França sedia cúpula de nutrição em meio a escassez de financiamento após cortes da ajuda externa dos EUA

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PATRÍCIA CAMPOS MELLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Em meio à escassez global de recursos humanitários por causa do corte da ajuda externa dos Estados Unidos e da alta de gastos militares em decorrência da guerra da Ucrânia, a França sediará a cúpula Nutrição para o Crescimento (Nutrition for Growth, N4G), com a meta ambiciosa de aumentar a segurança nutricional no mundo.

Na última cúpula, realizada no Japão, em 2021, países participantes se comprometeram a destinar US$ 27 bilhões para combater a desnutrição, a obesidade e outros problemas decorrentes da má nutrição.

Desta vez, com o corte no financiamento para desenvolvimento do governo Trump, os organizadores não esperam levantar a mesma quantia de recursos. Mas acreditam que bancos públicos regionais e de desenvolvimento podem cobrir parte da lacuna. E, mais do que isso, apostam em soluções simples, implementadas por cada um dos países, para combater a má nutrição.

“Não basta ter segurança alimentar, que é o combate à fome. É preciso garantir a segurança nutricional, que implica ter uma alimentação de qualidade, uma dieta diversificada”, diz Brieuc Pont, enviado especial da França para nutrição e secretário-geral da cúpula, que se realiza nos dias 27 e 28 de março em Paris.

A má nutrição é a causa subjacente de quase metade das mortes das crianças com menos de cinco anos, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde ). “Investimento em nutrição tem um enorme retorno, com impactos no aprendizado, na resiliência contra mudanças climáticas, redução da pobreza”, diz o secretário-geral da cúpula.

Instalação de máquinas do tipo “vending machines”, que vendem frutas nas escolas, incorporação da disciplina nutrição no currículo escolar, participação das crianças na elaboração da merenda, restrição a alimentos ultraprocessados no cardápio infantil -essas são algumas das medidas sendo adotadas por países para combater a má nutrição.

Segundo Pont, o Brasil é pioneiro em programas de combate a má nutrição. O governo brasileiro estabeleceu limite de 15% de alimentos processados e ultraprocessados no cardápio das escolas públicas em 2025; 30% dos recursos do PNAE (programa nacional de alimentação escolar) são destinados a comprar produtos de agricultura familiar e os vegetais orgânicos recebem um pagamento extra.

Um dos objetivos da cúpula é disseminar políticas públicas como essas, já testadas e com eficiência comprovada em determinados países.

Entre elas está também os bancos de leite materno brasileiros. Uma criança amamentada ganha 15 pontos de QI a mais, em média, em comparação aos bebês que tomam leite em pó.

“É importante que cada país estabeleça seus compromissos de higiene alimentar”, diz Pont.

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula do G20 no ano passado, tem uma parceria com a Nutrição para o Crescimento para buscar compromissos financeiros e metas de nutrição.

No mundo, existem 45 milhões de crianças que estão em subnutrição aguda e 150 milhões sofrem de subnutrição crônica -têm tamanho menor do que a média para a idade e atraso intelectual.

Para eliminar a subnutrição globalmente, seria necessário um investimento anual de US$ 13 bilhões entre 2025 até 2034, segundo estudo do Banco Mundial.

No entanto, a assistência ao desenvolvimento para a nutrição desde 2020 está estacionada em cerca de US$ 1,6 bilhão por ano.

Ainda segundo o Banco Mundial, esse investimento pode evitar 6,2 milhões de mortes de crianças menores de 5 anos e 980 mil natimortos, além de salvar crianças das consequências da desnutrição em diferentes formas, incluindo a prevenção de 27 milhões de casos de déficit de estatura.

“Não adianta imaginar que vamos conseguir implementar políticas de desenvolvimento mais ambiciosas se temos uma população que não consegue aprender na escola porque não tem boa nutrição”, diz Pont.

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