Após dois assassinatos, cacique pataxó teme mais mortes de indígenas na Bahia

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Por Caio Aquino e Esther Santos
Agência de Notícias CEUB

Dois assassinatos de indígenas do povo pataxó no Sul da Bahia elevaram a tensão em aldeias que estão em territórios que não são demarcados pelo poder público.

A polícia investiga quem estaria por trás das mortes de Vitor Braz, de 53 anos, na comunidade da Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal, no município de Prado (BA), no dia 10, e de Célio Neves Santana, de 33 anos, em Porto Seguro, no dia 16. Outro indígena no Prado também foi baleado e está internado.

O Cacique Naô Xohã Pataxó, em entrevista à Agência Ceub, diz que as comunidades estão preocupadas e com medo. Para ele, a situação precisa ser controlada com urgência.

“A justiça tem que ser feita, queremos saber quem matou. Do jeito em que a situação se encontra, vai acabar morrendo mais indígena”, disse o cacique.

Falta demarcação

A comunidade indígena Tupinambá de Olivença também tem lutado na justiça para ter o território demarcado.

O Cacique Sussuarana Morubixaba, da tribo Tupinambá de Olivença, lamentou a reincidência dos ataques criminosos. Ele acredita que os crimes são motivados por conflitos de terra em relação aos fazendeiros e há alguns policiais envolvidos.

Segundo as lideranças indígenas, com a demora da demarcação das terras indígenas, a atividade da mineração tem aumentado ao decorrer dos dias, juntamente com as construções de empreendimentos, as invasões dos territórios indígenas, e principalmente, os assassinatos de indígenas. 

“A população indígena está com medo e receosa porque não sabemos quem mais pode ser assassinado por conta dessa situação”, afirmou o cacique à Agência Ceub.

Indígenas estavam em Brasília

Na semana do dia 10 de março, 300 indígenas dos povos Pataxó e Tupinambá, da Bahia, se dirigiram a Brasília para terem suas vozes ouvidas em uma audiência pública, que ocorreu em uma terça-feira, 11, proposta pelo Ministério Público.

Nesta audiência, seria discutida, com o Ministério dos Povos Indígenas, a FUNAI e a Secretaria da Presidência, a demarcação dos territórios, visando um fim aos conflitos e assassinatos na região.No dia seguinte, enquanto ocorria a audiência pública, uma casa na aldeia Monte Dourado, do povo Pataxó, foi incendiada por pessoas não identificadas, segundo o Conselho Indigenista Missionário. Na ocasião, nenhum indígena foi ferido e o fogo controlado. 

“Aguardar”

Durante o terror vivido, as lideranças indígenas foram  informadas que era necessário aguardar a tese do marco temporal e a câmara de conciliação para que o governo pudesse tomar uma decisão quanto a demarcação das terras e, o processo teria ficado estagnado devido à lei 14.701.

A fim da audiência, os povos em Brasília se dirigiram às ruas, em frente ao STF, julgando a lei 14.701 como inconstitucional, denunciando ao mundo o genocídio que vem ocorrendo no território baiano, e exigindo a demarcação de suas terras.

Diante das violências, o governo da Bahia criou um grupo de trabalho para tratar dos conflitos agrários na região do extremo sul da Bahia.

O anúncio foi realizado pelos secretários de Relações Institucionais (Serin) Adolpho Loyola e da Segurança Pública (SSP) Marcelo Werner durante agenda em Teixeira de Freitas. Operações policiais em busca dos responsáveis pelas mortes dos indígenas ainda não conseguiram capturar os envolvidos.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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