Objetivo principal do BC é perseguir meta de inflação de 3%, diz diretor de Política Monetária

 O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, reiterou nesta segunda-feira, 31, que o principal objetivo da autoridade monetária é alcançar a meta de inflação, de 3%. Sem prejuízo dessa meta principal, o BC também visa suavizar a oscilação de ciclos econômicos, ele lembrou.

“O Banco Central vai buscar o caminho que for mais razoável para se chegar a esses 3% primeiro, claro que em vista das consequências que tem para os dois lados”, disse o diretor, em um evento online do Itaú BBA.

Em dezembro, por exemplo, o BC percebeu que ser mais agressivo produziria melhores resultados para ancoragem das expectativas e para chegar a uma taxa de juros restritiva o bastante mais rápido, explicou. No último mês de 2024, o BC aumentou a Selic em 1 ponto porcentual e sinalizou mais dois aumentos da mesma magnitude, em janeiro e março.

A desvantagem desse processo rápido é não ter tempo para observar os impactos da política monetária, pelas defasagens, ele disse. “A pergunta, agora, é como vão ser os próximos meses, onde o esperado é que a inflação não arrefeça nos próximos três, quatro, cinco meses, e como vai ser a dinâmica das expectativas do mercado e o comportamento dos agentes. Com base nisso, a gente vai calibrar”, explicou.

David reiterou que o BC tem de colocar a taxa Selic em um nível pouco mais restritivo do que seria necessário antes, para que ele tenha impacto em todos os agentes, já que algumas empresas têm acesso a crédito mais barato via incentivadas. A desaceleração da atividade é uma questão, mas o BC guia os juros pela inflação, ele destacou, acrescentando que um “pouso suave” no Brasil é desafiador.

Focus

No mesmo evento, o diretor de Política Monetária do Banco Central observou que, apesar da valorização do real no primeiro trimestre, as expectativas de inflação no Focus aumentaram. Ele lembrou que a autoridade monetária não faz juízos sobre a dinâmica futura da moeda, que é captada dos níveis de inflação.

“Podemos conjecturar que os participantes das pesquisas talvez não tenham uma percepção que foi uma alteração permanente, talvez seja temporária, ou que haja outras variáveis que se alteraram, que mais do que compensaram a pressão do real”, disse David.

O diretor ponderou que, em condições normais, a volatilidade história da taxa de câmbio é de 1% ao dia. Isso significa que o desvio padrão do dólar entre reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) é da ordem de 10%.

“Não é à toa que o Banco Central insiste em afirmar que não há relação mecânica entre câmbio e política monetária”, disse David “Não seria razoável pôr o risco de se alterar o viés de uma política monetária por uma variação da moeda que pode ser só ruído.”

‘Chinese Wall’

O diretor de Política Monetária afirmou também que há “quase um Chinese wall” entre a política monetária e medidas macroprudenciais na autarquia. Ele garantiu que separar as duas é “quase uma obsessão” do BC.

“O aperto de política monetária pode disparar questões macroprudenciais, essas são coisas que têm alguma correlação e argumento? Sim. Se houver, vai ser tratado de tal forma, mas jamais com o objetivo principal que seja diferente daquele lado, simples assim, bem direto e ao ponto”, disse ele.

Indagado sobre o tema, David disse que a correlação entre ações e juros deve ser retomada no médio e longo prazo.

Ele ponderou que a discrepância entre ações e taxas parece ter sido puxada pela tomada de risco em meio às novas políticas do presidente americano, Donald Trump.

“Acho que foi uma coisa meio extemporânea e atípica de um processo, tem tantas coisas que são quase uma tempestade perfeita para isso bagunçar, mas o esperado no médio e longo prazo é que essa correlação volte a existir, mas o ruído pode permanecer por bastante mais tempo que em outros momentos”, disse David.

Demanda por crédito

O diretor de Política Monetária previu que a onda de demanda maior por crédito deve estar próxima do fim. “Isso tem a ver com aquilo que eu comentei anteriormente. O crédito teve impulsos bastante idiossincráticos a partir (de mudanças na lei) de offshore e também com a realocação de dinheiro”, disse, estimando que foram quase R$ 400 mil que saíram dos fundos multimercados e foram literalmente para o mercado de crédito.

De acordo com ele, soma-se a isso o fato também que há quase duas décadas o mundo inteiro está tentando diminuir a dependência dos bancos para a oferta de crédito. Para isso, lembrou, demanda-se mais capital, por conta da alavancagem, e põe-se mais custos aos bancos para dar crédito.

Com esse quadro, conforme o diretor, o mercado acaba encontrando alternativas e formando artérias para fazer o crédito chegar até o tomador final. “Então, juntou a regulação com coisas conjunturais, como o offshore, o nível de juros alto do ciclo em que a gente está agora e a realocação dos fundos multimercados”, considerou.

David acrescentou que também houve uma promoção de papéis de crédito aqui para investidores, não necessariamente de private, o que levou também a uma demanda extraordinária para o crédito. “A despeito da política monetária apertada no Brasil, é mais barato tomar crédito domesticamente do que fora. Uma empresa que pode tomar aqui e pode tomar fora, ela sabe disso e ela toma mais barato aqui e pré-paga sua dívida fora”, explicou.

O diretor comentou também que não há um passivo externo relevante no Brasil hoje e que é possível medir quão mais caro é lá fora que aqui. “A beleza é que a nossa vulnerabilidade externa caiu tremendamente”, avaliou, repetindo que os preços do crédito no Brasil não são compatíveis com os de fora. O esperado, segundo ele, é que convirjam ao longo do tempo. “Eu não espero que entrem novas ondas de aquisição de crédito. Não sei se essa onda já chegou aqui. Então a questão é que ela está chegando ao final, esse incremento”, projetou, explicando que espera que os preços do crédito na ponta voltem a se aproximar do que era anteriormente.

Davi enfatizou ainda que a questão de mudanças de regulação referenciadas por Basileia não ocorrem apenas no Brasil. “A gente é só parte do que está acontecendo no mundo inteiro, até por estabilidade econômica e risco sistêmico, acho que é bastante saudável. O que está acontecendo é que houve uma entrada e uma novidade para o investidor brasileiro nesse universo e teve essa alteração temporária de preço.”

Estadão Conteúdo

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