Antes de mais nada, assista a este vídeo de 15 segundos, no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro diz que a torcida do Botafogo deve agradecer a ele (e não ao empresário John Textor), pelos títulos que o clube conquistou em 2024. As imagens são do podcast ‘Eixo Político’.
O debate sobre a criação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e sua autoria é fundamental para esclarecer até que ponto o ex-presidente Jair Bolsonaro pode reivindicar mérito pelo sucesso de clubes que aderiram ao modelo, como o Botafogo. Ao mesmo tempo, essa análise nos permite questionar se ele também assume responsabilidade pelos fracassos, como o caso do Vasco da Gama.
A SAF no Brasil foi instituída por meio da Lei 14.193/2021, cujo autor do projeto foi o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele propôs a ideia, articulou politicamente e trabalhou junto a juristas para viabilizar o modelo. O Congresso Nacional debateu e aprimorou a proposta antes de enviá-la ao Executivo para sanção.
Já a sanção presidencial, assinada por Jair Bolsonaro, é um ato formal. Na prática, ele poderia apenas aprovar ou vetar o projeto – mas não o criou, não estruturou suas diretrizes e nem conduziu as discussões jurídicas e políticas que viabilizaram o modelo. Ou seja, a participação de Bolsonaro foi passiva no processo legislativo.
Além disso, não é atribuição do Executivo criar leis como essa. O presidente da República pode sugerir políticas e até influenciar o debate público, mas a criação de uma lei depende do Congresso Nacional. O melhor exemplo disso é o que está acontecendo na Argentina, onde o presidente Javier Milei quer implementar uma lei semelhante à SAF brasileira, mas encontra forte resistência tanto do parlamento quanto da Federação Argentina de Futebol (AFA). Lá, o desejo do Executivo não é suficiente para tornar a SAF uma realidade, o que reforça que Bolsonaro não pode se autointitular responsável pela criação da lei no Brasil.
E o fracasso do Vasco?
Se Bolsonaro insiste que o sucesso do Botafogo na era SAF é mérito dele, então, pela mesma lógica, ele deveria assumir responsabilidade pelo desastre da SAF do Vasco.
O Vasco seguiu um caminho semelhante ao do Botafogo, vendendo 70% da SAF para a 777 Partners, mas a realidade foi completamente diferente. Enquanto o Botafogo montou um time competitivo e brigou por títulos, o Vasco sofreu com falta de investimentos, má gestão e problemas internos, resultando em uma luta contra o rebaixamento.
Se a SAF deu certo no Botafogo, foi por mérito da gestão de John Textor, do trabalho dentro de campo e da estruturação do clube. Da mesma forma, se deu errado no Vasco, foi por falhas da 777 Partners e da condução administrativa. Bolsonaro não tem qualquer influência direta sobre esses fatores. Ele não montou os elencos, não escolheu os investidores e não gerenciou os clubes.
O resto é conversa fiada.