Daniel Noboa, reeleito presidente do Equador, enfrenta o desafio de apaziguar um país abalado pela violência do narcotráfico e dividido após uma eleição na qual sua rival denunciou fraude.
Observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia (UE) descartaram irregularidades no segundo turno de domingo, no qual Noboa manteve uma vantagem de pelo menos 12 pontos percentuais.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou o colega equatoriano, com quem se encontrou no final de março, como “grande líder”. “Não decepcionará!”, disse aos equatorianos em sua plataforma Truth Social. A Espanha também parabenizou Noboa.
A vitória de Noboa, de 37 anos, foi festejada nas ruas de Quito com fogos de artifício e buzinaços até quase meia-noite.
Contudo, a candidata de esquerda Luisa González questionou os resultados e não reconheceu a derrota, em sua segunda tentativa de se tornar a primeira presidente eleita do Equador.
“O Equador está dividido, mas, em geral, acredito que os equatorianos entendem que estamos em uma situação onde a união é o que nos ajudará a seguir em frente, seja quem estiver liderando o governo”, disse à AFP Camila Medina, uma estudante de Arquitetura de 21 anos.
O presidente permanecerá no poder até 2029 com o compromisso de intensificar suas apostas para enfrentar os cartéis com uma linha dura.
Dolarizado, com portos estratégicos no Pacífico e localizado entre os dois maiores produtores de cocaína do mundo – Colômbia e Peru -, o Equador se tornou um cenário de violência sem precedentes.
Em média, uma pessoa foi assassinada a cada hora entre janeiro e fevereiro, o começo de ano mais violento já registrado no país.
– “Resultados corretos” –
Com 97% dos votos apurados, Noboa supera González (44%) com 56%. O resultado esmagador foi uma surpresa após um primeiro turno acirrado e previsões de uma vitória apertada. A esquerdista acusou o governo pela “mais grotesca fraude eleitoral” e pediu recontagem.
Segundo o secretário da OEA, Luis Almagro, os dados de seus observadores e da autoridade eleitoral equatoriana “coincidem”. Ele parabenizou Noboa “por sua vitória” na rede X.
Para a equipe da UE, os resultados “estão corretos” e “estão sendo produzidos de forma confiável”, disse o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares, durante uma reunião de chanceleres em Luxemburgo.
A polarização ficou ainda mais intensa na campanha do segundo turno, com embates frequentes entre os candidatos e a desinformação.
“Me nego a acreditar que exista um povo que prefira a mentira à verdade”, afirmou González, herdeira política do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), uma figura divisora no Equador.
Correa está exilado na Bélgica, onde evita uma condenação por corrupção que, segundo ele, tem motivações políticas.
Os resultados “são muito surpreendentes para os dois lados (…) ainda existe um enorme sentimento anticorreísta e um que não se havia imaginado que fosse tão potente e significativo”, explicou Pedro Labayen Herrera, analista do Centro para Pesquisa Econômica e sobre Políticas em Washington.
– Situação “complexa” –
Esta é a pior derrota para as forças de Correa desde que o ex-presidente deixou o poder. Seu movimento disputou todos os segundos turnos desde 2017.
Noboa terá o desafio de governar com boa parte do país contra sua administração, enquanto enfrenta uma crise de segurança.
Filho de um magnata do setor bananeiro, Noboa é um dos presidentes mais jovens do mundo, imagem que explora nas redes sociais.
Embora tenha começado como um desconhecido na política, ele reuniu apoios ao liderar grandes operações militares, com colete à prova de balas e medidas implacáveis contra os cartéis.
Ele colocou o Exército nas ruas, anunciou a detenção de chefes do tráfico de drogas e abriu as portas para os Estados Unidos enviarem forças especiais. Não descarta a instalação de bases militares estrangeiras em território equatoriano, atualmente proibidas por lei.
É provável que a vitória de Noboa alimente ainda mais sua aproximação com Trump.
Organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que suas políticas de segurança ocultam abusos.
“A situação é complexa e não há ventos favoráveis para o país”, disse Andrés Maldonado, um trabalhador do setor privado de 37 anos.
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