Aumento de doenças respiratórias lota hospitais e dificulta atendimento infantil no DF

7.2. sazonalidade pediatrica. foto alberto ruy igesdf2 1536x1024

O aumento dos casos de bronquiolite e outras doenças respiratórias tem sobrecarregado as unidades de saúde do Distrito Federal, deixando pais aflitos na busca por atendimento médico para seus filhos. A superlotação nos hospitais e unidades básicas de saúde tem gerado longas esperas e, em alguns casos, impossibilitado a consulta de crianças com sintomas graves.

Pamela de Alcântara Melo Bentes, 29 anos, moradora do Guará, enfrentou dificuldades para conseguir atendimento para o filho Luiz Gustavo, um bebê de sete meses diagnosticado com bronquiolite. Ela tentou atendimento na Unidade Básica de Saúde da região, mas a consulta não foi realizada.

“Nós fomos na consulta, que coincidiu de ser na mesma semana em que ele adoeceu. Mas, chegando lá, disseram que a consulta foi marcada errada e não houve atendimento, mesmo eu informando que ele estava com bronquiolite. Disseram apenas que, caso ele piorasse, era para retornar para o acolhimento”, relata.

Mesmo com sintomas como febre, chiado no peito e dificuldades respiratórias, Pamela não conseguiu um atendimento imediato e precisou recorrer à rede privada. “Se a gente vai para o acolhimento na rede pública, é a mesma coisa de nada. Você fica lá horas na fila e, com esse surto de bronquiolite, está muito difícil conseguir atendimento”, desabafa.

A situação também tem afetado outras famílias do DF. Eloísa Vilela, 19 anos, moradora do Recanto das Emas, tenta desde sexta-feira atendimento para a filha Lediane Rodrigues, de um ano e sete meses. A criança apresenta tosse intensa e queda na saturação, mas ainda não conseguiu ser avaliada por um médico.

“Ela começou com essa tosse na sexta-feira e, desde então, estou atrás do hospital, mas não consigo atendimento. Já passei por quatro unidades de saúde e em nenhuma delas ela foi atendida”, conta Eloísa.

A justificativa nas unidades de saúde é de que apenas casos classificados como prioridade máxima, com pulseira vermelha ou laranja, recebem atendimento imediato. Casos menos graves podem esperar por tempo indeterminado.

“Eles dizem que está tudo lotado e mandam procurar outra unidade. Mas quando chegamos no outro hospital, dizem a mesma coisa e mandam voltar”, lamenta a mãe, que já percorreu a UPA do Recanto das Emas, o Hospital de Samambaia, um posto de saúde do Gama e o Hospital Regional de Santa Maria.

A falta de atendimento também afeta Lúcia Caroline, de 25 anos, moradora de Santa Maria. Há uma semana, ela tenta atendimento para a filha Isis Maria, de 2 anos, que apresenta febre alta, vômito, diarreia e dificuldade para respirar. Mesmo após três dias consecutivos no Hospital Regional de Santa Maria, a criança ainda não foi avaliada.

“Cheguei hoje às 7 horas da manhã e até agora, nada. Ela teve 38,9°C de febre durante a madrugada, está vomitando e com falta de ar. Mas quando cheguei aqui, só disseram que está superlotado e que era melhor eu procurar outro lugar, porque não tem previsão para atender pacientes com pulseira amarela”, relata.

Sem alternativas, muitas famílias recorrem ao atendimento particular, mas o custo elevado dificulta essa opção. “Uma consulta particular é muito cara. Fico desesperada, sem saber o que fazer”, desabafa Pamela.

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou que, entre janeiro e março de 2024, foram registrados 1.532 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), considerando as semanas epidemiológicas 1 a 13. Apenas entre as semanas 1 e 6 daquele ano, houve 367 casos.
Em 2025, o número de ocorrências já é maior que no mesmo período. Entre as semanas epidemiológicas 1 e 6, foram registrados 464 casos de SRAG, sendo 320 deles em crianças de 0 a 10 anos, o que representa 69% do total.

Além disso, a SES-DF destacou que, em 2025, foram realizados 1.786 atendimentos de síndromes gripais nos hospitais da rede pública. Até 22 de fevereiro deste ano, 675 casos de SRAG foram notificados, sendo 3% causados pelo vírus Influenza, 10% pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), 12% pelo SARS-CoV-2, 14% pelo Rinovírus e 50% sem especificação.

Os casos de SRAG em crianças de 0 a 10 anos correspondem a 68% das notificações, sendo os principais responsáveis os vírus Rinovírus e VSR.

As doenças respiratórias, historicamente mais comuns no outono e inverno, passaram a se manifestar com maior frequência em todas as estações desde a pandemia de Covid-19. O pneumologista Gilmar Alves Zonzin explica que essa mudança se deve à ampliação da dispersão dos vírus respiratórios, que são transmitidos pelo contato direto entre pessoas e pela presença de partículas virais suspensas no ar ou depositadas em superfícies.

“A transmissão ocorre quando uma pessoa infectada, mesmo antes de manifestar sintomas, fala, tosse ou espirra, liberando gotículas contendo o vírus. Essas partículas podem ser inaladas ou entrar no organismo pelo contato com mucosas, quando levamos as mãos contaminadas ao rosto”, afirma o especialista.

Nos meses mais frios, há um aumento das aglomerações em ambientes fechados, o que favorece a disseminação dos vírus. No entanto, o médico destaca que, mesmo fora do período sazonal, a circulação dos agentes infecciosos tem se mantido elevada. Como resultado, houve um crescimento dos casos de síndrome respiratória aguda grave, cujos principais agentes causadores são o vírus influenza, o vírus sincicial respiratório, o coronavírus e o rinovírus.

Além disso, infecções virais podem facilitar o desenvolvimento de complicações bacterianas secundárias, como bronquites e pneumonias. Bebês com menos de dois anos são especialmente vulneráveis, pois ainda não possuem o sistema imunológico completamente desenvolvido. “Nesta faixa etária, é comum a ocorrência de bronquiolite causada pelo vírus sincicial respiratório, além de quadros mais severos de influenza e infecções por adenovírus e rinovírus”, explica Zonzin.

Os idosos e pessoas com doenças crônicas também estão no grupo de risco. Indivíduos com insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), diabetes, insuficiência renal ou enfermidades neurológicas apresentam maior propensão a desenvolver complicações, como pneumonia viral e infecções bacterianas secundárias.

Para reduzir o risco de contaminação, o especialista reforça a importância de medidas preventivas já amplamente disseminadas durante a pandemia. “Evitar aglomerações, higienizar as mãos com água e sabão ou álcool 70%, e evitar levar as mãos ao rosto são atitudes essenciais. Em locais fechados com muitas pessoas, o uso de máscaras pode ajudar”, recomenda.

Além disso, manter um estilo de vida saudável é fundamental para fortalecer o sistema imunológico. Alimentação equilibrada, hidratação adequada, sono de qualidade e prática regular de atividade física são fatores que contribuem para a resistência do organismo. “Quem tem doenças crônicas deve seguir corretamente o tratamento médico, pois isso reduz o risco de complicações graves caso ocorra uma infecção respiratória”, conclui o pneumologista.

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