Dia Mundial do Transtorno do Espectro Autista (TEA) conscientiza população

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Hoje, 2 de abril, é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data lembra à população que é preciso avançar em inclusão, acessibilidade e suporte às famílias. Segundo a neurologista infantil Angélica Ávila (CRM-DF 24.864 e RQE: 18.481), a ciência já demonstrou que o ambiente tem um papel crucial no desenvolvimento de crianças autistas — quanto mais acolhimento, adaptação e respeito às suas necessidades, mais oportunidades elas terão para desenvolver suas habilidades. “Essa data não é sobre autistas, mas sobre a sociedade como um todo. É um convite para que todos aprendamos a enxergar além dos rótulos e possamos construir um mundo mais acessível e empático para essas pessoas”, pontua.

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Dra Angélica Ávila – Foto divulgação

De acordo com a médica, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que impacta como o indivíduo se comunica, interage e percebe o mundo ao seu redor. Não é uma doença, mas, sim, uma forma diferente de funcionamento cerebral. Suas características são mostradas ainda no período de desenvolvimento, na infância. “A pessoa nasce autista. O cérebro autista tem uma arquitetura mais imatura, desorganizada, com excessiva presença de neurônios que se concentram desproporcionalmente em várias áreas cerebrais e um funcionamento mais hiperexcitado, com conexões alteradas, em localizações diferentes. Por isso, existe um espectro de sinais, a depender de qual área temos maior alteração nessa arquitetura e conectividade, como linguagem, sensoperceptivas, motoras, percepção visual, entre outras”, explica.

No entanto, Angélica lembra que não existe um padrão autista nem mesmo nos níveis de suporte, porque cada pessoa no espectro terá as características manifestadas de maneiras diversas em contextos diferentes.

Níveis de suporte

A neurologista aponta que o nível 1 de suporte, no geral, necessita de menos intervenções para adquirir autonomia quando comparados ao autista dos níveis 2 e 3 de suporte. Já os autistas classificados como nível 2 precisam de mais suporte para as atividades do dia a dia. Eles apresentam mais limitações nas interações sociais e prejuízos na comunicação funcional e linguagem. “Existem dificuldades significativas na conversação, na troca de respostas, no diálogo espontâneo”, salienta.

Já os autistas de nível 3 possuem comportamentos mais evidentes e têm como características a necessidade de suporte constante para as atividades diárias. A médica esclarece que a interação social é bastante comprometida, a comunicação é difícil, dependente de recursos visuais e diversos autistas deste nível não desenvolvem a fala. Além disso, há a deficiência intelectual e a dificuldade na aprendizagem, comprometendo todo seu aprendizado global. “Há extrema rigidez mental, muita inflexibilidade e resistência a mudanças de rotina. Podem apresentar crises mais intensas e constantes, de difícil identificação pelos cuidadores principais. Os movimentos repetitivos, as estereotipias são evidentes e frequentes. O autista nível 3 necessita de mais auxílio em comparação aos de nível 2 e 1 de suporte”, alerta.

Entretanto, a especialista reforça que os níveis são somente classificações clínicas e não definem o potencial ou as habilidades futuras de uma pessoa autista. Cada indivíduo tem suas próprias forças e desafios, sendo essencial que o acompanhamento seja personalizado.

Diagnóstico precoce

Conforme a neurologista, o cérebro infantil tem capacidade incrível de adaptação e aprendizado, chamada de plasticidade neural. Nos primeiros anos de vida, as conexões cerebrais são moldadas pelas experiências. Isso significa que quanto mais cedo forem identificados os sinais do TEA e iniciadas as intervenções, maiores serão as chances de potencializar o desenvolvimento da criança.

Angélica lembra que a intervenção precoce não “cura” o autismo, porque não é uma doença, mas pode reduzir desafios, fortalecer habilidades de comunicação, interação e autonomia, auxiliando a criança a se desenvolver com mais qualidade de vida. “É por isso que os profissionais e as famílias precisam estar atentos aos sinais desde os primeiros anos”, argumenta.

Orientação aos pais

A médica conta que o diagnóstico não define quem é seu filho e não determina o futuro, apenas norteia para que se possa entender melhor as necessidades e oferecer o suporte adequado. Portanto, é natural sentir medo ou insegurança, mas é importante ressaltar que há estratégias e intervenções que podem ajudar. “Procurem profissionais que acolham e orientem com base na ciência. Criem uma rede de apoio, busquem informação de qualidade e, acima de tudo, olhem para seu filho além do diagnóstico. Cada criança é única, cheia de potencial, e merece ser enxergada com respeito e amor”, pondera.

 

Desmistificar o TEA

Para a especialista, a ideia de que o autismo é uma sentença de limitação precisa ser desconstruída, pois o que realmente impacta o desenvolvimento não é o diagnóstico em si, mas a falta de oportunidades, o preconceito e a ausência de suporte adequado. Ademais, outro ponto trazido pela neurologista é achar que todo autista se encaixa em um mesmo padrão. Ela enfatiza que cada pessoa no espectro tem suas próprias características, interesses, desafios e o olhar deve ser individualizado e respeitoso. “O autismo não é sinônimo de sofrimento. Muitas crianças autistas podem levar uma vida plena, feliz e independente, desde que tenham acesso a intervenções adequadas e um ambiente que respeite sua forma única de existir no mundo”, finaliza.

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