Edição de ‘Harildo Déda: A Matéria dos Sonhos’ tem distribuição gratuita

O brilho nos olhos de quem já o viu no palco é a maior prova de que Harildo Déda (1939 – 2023) nunca sairá de cena. Figura essencial no teatro baiano e brasileiro, o ator, diretor e professor que dedicou sua vida à arte agora tem sua trajetória eternizada em palavras. Hoje, a Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) lança, no Teatro Martim Gonçalves, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), dentro da programação do Mês do Teatro, a edição ampliada do livro Harildo Déda: A Matéria dos Sonhos, um registro profundo sobre a carreira e o legado do artista.A publicação integra o projeto “Mestras e Mestres da Cena”, que homenageia grandes nomes das artes cênicas. Com 352 páginas, o livro conta ainda com um posfácio de Marcelo Flores, um dos tantos artistas moldados por Déda, e apresenta uma rica documentação fotográfica.A edição expande a primeira publicação, lançada em 2011, e agora abrange o período de 2011 a 2023, incluindo as últimas contribuições do artista para a arte. O livro é dividido em três partes: a biografia inicial, escrita pelo Doutor em Artes Cênicas Raimundo Matos de Leão; um aprofundamento sobre os últimos anos do artista, feito pelo jornalista e escritor Marcos Uzel; e uma análise sobre sua metodologia, assinada pelo dramaturgo Luiz Marfuz.“Essa iniciativa de começar pela atualização do método de Harildo foi brilhante. Ele deixou um legado eterno para todos nós. É difícil alguém alcançar o patamar que ele chegou. Quando falamos de ‘mestres e mestres da cena’, nada mais justo do que começar por Arildo”, destacou Marfuz.O dramaturgo preparou um momento especial para o dia do lançamento, atores e atrizes que trabalharam ao lado Déda farão um recital poético com trechos da obra. O livro terá distribuição gratuita de mil exemplares e também estará disponível para download gratuito no site da Funceb, garantindo que o conhecimento e a história do mestre alcancem ainda mais leitores.”Harildo Déda sempre será um grande mestre das artes cênicas da Bahia e do Brasil, um artista que merece todas as homenagens por sua imensa contribuição à nossa cultura e ao teatro baiano. Seu legado, seu método e sua arte são uma fonte inesgotável de saber, que continua a inspirar gerações. Hoje, temos artistas incríveis, no Brasil e no exterior, que beberam e ainda bebem dessa fonte. Déda é, sem dúvida, uma referência artística para atores, atrizes, diretores e diversos profissionais do teatro, além de discípulos espalhados pelo país”, destaca a gestora Sara Prado, diretora-geral da Funceb.Marcos Uzel destaca um período singular na trajetória de Harildo, marcado pela intensidade e persistência criativa dos seus últimos anos. Segundo Uzel, “o recorte dos 72 aos 83 anos de Harildo, estendendo-se até a partida dele, em 2023”, representa “uma fase artística excepcional na trajetória do Mestre”, em que ele desafiou os limites da idade ao trabalhar incessantemente em projetos teatrais, master classes, oficinas, locuções e até campanhas publicitárias.”Ele (Déda) transmitia seu conhecimento com rigor, mas também com humor e precisão. Seu método, construído a partir da experiência e do estudo, foi passado não apenas nos palcos, mas em ensaios, oficinas e salas de aula”, destaca Raimundo Matos, autor da biografia que cobre a trajetória do ator até 2010.A trajetória de DédaHarildo nasceu em Sergipe, mas foi na Bahia que construiu sua trajetória e se tornou um dos pilares do teatro nordestino. Sua relação com a arte começou cedo, quando, ainda adolescente, fugia do internato para assistir a peças na Escola de Teatro da UFBA. Em 1967, já estava matriculado na instituição, da qual nunca mais se afastaria. Formou-se, tornou-se professor e ajudou a moldar o teatro baiano contemporâneo.Ao longo das décadas, transitou por diferentes espaços artísticos sem perder sua identidade. No teatro, brilhou em montagens marcantes como O Interrogatório, Gota D’Água, O Mercador de Veneza e Hamlet. Como diretor, esteve à frente de clássicos como A Vida é Sonho e Os Fuzis da Senhora Carrar.Seu método era baseado na escuta do ator: ele rejeitava a ideia de uma técnica fixa e adaptava sua abordagem a cada artista, misturando influências do teatro popular, de Shakespeare e de Stanislavski.No cinema, trabalhou com cineastas de peso. Foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos em Memórias do Cárcere (1984) e por Cacá Diegues em Joana Francesa (1973). Fez também Abrigo Nuclear (1981), de Roberto Pires, e O Homem que Não Dormia (2012), de Edgar Navarro. Seu último filme foi Três Verões (2020), de Sandra Kogut.Na TV, participou de diversas novelas e séries da Globo, como Tieta, Renascer e Memorial de Maria Moura. Seu rosto era familiar ao grande público, mas foi nos palcos que construiu sua mitologia.Para Raimundo Matos, não há como dissociar o artista do professor. “O rigor com que ele transmitia seus conhecimentos e a forma como incentivava cada aluno a encontrar sua própria voz foram marcas indissociáveis do seu ensino”, reflete.O grande artistaDéda — como era chamado por amigos e alunos — não foi só um grande ator, mas um formador de gerações. Tinha um jeito particular de ensinar: misturava rigor e ironia, paixão e disciplina.Para o dramaturgo Marfuz, o legado de Déda ultrapassa a cena teatral e alcança um ensinamento mais profundo sobre arte e humanidade.“Ele não se prendeu a um método fechado. Sua prática dialogava com as particularidades de cada ator e com diferentes tradições, do teatro de cordel a Shakespeare, com o gestual do popular. O foco sempre foi o ator. Cada um recebia uma condução diferente, porque ele acreditava na subjetividade da cena”, analisa Marfuz.“Déda foi um mestre com ‘M’ maiúsculo, mas também um eterno aprendiz. Sua obsessão pelo ofício não diminuiu com a idade. Ao contrário: trabalhou até os últimos dias”, diz Marcos Uzel, que assina a segunda parte da biografia. “Há um trocadilho que eu adoro: ‘Vão-se os anéis, fica o Déda’. Ele segue vivo em cada ator que formou”.“Harildo Déda foi um mestre no palco e fora dele, um artista cuja influência atravessa gerações”, conclui Raimundo.Lançamento do livro “Harildo Déda: A Matéria dos Sonhos – Edição Ampliada” /Hoje, 19h / Teatro Martim Gonçalves – Escola de Teatro da UFBA (Canela, Salvador) / Entrada gratuita*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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