Dólar oscila e Bolsa tem forte alta com investidores de olho em guerra comercial

dólar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar oscila entre os sinais nesta quinta-feira (13), com os investidores atentos à guerra de tarifas entre Estados Unidos, Canadá e União Europeia.

Da ponta macroeconômica, o foco está em dados norte-americanos de emprego e de inflação ao produtor.

Às 11h57, a moeda tinha leve variação positiva de 0,03%, cotada a R$ 5,810. Já a Bolsa tinha forte alta de 1,14%, a 125.283 pontos.

O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua em destaque nesta sessão.

Depois que as tarifas de importação de 25% sobre produtos de aço e alumínio entraram em vigor na quarta-feira, países afetados retaliaram. O Canadá, principal parceiro comercial dos Estados Unidos na categoria, disse que irá impor 29,8 bilhões de dólares canadenses (R$ 120,3 bi) em tarifas a partir desta quinta.

Já a União Europeia anunciou tarifas retaliatórias sobre 26 bilhões de euros (R$ 164,9 bi) em produtos norte-americanos a partir do próximo mês, como barcos, uísque e motocicletas Harley Davidson. Outras categorias também podem entrar no páreo.

O Brasil, segundo maior fornecedor de aço e alumínio dos EUA, deve optar pela via da “reciprocidade e do diálogo”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em publicação nas redes sociais.

“Reciprocidade e diálogo são princípios que devem nortear a relação entre países. O Brasil é, e vai continuar sendo, dos brasileiros”, escreveu Lula. Nada foi anunciado por enquanto, mas o Itamaraty, em nota, classificou a medida de Trump como “injustificável e equivocada” e disse avaliar a apresentação de um recurso à OMC (Organização Mundial do Comércio).

Trump, em resposta, subiu o tom. Nesta quinta, ameaçou aplicar uma taxa de 200% sobre vinhos e outros produtos alcoólicos provenientes da UE caso o bloco não retire a tarifa sobre o uísque.

“A União Europeia, uma das autoridades tributárias e tarifárias mais hostis e abusivas do mundo, que foi formada com o único propósito de tirar vantagem dos Estados Unidos, acaba de impor uma desagradável tarifa de 50% sobre o uísque”, escreveu Trump em sua rede social Truth Social.

“Se essa tarifa não for removida imediatamente, os EUA colocarão em breve uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos, champanhes e produtos alcoólicos provenientes da França e de outros países representados pela União Europeia. Isso será ótimo para os negócios de vinho e champanhe nos EUA.”

Ele, no entanto, disse continuar aberto a negociações e que tarifas mais altas não são do interesse de ninguém.

O tarifaço tem inspirado cautela nos mercados globais. “A retaliação dos países atingidos pelas tarifas de Trump adiciona mais risco geopolítico, o que, consequentemente, resulta em maior incerteza e aversão ao risco por parte dos investidores”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“Há um movimento defensivo em curso que se expressa pela queda dos mercados asiáticos, europeus e futuros americanos e que se espalha para o Brasil.”

A maior preocupação é que a guerra comercial escale e distorça cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos e de outras potências econômicas, como a Alemanha, há ainda temores de que o tarifaço provoque uma recessão.

Trump, em entrevista no domingo à Fox News, não descartou essa possibilidade. “Detesto fazer previsões como essas. Há um período de transição, porque o que estamos fazendo é muito grande. Estamos trazendo riqueza de volta para a América. Isso é algo grande, e sempre há períodos, leva um pouco de tempo”, disse.

Se o tarifaço aumentar o custo de vida dos norte-americanos, é possível que a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) contra a inflação sofra um revés e force a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.

Juros altos também inibem a atividade econômica, e dados fracos de emprego e confiança do consumidor têm levantado hipóteses de que riscos de recessão estão batendo à porta.

Divulgado nesta quinta, o número de pedidos de auxílio-desemprego caiu na semana passada. Mas analistas alertam que os cortes acentuados nos gastos do governo e a escalada das tensões comerciais podem ameaçar a estabilidade do mercado de trabalho.

Um outro relatório mostrou que os preços ao produtor dos EUA ficaram inalterados em fevereiro, em dado melhor que o esperado por economistas em pesquisa da Reuters.

Já na véspera, o CPI (índice de preços ao consumidor) avançou 0,2% em fevereiro, ante 0,5% em janeiro.

No acumulado de 12 meses, desacelerou para 2,8%, depois de marcar 3% no mês anterior.
Economistas consultados pela Reuters previam avanços de 0,3% na base mensal e de 2,9% na anual.

O Fed pausou o ciclo de cortes na taxa no início do ano, sob a justificativa de resiliência do mercado de trabalho e inflação ainda acima da meta de 2%. Na reunião da próxima semana, a expectativa é que os juros sejam mantidos novamente na faixa atual de 4,25% e 4,5%.

“Apesar de o Fed deixar claro que não toma decisões com base em leituras individuais, o resultado de fevereiro favorece as possibilidades de um ciclo de afrouxamento maior do que o esperado até poucas semanas atrás. Atualmente, existe probabilidade implícita de um próximo corte em junho. Ao mesmo tempo, o potencial inflacionário da guerra comercial seguirá no radar”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Já na ponta doméstica, o mercado segue de olho em ações do governo federal para reduzir os preços dos alimentos, com receios de que as medidas prometidas pelo Executivo possam ter impacto negativo nas contas públicas.

Além disso, está no radar o projeto da Lei Orçamentaria Anual para 2025. Na véspera, o governo federal pediu à CMO (Comissão Mista de Orçamento) o remanejamento de R$ 39,5 bilhões em despesas. Para acomodar novos gastos, a gestão propõe cortar despesas de diversos ministérios e fundos. Do programa Bolsa Família, a redução será de R$ 7,6 bilhões.

“Podemos ter mais contornos sobre o Orçamento de 2025 a ser votado na semana que vem. Há um certo receio dos agentes de mercado de que o governo tome medidas populistas diante da perda de popularidade do presidente Lula. É algo para se ter em mente”, comenta Matheus Spiess, da Empiricus Research.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.