Tacanho e anacrônico

Anacrônico é o mínimo a ser dito sobre o chiste inusitadamente verbalizado por autoridade do poder judiciário, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, aludindo a suposta cadência desacelerada atribuída ao comportamento dos baianos.Já não se faz mais este tipo de “gracinha” em relação a gentílicos e grupos sociais, cabendo ao magistrado receber a carga pesada de reclamações, a começar pelo governador do Estado, Jerônimo Rodrigues.Houve época na qual era possível suportar aleivosias de perfil generalizado, desqualificando-se etnias e nações pelo suposto grau de avareza, malícia, dedicação excessiva ao trabalho e até orientação sexual já rendeu risos em resenhas animadas.O desenvolvimento ético, no entanto, produziu um pudor bem resolvido na expressão “politicamente correto”, portanto, há décadas já se sabe da inconsistência dos gracejos, tendo como agravante o fato de partir de figura de alta proa de instituição da República.A figura de metáfora saiu espontaneamente da boca impura do indigitado em sessão virtual, ao enunciar, sem nenhum remorso: “Dizem que o baiano é tão ágil, tão ágil, que quando joga basquete e arremessa a bola sexta-feira só cai na cesta no sábado”.A frase teria a intenção de tratar com bom humor a contusão de um colega de corte, cearense de Fortaleza, ao praticar o esporte, no entanto, o efeito gerou repúdio, não apenas dos baianos, mas de todos e todas quantas combatem ações e pensamentos de xenofobia – quando se estranha e calunia outro povo.Mineiro do município de Três Corações, onde nasceu Pelé, o autor tentou emendar seu desafinado soneto, afirmando ter sido uma “brincadeira”, além de revelar-se apreciador de um crocante acarajé.Tentou defender-se ainda citando a fonte da descabida infâmia um baiano, o ministro aposentado Peçanha Martins. Cabem uma boa retratação e o aprendizado, visando à atualização do “inspirado” piadista de mentalidade tacanha e ainda ancorada no século passado.
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