Alimentação escolar impulsiona agricultura familiar

Nos últimos 10 anos, de 2015 a 2024, a agricultura familiar na Bahia já recebeu mais de R$ 4,2 bilhões em investimentos que vão desde a capacitação até maquinário. Dados do Censo Agropecuário de 2017, os mais recentes disponíveis, mostravam que a Bahia tinha 593.411 estabelecimentos de agricultura familiar, 15% do total do país.Oito anos depois, certamente este número já é bem maior, assim como a produção desses agricultores, que têm na alimentação escolar seu maior escoamento, mas já começam a se consolidar também como fornecedores para os mercados doméstico, nacional e até de outros países.O desenvolvimento da agricultura familiar na Bahia ganhou grande impulso a partir da criação, em 2015, da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), que teve como primeiro titular o atual governador, Jerônimo Rodrigues (PT).As políticas desenvolvidas na secretaria têm possibilitado a organização e fortalecimento de cooperativas. Chamadas e editais, aliados à assistência rural, levam investimentos e capacitação para o campo, expandindo e diversificando culturas em todos os territórios.Com a aquisição de maquinário, padronização de embalagens e estrutura logística, a produção, antes voltada apenas para compras públicas, começa a ganhar espaços nas prateleiras dos mercados.“A nossa gente planta e colhe frutas, verduras, legumes, mas hoje eles também produzem chocolates, sequilhos, cafés, cervejas, geleias e diversos outros produtos que já conseguimos, inclusive, exportar”, diz o atual secretário, o deputado estadual Osni Cardoso (PT).PNAENos últimos dois anos, o Governo Federal promoveu a recomposição de recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o que impulsionou ainda mais a agricultura familiar. Em apenas um desses editais, foram mais de R$ 50 milhões destinados a atender os territórios de Itabuna, Feira de Santana e Salvador.São 440 unidades escolares beneficiadas com produtos como: arroz, farinha, feijão, flocos de milho, aipim e polpas de frutas, alcançando quase 543 toneladas de alimentos ofertados nas escolas estaduais de 53 municípios relacionados aos territórios selecionados, através de parceria com Secretaria de Educação.“A chamada centralizada é mais uma forma de dar amplitude e de apoiar a agricultura familiar a partir da alimentação escolar. Com essa estratégia, foram investidos mais de R$ 50 milhões. Vale destacar que a gente já fez uma entrega superior a 2 milhões de quilos dos produtos que estavam na chamada, envolvendo ali mais de 20 empreendimentos e 3 mil famílias agricultoras. Isso é um resultado do trabalho com a base produtiva, com assistência técnica, com a mobilização e sensibilização também de estudantes, nutricionistas, gestores escolares, para que a gente possa trazer comida de verdade para a mesa da comunidade escolar e renda para o agricultor e agricultora familiar da Bahia”, comemora Osni Cardoso.VariedadeE não é só comida ‘in natura’ que faz parte do cardápio fornecido pelas cooperativas da agricultura familiar. Na Associação dos agricultores da comunidade da Sapucaia, em Santo Antônio de Jesus, recôncavo baiano, o aipim é o carro-chefe, mas a variedade de produtos é grande.A agroindústria instalada na associação produz diversos derivados da mandioca, desde broa de tapioca, a tapioca em si, bolos, sequilhos e o pão de aipim, que além de abastecer as escolas contempladas também é distribuído entre os agricultores cooperados.Por mês a associação processa uma tonelada de aipim e a meta é ampliar a produção para expandir a presença nos mercados locais. Para isso, os cooperados esperam os recursos para aquisição de um baú refrigerado para o transporte da mercadoria. A associação já conta com câmara fria e máquina seladora para embalar o aipim congelado.Em Ribeira do Pombal, a Cooperacaju reúne 700 cooperados e, há 20 anos produz frutas, verduras, ovos, entre outros itens. Mas, tudo começou com Caju e Castanha (favor não confundir com a dupla de repentistas).A comercialização ‘in natura’ ocorre uma vez por ano, de dezembro a janeiro, período da colheita do caju. Com o passar dos anos, a Cooperacaju buscou diversificar as culturas e passou a produzir polpas de manga, goiaba e acerola, além de investir na produção de tomate, cenoura e beterraba.

Diversificação garante trabalho e renda para os agricultores da Cooperacaju, em Ribeira do Pombal

|  Foto: Divulgação | Cooperacaju

A produção é distribuída para 17 municípios, com ênfase na alimentação escolar. Murilo Nunes é um dos gestores da cooperativa e conta que, apenas em 2024, a entidade forneceu mais de R$ 3 milhões em alimentos através do PNAE.O investimento permite alcançar uma escala de produção maior e o excedente é vendido para as escolas municipais. Mas, uma parte dos produtos hoje já é comercializada para São Paulo e Portugal. Segundo Murilo, ‘há mais facilidade de vender produtos para fora do que no mercado local’. Ele atribui isso a uma questão cultural.Segundo o gestor, os produtos da agricultura familiar, orgânicos e selecionados, têm valor agregado e muitas vezes o comércio local não está disposto a pagar um pouco mais caro por uma mercadoria sem a ‘grife’ de uma grande indústria.Fruticultura e tubérculos também são o forte da Cooperlad, cooperativa da Lagoa de Bento e eegião, em Tucano. São 147 cooperados e 1.500 não cooperados que participam do plantio e da colheita. As polpas de frutas e o polivalente aipim são comercializados via PNAE municipal (Euclides da Cunha e Tucano) e estadual (Tucano e Araci). A cooperativa também abastece o quartel do Exército de Paulo AfonsoFoi através de uma parceria com o Banco Mundial e o Governo do Estado que a Cooperlad começou a produção artesanal de polpas, em 2008, como conta o presidente, Cristóvão Roma. Com R$ 6 milhões de investimento, sendo R$ 4,5 milhões em maquinário e R$ 1,5 milhão em irrigação, a cooperativa se expandiu.Hoje produz polpas de caju, umbu, acerola, manga, goiaba e Cajá, tudo certificado pelo Ministério da Agricultura. Somente em 2024, a Cooperlad forneceu 30 toneladas de polpa através do PNAE estadual e hoje possui um estoque de 100 toneladas do produto, que tem marca registrada: ‘Caatinga’.Além de fornecer para escolas e o Exército, a Cooperlad já atende a rede hoteleira local e investiu R$ 60 mil na aquisição de 30 ‘freezers’. Com prospecção para produzir 75 toneladas de polpa por mês, a entidade hoje já emprega 80 trabalhadores entre diretos e indiretos.

Galpão da Unicafes, em Itapuã, reúne e distribui a produção de 83 cooperativas

|  Foto: Divulgação | Unicafes

EscoamentoUm dos principais desafios da agricultura familiar na conquista de novos mercados é a distribuição. Para isso, as cooperativas contam com a Unicafes (União das cooperativas da Bahia).Segundo Ícaro Rennê, presidente da entidade, que distribui os produtos de 83 cooperativas, a conquista das prateleiras dos mercados passa pela maior publicização das mercadorias oferecidas.Do centro de distribuição localizado em Itapuã saem as entregas para toda a Região Metropolitana de Salvador (RMS). Na Ceasa do Rio Vermelho, o Empório da Agricultura Familiar oferece os produtos da agricultura familiar e os clientes também podem degustar os produtos no restaurante que funciona no local.Rennê revela que a receita obtida pelas cooperativas junto a clientes do mercado está quase a igualando o faturamento obtido a partir do PNAE. Em 2024, foram R$ 50 milhões de faturamento proporcionado pela alimentação escolar, enquanto os mercados chegaram próximo dos R$ 40 milhões em compras.Para avançar ainda mais, o presidente aposta na qualidade para vencer a resistência com relação ao preço. “Qualidade é o diferencial. Mais caro é relativo, a nossa polpa de fruta é 100% fruta, outras marcas são só 30%, o resto é gelo”, compara Ícaro Rennê, que3 destaca ainda o flocão 100% não transgênico e café 100% puro, ‘sem casca e sem milho’.Esse ano, a Unicafes ampliou sua capacidade de distribuição, o que deve alavancar ainda mais as vendas para os mercados locais. Uma parceria inédita entre o Governo do Estado e os Correios foi firmada durante a Feira Baiana da Agricultura Familiar e Economia Solidária, em dezembro de 2024.Essa colaboração facilita o escoamento da produção e vai permitir que os produtos cheguem a todas as regiões do Brasil e até ao mercado internacional. A parceria também inclui coleta programada nas sedes das cooperativas, envio de amostras para feiras nacionais e internacionais e personalização da logística do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).Para quem ainda não conhece os produtos da agricultura familiar e deseja experimentar, os Correios também facilitam a entrega em domicílio e a Unicafes disponibiliza um catálogo (clique aqui) com os produtos das cooperativas associadas. 

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