BNDES lança edital para arquitetos negros idealizarem Distrito Cultural da Pequena África

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Concurso premiará propostas de intervenções urbanísticas na região, localizada na zona portuária do RioProjetos podem abranger desde soluções arquitetônicas e estratégias de mobilidade até ações culturais, educativas e narrativas tecnológicas.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou nesta sexta-feira, 21, Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, no Rio, o edital do Concurso BNDES Pequena África. A iniciativa faz parte do projeto de estruturação do Distrito Cultural Pequena África, coordenado pelo Consórcio Valongo Patrimônio Vivo, e tem como objetivo reunir propostas de intervenções urbanísticas para a região, elaboradas por equipes que tenham na liderança um arquiteto e/ou urbanista negro.

Participaram do evento as ministras da Igualdade Racial, Anielle Franco, da Cultura, Margareth Menezes, e dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo e a diretora de Pessoas do BNDES, Helena Tenório.

Também estiveram presentes a deputada federal Benedita da Silva e os presidentes da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues dos Santos, e da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, entre outras autoridades.

Localizada na zona portuária do Rio, a Pequena África é reconhecida por sua relevância histórica e cultural na construção da identidade negra no Brasil. O concurso busca soluções inovadoras para fortalecer o território, promovendo melhorias urbanísticas e integrando marcos de grande relevância patrimonial, econômica e identitária.

“A gente pode hoje concretizar mais um passo, para além de memória, de reparação, de pensar nesses territórios. A nossa construção, a nossa revolução, a nossa existência nesses espaços se dá por uma luta coletiva”, afirmou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

“Quando se pensa em desenvolvimento, o BNDES está cumprindo o seu papel quando olha para essa parcela significativa da população brasileira, o povo negro, que durante tantos anos esteve marginalizado do olhar das instituições. Esta iniciativa é importante na construção e no resgate da memória e verdade sobre a escravização neste país, refirmando a importância da reparação, para que isso nunca mais se repita. Tudo isso é fortalecer nossa democracia”, afirmou a ministra dos Direitos Humanos e Igualdade Social, Macaé Evaristo.

“Fortalecer a Pequena África é resgatar uma parte fundamental da nossa história, que precisa ser valorizada e não mais apagada, como foi por décadas”, ressaltou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. “O Brasil tem uma dívida histórica com a população negra, que foi arrancada escravizada, torturada e trazida à força ao país em condições degradantes. O Cais do Valongo, na região da Pequena África, foi o maior porto de chegada de africanos escravizados no mundo. É uma história que precisa ser lembrada, para que jamais se repita”.

“Para elaborar o concurso, foi feita uma grande escuta na região, com mais de 150 horas de oficinas e uma grande pesquisa de opinião, entrevistando mais de 600 pessoas. Todo esse material precisa ser levado em consideração pelos arquitetos e urbanistas para propor soluções para a Pequena África. O BNDES assim espera ajudar a transformação e a potencialização dessa região que já é uma das mais visitadas do Rio de Janeiro”, explicou a diretora de Pessoas do Banco, Helena Tenório, que representou o presidente Aloizio Mercadante, no evento.

O concurso – As propostas para a Pequena África podem abranger desde soluções arquitetônicas e estratégias de mobilidade até ações culturais, educativas e narrativas tecnológicas, sempre com foco na valorização do patrimônio, no estímulo à economia criativa e na ampliação do acesso à cultura. Conforme descrito no edital, as propostas devem contribuir para a criação de um ambiente urbano integrado e funcional.

Entre os eixos previstos, estão a criação de soluções de comunicação visual, mobiliário urbano e outras intervenções de pequeno porte, que dialoguem com a identidade local e consolidem a região como espaço de referência cultural e social. A iniciativa pretende fortalecer a narrativa da Pequena África como museu de território, conectando passado e presente para projetar um afrofuturo enraizado no território.

O edital estimula a formação de equipes multidisciplinares, permitindo a participação de profissionais de diversas áreas, como arqueologia, comunicação visual, educação, design e história. As inscrições estarão abertas até as 23h59 do dia 15 de maio para propostas individuais ou coletivas, desde que estejam conectadas com a realidade e a cultura local.

O projeto classificado em primeiro lugar receberá premiação de R$ 78 mil. O segundo colocado será agraciado com um prêmio de R$ 39 mil. Ao terceiro, caberá uma quantia de R$ 13 mil.

Segundo o assessor da presidência e coordenador da Iniciativa Valongo do BNDES, Marcos Motta, o presidente Mercadante colocou o Banco para ajudar a viabilizar uma solução para o compromisso do Brasil com a UNESCO, pois enxerga o Cais do Valongo como algo muito maior do que a restauração de um patrimônio. “Temos a chance de transformar a Pequena África por meio de requalificação urbana, novos equipamentos e estruturação financeira, dando forma a um verdadeiro museu a céu aberto, que pode ser um motor cultural e econômico daquela região. Este concurso é o primeiro passo para essa mudança, colocando a Pequena África no lugar de destaque que sempre mereceu”, afirmou Motta.

Para o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, o BNDES tem hoje um papel fundamental na democracia brasileira, em um país em disputa e construção: “O afroturismo hoje é uma realidade. O Brasil nunca recebeu tanto turista internacional como hoje: em janeiro e fevereiro, a gente recebeu 2,8 milhões de turistas internacionais em dois meses. A gente não pode ter um Brasil para o turista e outro Brasil para os brasileiros, é um Brasil só que tem que ser construído para todo mundo”.

“Todo o ethos da alegria carioca nasce no Valongo. Essa contribuição, não só para a cidade, mas para todo o Brasil é imensurável. E o projeto joga luz sobre essas características tão fortes que formam a sociedade brasileira: como somos, do que gostamos e como nós mostramos ao mundo”, disse Valeria Bechara, representante do consórcio Valongo Patrimônio Vivo.

O consórcio – O Consórcio Valongo Patrimônio Vivo, responsável pela estruturação do concurso, é liderado pelo escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados e reúne as empresas Avenida Comunicação, MKR Consultoria, Urbit, Vallya Advisors Assessoria Financeira, Pires Advogados & Consultores e Caio Buarque Advogados. Além do concurso, o consórcio também atua na concepção de até seis novos equipamentos culturais ou de fomento econômico para a região, em resposta às demandas identificadas em consultas à comunidade.

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