Grafite dá vida aos paredões da Estação Ceilândia Centro

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Por Daniel Xavier

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A Casa do Hip Hop Ceilândia DJ Jamaika celebrou os 54 anos de Ceilândia com sua inauguração na última quinta-feira, 27, data do aniversário da cidade. Nos dias 29 e 30, a Estação de Metrô Ceilândia Centro recebeu o 2° Brasil Super Battle – Edição Graffiti, com uma pintura coletiva de 30 grafiteiros, transformando o fim de semana em uma grande celebração da cultura urbana.

O evento, patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec-DF) e Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF), se consolidou como um dos maiores encontros de grafiteiros do DF. Entre os destaques, estiveram os artistas Edmun de Belo Horizonte e Chambz de São Paulo, ambos com carreiras no Brasil e no exterior, além de grafiteiros locais como Rivas, Elom, Makina de Rabisko, Satão, Du Santos, Scooby, SpekOne1, Camz, Hera, Yong, Karen, Pena, AndGraff, Turko, Sowtto, Wesley Sandu, Bazek, Snupi, Gake, Santa Surda, Siren, Nati, Ramon Phantom, Dhos, Mia, Síria, Kupido e DavidMarcos36.

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Foto: Mônica Lacerda

DJ Jamaika e suas raízes

Rivas, conhecido popularmente como (Kabala) é irmão do falecido DJ Jamaica. Ele é empresário, rapper, MC, Bboy e grafiteiro. O rapper destacou que as obras realizadas no evento vão além da estética, carregando uma mensagem de identidade, resistência e transformação social. “A projeção não é apenas dos artistas locais e nacionais, como os grafiteiros renomados de Belo Horizonte e São Paulo que estão aqui nesta edição, mas principalmente da cultura Hip Hop como expressão de protesto e valorização da periferia. Sempre!”, enfatizou. O impacto de eventos como o “Brasil Super Battle Graffiti” vai além da arte, promovendo a difusão e valorização da cultura Hip Hop no Distrito Federal. “Nosso objetivo é disseminar essa cultura e criar oportunidades para artistas, ampliando os fomentos que possibilitam um crescimento ainda maior da cena”, destaca Rivas.

A Casa Hip Hop Ceilândia/DJ Jamaika, criada por DJ Ocimar e apoiada por Rivas, foi inaugurada na Praça Central da Ceilândia Norte, perto da Estação Central, como um espaço essencial para novos talentos. Em homenagem a DJ Jamaika, pioneiro do rap no DF, o local fortalece a cultura de Ceilândia e do Brasil. “A inauguração celebra o pertencimento e a valorização da cultura global, reconhecida como patrimônio cultural imaterial em 2023”, declara  o grafiteiro Rivas, reforçando a importância de projetos como o Brasil Super Battle e o festival de Hip Hop, que continuam a expandir essa cena.

No Dia Internacional do Grafite, 27 de março, o Ministério da Cultura fez uma homenagem especial nas redes sociais, ressaltando o grafite como um símbolo de resistência e transformação social. “Com origem nas periferias, o grafite ultrapassa barreiras sociais, consolidando-se como referência na cultura brasileira”, destacou a publicação.

Letícia Divina, gerente de projetos especiais do Metrô-DF, destaca a importância da parceria com a Casa do Grafite e a comunidade local. “É um projeto de sucesso, onde a cultura, a dança, a alegria e a união são trazidas ao espaço, ocupando um espaço ocioso que é do povo”, afirma. Ela ressalta que o Metrô procura apoiar a cultura hip-hop, unindo forças para transformar a realidade das comunidades, especialmente as mais carentes. “O Metrô não é apenas sobre mobilidade, mas sobre trazer cultura, educação e responsabilidade social para todos os usuários”, conclui.

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Foto: Mônica Lacerda

A essência da arte

Edmun, grafiteiro de Belo Horizonte, se destacou no 2° Brasil Super Battle – Edição Grafitti, realizado na Estação de Metrô Ceilândia Centro. Ele ressaltou a importância do grafite como arte democrática e acessível, que traz vida e cor aos espaços urbanos. “O grafite é uma arte muito democrática, traz sensações e dá vida ao lugar”, afirmou. Para Edmun, essa arte provoca diferentes sensações nas pessoas, refletindo as complexidades das periferias e da cultura hip-hop. Ele também enfatizou o valor das trocas de experiências entre os artistas, que fortalecem a cena local e permitem que as artes de várias regiões se conectem.

Com 28 anos de carreira, Edmun explicou que seu trabalho é focado na evolução das letras no grafite, criando peças tridimensionais que capturam a essência dessa arte. “O grafite é, em sua essência, escrever. O que trago é a evolução das letras no grafite, levando-as para o tridimensional”, declarou. Ele destacou que o reconhecimento veio com o tempo, mas sempre baseado no amor pela arte, sem buscar retorno financeiro imediato. “No início, era simplesmente a paixão pela arte, o grafite é algo que você faz por amor”, completou.

Sobre o preconceito enfrentado pelos grafiteiros, Edmun acredita que o caminho para mudar essa visão é mostrar a legitimidade do grafite como arte e expressão cultural. “É importante mostrar que o grafite é saudável, que é uma forma de trabalho e transformação social”, afirmou. Ele defende a importância de dialogar com as famílias e de participar de eventos como o Brasil Super Battle para quebrar estigmas. “Grafite é um trabalho, mas também uma diversão, uma forma de se conectar com a comunidade”, concluiu.

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Foto: Mônica Lacerda

O portal para o caminho da arte

Siria, grafiteira de 23 anos, compartilha como a arte a transformou e a ajudou a se estabelecer profissionalmente. Ela destaca que sua entrada no mundo do grafite foi influenciada por mulheres que abriram portas para ela. A artista, que trabalha com o estilo caligraffiti , inspirado em sânscrito e escrita árabe, se vê como uma representante do movimento feminino no grafite. Seu trabalho é uma forma de deixar um impacto visual, registrando portais que simbolizam a busca por identidade e expressão. Ela também compartilha uma mensagem de incentivo para jovens que enfrentam desafios e preconceitos no caminho artístico. Para ela, a arte exige confiança e dedicação, e a chave para superação é acreditar no impacto da arte dentro da sociedade, especialmente nas periferias. Siria reforça que “a arte vai ser fiel à gente” e destaca a importância de não desistir. “Eu acho que para qualquer pessoa que está começando, que tem vontade de começar, ou que já está dentro, é confiar”, diz a artista.

A grafiteira também fala sobre a experiência de ser mulher em um movimento predominantemente masculino. Apesar das barreiras estruturais, Siria acredita que as mulheres têm um papel essencial na quebra de paradigmas e na construção de espaços dentro do grafite. Ela afirma que “ser mulher é representar, é importante estar perto de mulheres, pois as minas têm um momento foda na quebrada”, aponta. Siria incentiva outras mulheres a se unirem e enfrentarem as opressões com audácia. “A opressão, ela sempre vai existir e eu acho que a forma que a gente se coloca no grafite faz toda a diferença”, finaliza.

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