As tarifas de Trump e a cegueira política da extrema direita brasileira

Enquanto o governo de Donald Trump impõe tarifas que afetam diretamente a economia brasileira, setores da extrema direita no Brasil continuam a apoiar o ex-presidente norte-americano, ignorando os impactos negativos de suas políticas comerciais. A ironia é evidente: aqueles que se dizem defensores dos interesses nacionais fecham os olhos para medidas que prejudicam o país, tudo em nome de uma afinidade ideológica que beira o fanatismo.

A recente decisão de Trump de impor tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio, que entrou em vigor no dia 12 de março, é apenas a ponta do iceberg de uma política comercial agressiva que já está cobrando seu preço do Brasil.

“Hoje estou simplificando nossas tarifas sobre aço e alumínio”, declarou Trump ao anunciar a medida. “É 25% sem exceções ou isenções.” A decisão, que afeta diretamente o setor industrial brasileiro, foi classificada pelo governo brasileiro como “injustificável e equivocada”. No entanto, para a extrema direita brasileira, alinhada ideologicamente com Trump e seu ex-aliado Jair Bolsonaro, essas tarifas parecem ser um detalhe insignificante.

O apoio incondicional a Trump por parte de setores do agronegócio e da indústria brasileira é particularmente paradoxal. O governo brasileiro está considerando cortar impostos de importação de etanol em uma tentativa de apaziguar Trump, após o ex-presidente criticar a disparidade nas tarifas entre os dois países. “A tarifa dos EUA sobre o etanol é de meros 2,5%. No entanto, o Brasil cobra das exportações de etanol dos EUA uma tarifa de 18%”, afirmou Trump. Como resultado, os EUA importaram mais de U$200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas U$52 milhões para o mercado brasileiro.

Essa disparidade comercial foi agravada pelas políticas protecionistas de Trump, que priorizam os interesses norte-americanos em detrimento dos parceiros comerciais. No entanto, a extrema direita brasileira, que se orgulha de sua suposta defesa dos interesses nacionais, parece mais interessada em cultivar uma imagem de alinhamento ideológico com Trump do que em proteger a economia do país.

A admiração por Trump no Brasil não é nova. Durante o governo Bolsonaro, o ex-presidente brasileiro adotou um discurso e uma postura que ecoavam o trumpismo, incluindo ataques à imprensa, negação da ciência e uma retórica agressiva contra minorias. Essa afinidade ideológica, no entanto, não se traduziu em benefícios concretos para o Brasil. Pelo contrário, as políticas comerciais de Trump, como as tarifas sobre aço e alumínio, prejudicam setores estratégicos da economia brasileira.

O paradoxo é ainda mais evidente quando se considera o impacto dessas tarifas no agronegócio, um dos pilares da economia brasileira e um dos setores que mais apoiaram Bolsonaro. Ao impor barreiras comerciais, Trump não apenas dificulta o acesso do Brasil ao mercado norte-americano, mas também sinaliza uma postura hostil que pode se estender a outros produtos, como automóveis, produtos farmacêuticos e chips de computador. “É hora de nossas grandes indústrias voltarem para os Estados Unidos… Esta é apenas a primeira de muitas medidas”, afirmou Trump, deixando claro que suas políticas visam proteger os interesses dos EUA, mesmo que isso signifique prejudicar aliados comerciais.

O alinhamento ideológico com Trump também reflete uma visão distorcida da política internacional. Durante o governo Bush, a América Latina viveu um período de resistência e autonomia, com líderes como Lula, Chávez e Kirchner desafiando a hegemonia dos EUA e buscando construir uma agenda regional independente. No entanto, a ascensão da nova direita na América Latina, inspirada pelo trumpismo, representa uma ruptura com essa tradição. Líderes como Jair Bolsonaro, Javier Milei e Nayib Bukele adotaram uma postura de submissão aos interesses norte-americanos, muitas vezes em detrimento de suas próprias economias e populações.

Enquanto o Brasil enfrenta os impactos das tarifas de Trump e a extrema direita continua a ignorar os custos reais desse alinhamento, é importante questionar até quando essa postura será sustentável. A economia brasileira não pode se dar ao luxo de ser refém de uma afinidade ideológica que beneficia apenas os interesses dos EUA. É hora de repensar essa relação e buscar uma política externa que priorize os interesses nacionais, em vez de seguir cegamente um modelo que já mostrou seus limites.

Leia também:

Veja quem são os ministros do STF que irão julgar a denúncia da PGR contra Bolsonaro 

Dia mundial para conscientização sobre a Covid Longa: Goiás se prepara para atender pacientes com sintomas prolongados da doença

O post As tarifas de Trump e a cegueira política da extrema direita brasileira apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.