‘Faraônico’, projeto do teleférico do Subúrbio é alvo de críticas

Previsto para ficar pronto em 2028, o teleférico do Subúrbio surge como aposta da Prefeitura de Salvador para a mobilidade urbana. O projeto com status faraônico, entretanto, tem despertado um debate sobre sua real necessidade, visto que a gestão, até o momento, não apresentou justificativas.”Inicialmente serão instaladas 89 cabines, com capacidade para 12 passageiros cada, estimando-se uma capacidade de transporte de 60 mil passageiros por dia. Posteriormente serão instaladas mais 67 cabines, ampliando a capacidade para 105 mil passageiros por dia”, indica o plano de governo da atual gestão, ao falar sobre o projeto.Em conversas reservadas com o Portal A TARDE, membros da oposição afirmam que a Prefeitura tenta emplacar o modal sem qualquer discussão ou explicação. Para Silvio Hunberto (PSB), em contato, a administração parece tentar criar uma competição com o governo do Estado. “Estamos, mais uma vez, sem conhecer as justificativas do Executivo para a contração de um financiamento dessa magnitude. A percepção que tenho é a de existe uma espécie de competição da Prefeitura para com o governo do Estado, que anunciou a implementação do VLT do Suburbio, e então surge do município a “necessidade” de fazer uma grande obra, quase como um marco faraônico. Além disso, em 2023, indicaram a intenção de construir um túnel ligando a região do Comércio ao Campo da Pólvora. No entanto, o projeto não avançou devido ao elevado custo e as muitas críticas que fizemos pela falta de discussão. Tudo isso levanta questionamentos sobre a existência de um planejamento urbano efetivo, pois, em alguns casos, as decisões parecem ser tomadas por tentativa e erro, sem uma estratégia integrada para uma cidade com mais de três milhões de habitantes”, explicou Silvio ao Portal A TARDE.O parlamentar ainda disse que não é possível afirmar a real necessidade do modal, já que a Prefeitura não apresentou, até o momento, os estudos realizados. Para o teleférico, Salvador adquiriu um financiamento de R$ 728 no Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).”Não é possível afirmar com certeza se essa obra representa, de fato, uma prioridade para a população da região. Para uma avaliação mais precisa, seria necessário o acesso a estudos que apontem se a principal questão em debate é realmente financeira. Se o município possui capacidade de endividamento e pagamento, pode-se contrair empréstimos para diversas finalidades. Entretanto, o essencial é verificar se esse projeto está alinhado às reais necessidades da população local”, disparou o vereador, que continuou.”A estimativa é de que 23 mil pessoas utilizem essa infraestrutura diariamente. No entanto, é fundamental avaliar qual será o custo dessa obra após sua conclusão, prevista para 2028. Há diversas variáveis a serem consideradas, e a capacidade financeira da prefeitura para honrar os compromissos não deve ser o único critério analisado”, reforçou o parlamentar.Silvio Humberto ainda alertou para uma outra questão. Com previsão de ligar a região de Praia Grande à Campinas de Pirajá em menos de 20 minutos, o teleférico pode começar a sair do papel antes mesmo da revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), que deveria ser entregue pelo Executivo ao Legislativo em 2024, mas segue sem qualquer definição.”O ponto central é a definição de prioridades. Esse tema poderia ter sido amplamente debatido no âmbito do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), inserindo a mobilidade urbana em uma abordagem mais integrada e considerando as demaisintervenções realizadas tanto pelo Estado quanto pelo município”, destacou o vereador soteropolitano, que completou.”Dessa forma, há a impressão de que o projeto pode não ser totalmente fundamentado, parecendo, em certa medida, um blefe. A população de Salvador merece mais: necessita de ações planejadas, estruturadas e sistêmicas, que garantam melhorias concretas na mobilidade urbana. Atualmente, a infraestrutura da cidade está aquém das reais necessidades da população”, destacou.O plano de governo apresentado pela gestão cita o teleférico no eixo mobilidade urbana com a promessa de pôr fim ao que é chamado de “isolamento” dos moradores da região, sem apresentar números exatos ou dados mais robustos.”O principal resultado desse investimento será o fim do isolamento geográfico das cerca de 30 mil pessoas residentes na Bacia do Rio Mané Dendê. O benefício estende-se ainda aos mais de 28 mil moradores de Pirajá, na Cidade Alta. Indiretamente, todo o Subúrbio, com 260 mil habitantes, será beneficiado por esse sistema que reduz o tempo do ir e vir, aproximando a moradia dos polos de emprego do Centro Histórico e do Centro Moderno, na região da Av. Tancredo Neves”, diz trecho do plano de governo.
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