas do voo 2283, afirmou que as irregularidades em voos da Voepass já aconteciam. “Já tínhamos denunciado”. Ela disse esperar que a suspensão não seja cancelada. “É um alívio para que outras famílias não passem o que estamos passando hoje. É devastador e revoltante perceber que um avião que carrega milhares de pessoas não segue os padrões de segurança”.

“Nos sentimos um pouco aliviados, mas esperamos também que os responsáveis sejam devidamente apontados na esfera criminal, estamos confiantes no trabalho na Polícia Federal”, disse Fátima Albuquerque, mãe de Arianne Albuquerque Risso.

ANAC SUSPENDEU VOOS DA VOEPASS POR FALTA DE SEGURANÇA

A Anac suspendeu por falta de garantias de segurança todos os voos da Voepass. Isso significa que todos os voos da companhia aérea estão cancelados. A Anac concluiu que a companhia aérea demonstrou não atender “às condicionantes estabelecidas para a continuidade da operação dentro dos padrões de segurança exigidos”.

Quebra de confiança. “Ocorreu, assim, uma quebra de confiança em relação aos processos internos da empresa, devido a evidências de que os sistemas da Voepass perderam a capacidade de dar respostas à identificação e correção de riscos da operação aérea”, conclui o órgão regulador.

A Voepass conta atualmente com seis aeronaves. A operação inclui 15 localidades com voos comerciais e duas com contratos de fretamento. São 22 destinos e 56 rotas com voo direto, como Belo Horizonte-Porto Seguro. Antes do acidente, a Voepass era constantemente alvo de críticas dos passageiros, mas seguia operando com aval do órgão regulador.

“A Agência Nacional de Aviação Civil suspendeu, em caráter cautelar, a partir desta terça-feira, 11 de março, as operações aéreas da Voepass, formada pela Passaredo Transportes Aéreos e pela Map Linhas Aéreas. A suspensão vigorará até que se comprove a correção de não conformidades relacionadas aos sistemas de gestão da empresa previstos em regulamentos”, diz comunicado da ANAC.

O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, afirmou que a suspensão foi necessária. Segundo ele, a pasta vinha acompanhando de perto a situação.

Após ter sido notificada, a Voepass disse que sua frota é segura para voar. A companhia aérea declarou que colocará “todos seus esforços para retomar a operação o mais breve possível”. “Essa decisão tem um impacto imensurável para milhares de brasileiros que utilizam a aviação regional todos os dias e contam com seu serviço, por isso, [a Voepass] colocará todos seus esforços para retomar a operação o mais breve possível”.

ACIDENTE COM 62 MORTES EM 2024

Em 9 de agosto de 2024, um avião da empresa caiu em Vinhedo (SP), matando 62 pessoas. A aeronave havia decolado de Cascavel (PR). A fiscalização na empresa, a partir da tragédia, resultou na decisão tomada ontem. Os quatro tripulantes e seus 58 passageiros morreram após o impacto do avião bimotor contra o quintal de uma casa em Vinhedo.

Aeronave despencou 13 mil pés (4.000 metros) em dois minutos. O registro de voo do Flight Radar mostra que o avião estava a 17 mil pés de altitude às 13h20 e a 4.000 pés (1,22 km) às 13h22, quando o sinal de GPS foi perdido pela plataforma. O avião caiu cerca de 20 minutos antes de pousar e atingiu casas de condomínio residencial.

O piloto do avião, Danilo Santos Romano, comentou sobre uma falha no sistema antigelo da aeronave. A informação foi divulgada em relatório preliminar apresentado pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da FAB (Força Aérea Brasileira), no dia 6 de setembro. Porém, essa suposta falha ainda será apurada durante a investigação.

Todas as pessoas que estavam a bordo do ATR 72-500 morreram. A maioria das vítimas era de Cascavel, de onde saiu a aeronave.

Reconhecimento dos corpos ocorreu por análise das arcadas dentárias, DNA e coleta de impressões digitais. Todas as pessoas morreram devido ao impacto do avião com o solo. Com isso, mortes foram instantâneas por politraumatismo e, só depois, o avião explodiu. Apesar disso, corpos não foram completamente carbonizados.

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