Kit de teste rápido para a dengue deve ser comercializado a partir de 2026 em parceria com farmacêutica chinesa
| Foto: Olga Leiria | Ag. A Tarde
“Primeiro você faz a embalagem secundária, que é a caixa grande, depois a embalagem primária, caixa pequena, até você receber a tecnologia e começar a produzir aqui’, explica Ceuci. “Isso é importante porque dá sustentabilidade também econômica, porque no momento que você fecha o contrato de parceria, já pode vender o produto para o SUS”. Isso gera receita.Os remédios produzidos em PDP são voltados para atender a demanda do SUS junto ao Ministério da Saúde, mas estados e municípios também podem adquirir através de licitação. Os laboratórios públicos só não podem vender para instituições privadas.RecursosLogo que assumiu o comando da Bahiafarma, Ceuci Nunes e sua equipe buscaram viabilizar a estruturação física da fábrica e, ao mesmo tempo, se habilitar para a produção de uma variedade de medicamentos.Um contrato de gestão com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) garantiu R$ 96 milhões para custear a fábrica durante três anos, até o fim de 2026. Paralelo a isso, a direção encaminhou ao Ministério da Saúde 5 projetos de PDCEIS (programa de desenvolvimento do complexo econômico-industrial da saúde), com um valor total aprovado de R$ 222 milhões para a produção de sólidos orais e kit´s diagnósticos, além da instalação de um sistema de captação de energia solar.Vencida essa etapa, a Bahiafarma entrou na disputa para viabilizar parcerias de produção e de desenvolvimento de produtos. Ao todo são 18 projetos, sendo 15 PDP´s e 3 PDIL´s (Programa de Desenvolvimento e Inovação Local), além do registro na Anvisa de 10 kit´s de teste rápido, do quais 7 já foram aprovados.Já têm registro e aguardam aprovação do PDP os testes rápidos de dengue, malária e sífilis. Os testes para hepatites B e C, zika vírus e malária têm registro, mas ainda não foram submetidos ao PDP.Situação inversa a dos testes de HIV e HTLV – doença com alta frequência na Bahia e que provoca paralisia e leucemia – que aguardam registro na Anvisa, mas já têm proposta de PDP encaminhada. O teste de sífilis duo (que afere não só a contaminação, mas a exposição à doença) aguarda o registro e ainda não tem proposta de PDP.Outros 5 PDP´s em análise são relativos à produção de sólidos orais, em parceria com duas empresas nacionais, a Cristalia e a EMS. Para os testes rápidos de dengue, a parceria é com o laboratório chinês Beijing Hotgen. A expectativa é começar a produzir as embalagens secundárias já em 2026 para, em etapas, iniciar o processo de absorção da tecnologia.“O registro habilita a Bahiafarma a entrar na comercialização de kit´s diagnósticos e insere a Bahia nesse cenário hoje dominado por Sul e Sudeste”, projeta Márcia Telles, diretora da qualidade da fundação.OusadiaAs propostas dos 5 PDP´s restantes são consideradas pela Dra. Ceuci uma ‘ousadia’. Trata-se de parcerias para produção de biológicos, anticorpos monoclonais para tratamento de doenças raras e câncer, ‘o que tem de mais moderno na indústria farmacêutica’.Mas, além de incorporar, produzir e distribuir medicamentos já existentes, a Bahiafarma tem o propósito de desenvolver seus próprios fármacos. Os PDIL´s que aguardam aprovação no Ministério da Saúde podem alavancar a fundação e fazê-la assumir o protagonismo no Nordeste.São três projetos para produção de hidroxiureia pediátrica, probiótico para neuropatia diabética e um teste rápido de infecção urinária. O primeiro, desenvolvido em parceria com a UFBA e a UNEB propõe suprir uma lacuna no tratamento da anemia falciforme em crianças a partir 8 meses, reduzindo em até 40% o índice de mortalidade.Outra parceria, com a UFRB, está desenvolvendo um probiótico para tratar neuropatia diabética. E o terceiro projeto, desenvolvido junto ao Senai/Cimatec, promete detectar Infecção urinária em 15 minutos, agilizando o diagnóstico na atenção básica.Os biológicos em questão serão produzidos em parceria com a farmacêutica brasileira Bionovis e a coreana Samsung. Sim, a marca mundial de eletrônicos é uma das principais farmacêuticas de biosimilares do mundo.”A produção própria traz uma grande economia para o SUS, uma vez que os medicamentos de alto custo consomem uma grande parte do orçamento e traz a Bahia para outro patamar tecnológico”, diz Ceuci Nunes. “A Bahiafarma pode ocupar protagonismo no Nordeste”, acrescenta Márcia Telles.Conteúdo nacionalAlém de desenvolver a pesquisa, projetos como esses cumprem o papel de reduzir a dependência externa, um problema que a diretora Ceuci Nunes conhece bem, pela experiência acumulada durante a pandemia de covid-19.“Nós ficamos ajoelhados para conseguir comprar coisas básicas. Tudo era produzido no exterior, principalmente China, Índia e Estados Unidos. Quem tinha poder aquisitivo saiu comprando tudo, a gente teve dificuldade de comprar luva, máscara, anestésico, então isso foi um choque, porque a gente vinha no caminho da desindustrialização”.Garantir abastecimento é apenas uma das razões para investir no desenvolvimento de novos fármacos. Os projetos em estudo na Bahiafarma abrem um leque de possibilidades para o desenvolvimento da ciência e da economia locais.Em 2023, o Ministério da Saúde enviou quatro técnicos para a Coreia, com intuito de estudar biológicos. Isso está ajudando nos projetos. Uma parceria com a Fiocruz está formando 28 profissionais para a indústria farmacêutica, ramo que não é estudado nos cursos de farmácia.Com a estruturação da Bahiafarma, tão logo comece a produzir, haverá demanda por profissionais e os cursos terão que expandir seus currículos, mas, para isso, os projetos precisam de continuidade, alerta Márcia Telles.“A própria fabricação, o sistema de qualidade, a indústria farmacêutica é extremamente regulada, isso eleva o custo, e é pra elevar, para garantir eficiência e eficácia do medicamento. Aí você estabelece toda uma planta, um sistema de qualidade e depois isso perde a continuidade”?