Websérie no YouTube celebra a viola machete e o samba de roda

A viola machete, instrumento essencial para o samba de roda do Recôncavo Baiano, é a protagonista da websérie Viola Meu Bem. Dividida em sete episódios, a série busca amplificar as vozes dos mestres e mestras dessa tradição, valorizando a oralidade e a musicalidade desse patrimônio imaterial da humanidade.O primeiro episódio estreou na última segunda-feira, 17, e o segundo vai ao ar hoje, no canal de YouTube da produtora Couraça. A cada segunda-feira, de março a abril, será lançado um novo episódio, finalizando a temporada no dia 28 de abril de 2025.Dirigida pela cineasta Gabriela Barreto e idealizada pelo etnomusicólogo Cassio Nobre, a produção é um desdobramento do livro Viola Meu Bem: violas e violeiros nos sambas do Recôncavo, fruto de duas décadas de pesquisa de Cassio. O projeto também contempla o lançamento da segunda edição impressa do livro, distribuído prioritariamente para instituições e agentes culturais do Recôncavo.A ideia de transformar a pesquisa em uma série audiovisual veio do desejo de Cassio de atingir um público maior e explorar o aspecto oral que foi importante na construção da obra escrita. “É uma pesquisa sonora, mas acabei escrevendo também e publicando em formato de livro. Pensando também nas comunidades com as quais trabalhei, percebi que talvez esse formato não fosse o ideal para levar essa informação de volta para eles. Ao mesmo tempo, sempre trabalhei com registro de vídeo, estava sempre com a câmera, meus dois instrumentos eram a viola e a câmera. Desse jeito o formato audiovisual foi se configurando como uma maneira de atingir um público mais amplo”, comentou.O primeiro episódio, intitulado “Os violeiros”, apresenta os mestres Aurino da Viola, Celino dos Santos, Jaime do Eco, Cassio Nobre e Shalom Adonai, além de contar com depoimentos do cantor e compositor Roberto Mendes e imagens de arquivo dos violeiros Zé de Lelinha e Zezinho da Campina. Ao longo dos episódios seguintes, diferentes perspectivas serão exploradas, destacando os violeiros, sambadeiras e a inserção da machete no mercado musical nacional e internacional.O samba de viola

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Apesar de ser um instrumento marcante no samba de roda, a viola machete passou por um período de quase extinção, que só foi revertido a partir de iniciativas de preservação. “Quando comecei esse trabalho, o samba de roda havia sido declarado patrimônio imaterial da humanidade (2005). Naquele momento, pesquisadores da etnomusicologia tinham dificuldade em encontrar violeiros ainda em atividade, havia muito poucos”, comentou Cassio.“Houve, então, iniciativas de salvaguarda, com apoio da UNESCO e do IPHAN, nas quais participei. As poucas gravações antigas que existiam serviram de material de pesquisa e estudo. Esse trabalho foi fundamental para a preservação da viola machete e do samba de viola como um todo”, acrescentou.Para a diretora da websérie, Gabriela Barreto, um aspecto importante para construir o trabalho foi dar destaque à oralidade e à tradição que envolve o samba de roda, assim como a presença feminina. “Costumo dizer que o samba é feminino. Ele é acolhedor, ancestral. Nasce do ventre dessas mulheres que, em seus quintais, recebem as pessoas e mantêm viva essa tradição. Para mim, trazer esse olhar feminino é essencial”, disse.A cineasta, que também dirigiu o curta Umbigada, destaca que a conexão com o samba de roda do Recôncavo foi essencial para a direção do projeto, além de ter buscado uma abordagem mais intimista que deixasse os entrevistados confortáveis para dar seus relatos diante da câmera.“O samba chula tem uma pegada diferente, mais cadenciada, e cada um tem o seu tempo na roda: a sambadeira, o cantador, o violeiro. Meu desafio foi captar essa dinâmica e o brilho de cada um. Procuro criar intimidade com os entrevistados. Como sou capoeirista angoleira e sambadeira, trago essa bagagem da cultura popular. Chego com respeito e tento mostrar que também estou na busca dessa oralidade e pesquisa. Assim, conseguimos depoimentos emocionantes e intimistas”.Entre os depoimentos mais marcantes da websérie, Gabriela Barreto destaca o de Mestre Zélia do Prato. “Ela contou que o samba salvou sua vida, ajudando-a a superar uma depressão. Esse tipo de história mostra como essa cultura é um refúgio e uma forma de resistência”.Assim como Gabriela, Cassio também trouxe o depoimento da sambadeira e tocadora de prato como um dos mais marcantes que contribuiu para conduzir a narrativa. “A série também aborda outros elementos do samba de viola, como as sambadeiras. Convidamos algumas, entre elas a mestra Zélia do Prato, que é uma grande amiga. Já tive a oportunidade de trabalhar com ela em outros projetos, viagens e shows fora da Bahia. Ela é uma figura muito envolvente e trouxe um depoimento muito forte, que acabou se tornando um dos fios condutores da narrativa”, afirmou.Entre livro e audiovisual

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A conexão de Cassio com a viola machete veio de sua própria trajetória musical. “Sou músico profissional há 30 anos. Comecei tocando guitarra e baixo, mas a viola brasileira começou a chamar minha atenção por causa da música tradicional. Depois, conheci a viola machete através de artistas do Recôncavo e fiquei fascinado pelo instrumento. A viola machete é singular e tem um papel central no samba chula”.Sobre a continuidade do projeto, Cassio e Gabriela adiantaram que há possibilidade de uma segunda temporada. “Queremos falar sobre a viola dentro do pagode, que também tem suas raízes no Recôncavo. O tema é vasto e pode se expandir para o Brasil todo, explorando diferentes tradições da viola pelo país”, comentou Gabriela.A diretora também apontou que a websérie tem provocado emoção nos próprios protagonistas. “A galera está gostando muito da narrativa e do elenco. Os próprios mestres estão mandando áudios emocionados, dizendo que gostaram do projeto e lamentando que seus antepassados não tiveram essa oportunidade. Isso me faz acreditar que conseguimos criar algo valioso, um verdadeiro tesouro audiovisual”.Assista: youtube.com/couracacriacoes*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr

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