A aeromoça que caiu do céu

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Por Gustavo Mariani*

Você já imaginou estar trabalhando a mais de 10 mil metros de altura, sofrer um acidente, despencar rumo ao chão, fraturar crânio, vértebras, pélvis, costelas, pernas, passar dez dias em coma e, depois, ser demitida do emprego?

Pois aconteceu: com Vesna Vulovic, única sobrevivente de um voo da Yugoslav Airlines que levava 28 passageiros (e tripulantes) e explodiu sobre montanha da antiga Tchecoseslováquia

Era o dia em 26 de janeiro de 1972 e Vesna, de 22 de idade, durante a explosão, ficou presa na parte de trás do avião pelo carrinho que as aeromoças servem comidas e bebidas. Contou com a sorte de a sua queda ter sido amortecida por árvores e neve, e um lenhador (Bruno Honke) de aldeia (de Srbská Kamenice) ouvir os gritos dela no escuro.

Nunca se explicou o que teria acontecido com avião (DC-9) iugoslavo. As caixas pretas jamais apareceram e ninguém foi preso, mesmo se dizendo que houvera sido atentado a bomba praticado por nacionalistas croatas, que teriam colocado explosivos no aparelho durante a escala em Copenhague, na Dinamarca.

Vesna ficou, temporariamente, paraplégica; Quando se recuperou, perdeu a vaga de aeromoça e foi lotada como balconista de check-in em aeroporto. Por ali, com Slobodan Milosevic (foto) reduzindo a autonomia dos territórios sob controle sérvio e desintegrando a Iugoslávia estava aberto o caminho para uma guerra civil. 

 Em 1990, Vesna Vulovic se cansou de ser apenas uma balconistas de empresa aérea. Se juntou a grupos descontentes com Milosevic e partiu para a militância política. Escapou de ser presa, mas foi demitida do emprego. Pelas duas décadas seguintes, seguiu lutando contra os nacionalistas croatas.  

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Quanto a Milosevic, que a fez perder o emprego, após presidir a Sévia (1989 a 1997) e a República Fedral da Iugoslávias (1997 a 2000), ao ser derrubado do poder, foi acuado, pelo Tribunal Penal Internacional, por crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio na Bósnia, Croácia e Kosovo. Preso e enviado para a Holanda (sede do tribunal), para ser julgado, passou cinco viradas de calendário atrás das grades da Prisão de Criminosos de Guerra, em Haia, e, por lá, o seu coração cruel parou de bater. De sua parte, Vesna durou até dezembro de 2016, quando vivia sozinha, em Belgrado (atual capital da Sérvia), na companhia de três gatos.

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