Hospital do Servidor Público Estadual de SP tem surto de fungo que causa infecção grave e pode levar à morte

hospital do servidor público estadual

PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) de São Paulo enfrenta um surto do superfungo Candida auris. Multirresistente, pode causar infecções invasivas, graves e associadas à alta mortalidade. Por outro lado, é possível que o fungo sobreviva na pele e o paciente fique assintomático.

A reportagem apurou que, de janeiro de 2025 até 20 de março, foram confirmados 13 casos. Em um deles -um idoso de 73 anos- o superfungo causou infecção grave. O homem morreu.

Em nota, o HSPE confirmou apenas o caso que evoluiu com gravidade. Os colonizados -quando há presença do microorganismo sem causar doença- não foram mencionados.

“O Hospital do Servidor Público Estadual identificou em 2 de janeiro de 2025 um caso de Candida auris. Imediatamente, o Hospital notificou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e adotou todas as medidas de segurança e controle, como a manutenção de pacientes em quartos individuais, higienização intensificada e treinamentos para as equipes. De acordo com o preconizado pelos órgãos de vigilância, a unidade segue realizando coletas mensais por seis meses para análise do cenário. Semanalmente, o HSPE se reúne com a Anvisa para relatar as ações e os resultados das coletas, reforçando as normas de controle de infecção em todo o hospital”, diz a nota.

No entanto, na terça-feira (25), a infectologista Thaís Guimarães, da comissão de infecção hospitalar do HSPE, participou de um webinar sobre Candida auris conduzido pela SPI (Sociedade Paulista de Infectologia) e mencionou os 13 casos confirmados até o momento. No vídeo, a médica disse que o HSPE foi o primeiro da capital a relatar um surto pelo fungo.

Segundo o médico Eduardo Medeiros, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia e professor de infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o Candida auris infecta internados, principalmente em UTIs. “São pacientes que fazem quimioterapia, que estão com cateter venoso central para administração de medicamentos, aqueles que já tem alguns procedimentos”, explica.

Diferente de outras infecções fúngicas, o Candida auris pode permanecer próximo ao doente (no equipo para soro, na grade da cama, no termômetro) e é difícil eliminá-lo, porque o fungo é resistente à maior parte dos germicidas hospitalares e às medicações antifúngicas. Então, é de difícil o tratamento. O terceiro problema, de acordo com Medeiros, é que poucos laboratórios no Brasil têm capacidade para identificar a espécie.

“Isso possibilita o ambiente para o fungo se desenvolver. Então é essa a preocupação. A gente não tinha esse candida no Brasil até 2020. Ele já existe nos Estados Unidos, países da Europa e na Índia, onde é endêmico. Cerca de 40% das pessoas que se infectam por esse fungo, morre em consequência dessa infecção. É uma estimativa mundial”, diz o infectologista.

O superfungo não infecta qualquer pessoa, mas sim o paciente hospitalizado com doença de base grave. O Candida auris agrava a situação e coloca um novo elemento, que é a infecção.

“Ele vai atacar quem tem doença grave ou está com algum procedimento invasivo, já tomou antibiótico e selecionou o que chamamos de microbiota, quer dizer, você já matou muitas bactérias que são benéficas para o organismo e isso torna o ambiente favorável para que o fungo se multiplique.

Eduardo Medeiros integra um grupo formado pela Unifesp, Anvisa, pelas Secretarias Estaduais da Saúde das cidades onde há hospitais com surtos de Candida auris, pelos Lacens (Laboratórios Centrais de Saúde

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