Aprendizado acelerado ou desvio de foco? O dilema da técnica do ‘cérebro podre’ entre estudantes

A dificuldade crescente de concentração entre estudantes do ensino médio tem levado muitos jovens a buscar alternativas para estudar. Entre as novas estratégias, uma tendência inusitada tem ganhado popularidade: os vídeos de “brain rot”. Esses conteúdos, que misturam imagens altamente estimulantes com áudios de leitura automatizada, prometem tornar o aprendizado mais acessível e dinâmico. No entanto, especialistas alertam para os riscos dessa prática e o impacto que ela pode ter no desenvolvimento cognitivo e na capacidade de leitura dos alunos.

O que são os vídeos de “brain rot”?

Os vídeos de “brain rot” – termo que pode ser traduzido como “cérebro podre” – são conteúdos audiovisuais que combinam textos educacionais lidos por inteligência artificial com cenas genéricas e altamente estimulantes. Essas imagens podem ser trechos de jogos como Minecraft e Subway Surfers, vídeos de ASMR ou memes aleatórios, enquanto o áudio narra o conteúdo acadêmico.

A lógica por trás da ferramenta é simples: ao transformar textos longos e densos em um formato mais envolvente e visualmente atrativo, espera-se que os estudantes consigam manter o foco por mais tempo. Dessa forma, um capítulo de biologia com gráficos complexos sobre estruturas celulares pode ser convertido em um vídeo curto com cenas de um jogo de basquete, enquanto o áudio sintetiza as informações essenciais.

Como funciona a nova tendência?

Atualmente, diversos aplicativos e sites oferecem esse serviço, permitindo que estudantes façam o upload de arquivos em PDF e escolham o tipo de vídeo que será gerado. Algumas das plataformas mais populares incluem Coconote, Raena, PDF to Brain Rot e TurnoLearn AI. O processo segue algumas etapas:

  1. O aluno faz o upload do material de estudo.
  2. O sistema oferece opções de vídeos com diferentes estilos visuais, como cenas de jogos, ASMR ou memes.
  3. O programa gera um vídeo no qual o conteúdo do PDF é lido por um robô enquanto as imagens escolhidas aparecem na tela.
  4. O estudante assiste ao vídeo, ouvindo o áudio e lendo as legendas ao mesmo tempo.

O objetivo é facilitar o aprendizado e tornar a experiência de estudo menos cansativa. No entanto, essa abordagem tem gerado preocupações entre especialistas em educação.

Os riscos do consumo excessivo

Embora os vídeos de “brain rot” possam ser usados como complemento ao estudo tradicional, sua adoção em larga escala pode trazer consequências negativas para a aprendizagem. Ao G1, Danilo Torini, gerente de tecnologias do ensino com aprendizagem da ESPM, explica que o problema não está na ferramenta em si, mas no uso excessivo dela. “Pode ser uma estratégia complementar ao estudo tradicional, para ajudar na memorização (…) “Mas é um excesso de elementos visuais muito dinâmicos, competindo com a construção do conhecimento. Não dá para parar e refletir sobre o conteúdo estudado”, explica.

Entre os principais riscos apontados pelos especialistas estão:

Superficialidade no aprendizado – A simplificação dos conteúdos pode gerar uma falsa sensação de aprendizado. O estudante acredita que compreendeu o tema, mas, na realidade, não desenvolve habilidades de análise e interpretação.

Dificuldade crescente de leitura – O cérebro se acostuma a consumir informações de maneira acelerada, tornando a leitura de textos mais densos um desafio cada vez maior.

Redução do pensamento crítico – O contato limitado com diferentes tipos de linguagem impede o desenvolvimento da capacidade de argumentação e raciocínio lógico.

Problemas emocionais e cognitivos – O consumo excessivo de vídeos curtos pode levar à dependência desse formato, resultando em perda de criatividade, dificuldade de foco, cansaço mental e desinteresse por atividades intelectuais.

Como encontrar um equilíbrio?

A tendência dos vídeos de “brain rot” levanta um debate sobre o papel da tecnologia no aprendizado. Enquanto alguns defendem seu potencial para engajar estudantes com dificuldades de concentração, outros alertam para a necessidade de moderação.

Para Torini, a melhor abordagem é usar esses vídeos como ferramenta complementar, e não como substituto do estudo tradicional. “É possível incorporar esses métodos multimodais de estudo e estimular que eles sejam mesclados com experiências de leitura. Eles podem servir para despertar o interesse inicial sobre um assunto ou complementar os estudos — só não podem ser os únicos meios”, afirma.

Para manter um aprendizado equilibrado, especialistas recomendam a adoção de algumas práticas que ajudam a evitar a superficialidade no estudo. Estabelecer um tempo limite para o consumo de vídeos educativos é uma estratégia para garantir que a tecnologia seja usada como um complemento, e não como única fonte de conhecimento.

Além disso, priorizar a leitura direta de livros e artigos contribui para o desenvolvimento da capacidade de interpretação, tornando o estudante mais apto a compreender textos mais densos e complexos. Outra abordagem é a diversificação dos métodos de estudo, intercalando resumos escritos, mapas mentais e discussões em grupo, o que permite uma assimilação mais profunda dos conteúdos. 

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