Eu tenho saudades, mas não tenho pressa

Eu me perdi nos últimos dias. Esqueci a crônica, esqueci o brócolis cozinhando na panela elétrica e dormi amamentando. Esqueci o encontro que tinha marcado com uma amiga que mora a quilômetros de distância. Eu pisquei e o Matheus fez 10 meses. Eu estava grávida ontem. Eu nem postei ainda as fotos todas do ensaio que eu queria compartilhar e minha criança está quase completando 1 ano de vida. Eu sabia que ter outro filho seria maluco e exaustivo porque eu sei exatamente o tipo de maternidade que eu gosto de viver. O que eu não lembrava era quanta magia há em ver a vida pelos olhos de um bebê. Quanta saudade eu tinha de ter um bebê em casa.

E nessa loucura de pensar nas saudades e viver, de espectadora, a maternidade de tanta gente pela internet, eu percebi que apesar de muitas saudades, eu não tenho pressa. Quando eu descobri que estava grávida da Cecília tinha em casa um vinho que trouxe de Lisboa, moscatel, doce e delicioso. Decidimos esperar ela nascer pra tomar juntos. Guardei errado, amamentei por quase 3 anos e quando finalmente abri o vinho estava horrível. Nesse meio tempo eu vi muita gente próxima e das que eu acompanhava na internet pesquisando e falando sobre doses seguras de álcool. Amamente depois de x horas de ter tomado uma taça de vinho. Um golinho não faz mal…. meu médico liberou, o seu não?

Eu só conseguia pensar: calma, eu vou beber outra vez. Um copo não. Uma dúzia de caipirinhas geladas quando esse peito não for mais alimento. E aí eu esperei. O tempo passou. Voltei a beber. Eu gosto de um vinho, uma caipirinha, um drink gelado enquanto eu ouço um pagode, num sábado à tarde. Eu gosto muito, mas eu não me importo de esperar um pouco por isso. Cá estou outra vez, sem álcool desde setembro de 2023 e com o objetivo de amamentar pelo menos até maio de 2026.

Dessa vez, uma das coisas que mais me irritou na internet foi o avalanche de cursos disponíveis para ensinar o seu bebê a dormir sozinho, sem mamar, em três dias. Eu tô ali, rolando o feed, e de repente: faça seu bebê dormir sozinho e volte a ter noites de sono. Cara, sério. Privação de sono é foda. Tem dia que é só por Deus que me mantenho de pé, que trabalho e sigo a vida, mas deixar o bebê chorando não é uma opção. E não, eu não acredito em bebês independentes a não ser que isso seja natural, sem sofrimento. Eu amo ver meus bebês dormindo no peito, fazendo um carinho no meu rosto, me olhando como o ser humano mais importante desse planeta. E sendo mãe de uma menina de 9 anos, eu tenho uma certeza: vai passar. Logo logo tem um menino me pedindo pra dormir na casa da vovó e me deixando com um vale night de novo.

Nesta semana eu estava na natação com o Matheus e o professor jogou argolas para as crianças pegarem. Em um Déjà-vu eu vi Cecília ali, numa piscina, com pouco mais de um ano, gargalhando e pegando argolas. Eu tinha me esquecido como ela amava esses desafios da natação. Pisquei e ela cresceu. Meus sapatos estão apertados nela e nas fotos a gente já parece ter o mesmo tamanho.

Pintar o cabelo, sair sozinha, voltar a trabalhar presencialmente?

Estou quase de retorno para um regime híbrido de trabalho. É legal se arrumar, sair de casa ouvindo um som alto no carro, respirar sem um bebê te demandando 24 horas por dia? É! De novo, a minha resposta para mim mesma é: tenho saudade, mas não tenho pressa. Quero ser a pessoa que oferece os alimentos pela primeira vez, que sabe o motivo do roxo na perna e que identifica os primeiros sinais de um resfriado. Existe uma Catherine, antes da maternidade, que nunca mais será a mesma e de coração aliviado eu tenho uma certeza: dessa mulher eu não sinto saudades porque não há nada que eu ame mais no mundo que a benção desses dois seres humanos que me permitem sentir, verdadeiramente, a presença de DEUS.

Eu sei que não é assim pra todo mundo. Eu sei que cada pessoa tem sua própria lista de saudades. Terapia quase sempre é importante para se reconhecer, para entender o agora, pra repensar as prioridades. Eu só queria que a pressa não impedisse um monte de mães de viver o agora. Assim, mágico e rápido. De repente, você sentirá saudades de um bebê. Acredita em mim. Você vai esquecer das noites não dormidas.

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