Em viagem a Milão, no norte da Itália, o prefeito Sandro Mabel (UB) voltou a questionar a ausência de voos internacionais partindo de Goiânia. Em vídeo publicado nas redes sociais, ele relatou que sua viagem levou 30 horas e defendeu a necessidade de rotas diretas da capital para a Europa e os Estados Unidos. O plano é interessante, mas exige mudanças técnicas na operação e estrutura do Aeroporto Santa Genoveva. É necessário questionar se não há outras prioridades para voos, principalmente para localidades regionais e nacionais.
“Saímos ontem às 14h30 de Goiânia e ainda estamos viajando, agora são 21h aqui e 17h no Brasil e já estamos há mais de 24 horas em trânsito e ainda não chegamos. Isso vai durar 30 horas de voo aqui”, disse Mabel, em vídeo publicado no Instagram. “Ainda temos mais duas horas de voo da Inglaterra até Milão. Isso só reforça minha vontade de lutar para que Goiânia tenha voos diretos para a Europa e os Estados Unidos. A porta de entrada para a Europa é Portugal, e, para os EUA, é Miami. Vamos trabalhar para conquistar esses voos diretos, que são importantes para o turismo e para os passageiros”, justificou.
O Jornal Opção apurou, no final de março, que Goiânia ainda não possui condições técnicas para receber voos internacionais operados por aeronaves de grande porte. Embora o Aeroporto Santa Genoveva seja classificado como internacional, sua infraestrutura — especialmente a pista — é limitada. Isso impede a operação da maioria dos aviões utilizados em rotas intercontinentais.
Anteriormente, a Prefeitura de Goiânia chegou a divulgar um “Dossiê Turístico Goiânia-Lisboa” para defender a criação de um voo semanal entre a capital de Goiás e a de Portugal. O documento afirma que o aeroporto é capaz de receber aeronaves de médio e grande porte.
“O aeroporto é gerido pelo Grupo CCR e ocupa uma área de 3.967.365,04 m². Com uma pista de pouso e decolagem de 2.500 m (sendo 2.286 m homologados para uso) de extensão e 45 m de largura, o aeroporto é capaz de receber aeronaves de médio porte, como os modelos ATR 72, Boeing 737, Embraer 190, Airbus A320, A321, entre outros. Aeronaves de porte médio/grande, como os modelos Boeing 757 e Airbus A330, também operam ocasionalmente”, diz o texto divulgado pela Prefeitura.
No entanto, em contato com o Jornal Opção, a CCR Aeroportos esclareceu que o Aeroporto Santa Genoveva é “certificado para operação de aeronaves até o código C (peso entre 5.700 e 136.000 kg) e atende a todos os requisitos necessários para receber voos regulares e internacionais”. Ou seja, aviões de maior porte, como o Airbus A330 — que, vazio, pesa cerca de 170.000 kg, sem considerar passageiros, carga e combustível —, não podem operar regularmente no local.
No mesmo sentido, o professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e especialista em aeronáutica, Georges Ferreira, afirmou que o aeroporto até poderia receber, eventualmente, aeronaves como o Boeing 757. No entanto, ele ressalta que a estrutura não é adequada para operações frequentes desse porte. “Eventualmente, uma ou outra até pode pousar em Goiânia, como acontece quando o aeroporto de Brasília é fechado, mas sem desembarque de passageiros. Essas aeronaves podem transportar de 200 a 250 pessoas e, com certeza, não temos a infraestrutura necessária para acomodá-los”, explicou.
No final de março, o prefeito Sandro Mabel participou de um encontro com o embaixador de Portugal no Brasil, que contou com a presença da presidente da Agência Municipal de Turismo e Eventos (GoiâniaTur), Nárcia Kelly, do cônsul Pedro Teles, do cônsul honorário de Portugal em Goiânia, José Pedro dos Santos, e do advogado Dyogo Crosara. Durante o evento, o prefeito discutiu a possibilidade de apresentar à TAP Air Portugal a proposta de um voo direto semanal entre Goiânia e Lisboa. No entanto, nenhuma aeronave da companhia possui condições técnicas para operar esse tipo de rota a partir de Goiânia.
Como citado, o A330 é incompatível com o Aeroporto Santa Genoveva devido ao seu tamanho e peso. Outra possibilidade seria o Airbus A321, mas ele não possui autonomia suficiente para realizar um voo transatlântico entre Lisboa e Goiânia. “Seria o único avião da frota que poderia operar a rota, com um alcance de 7.400 quilômetros, mas a distância entre Goiânia e Lisboa é de 7.480 quilômetros, o que inviabiliza o voo sem uma reserva de combustível, o que não seria seguro nem viável”, explicou o especialista da PUC-GO.
Atualmente, a única possibilidade mais viável de rota internacional partindo de Goiânia seria para Miami, na Flórida, nos Estados Unidos. Com uma distância de aproximadamente 5.700 quilômetros, a cidade americana está dentro da autonomia de aeronaves como o Boeing 737 MAX e modelos da família Airbus A320 — aviões que operam regularmente no Aeroporto Santa Genoveva e fazem parte das frotas das principais companhias aéreas brasileiras.
A ideia de implementar voos internacionais entre Goiânia e Miami não é ruim, já que a cidade americana, que abriga cerca de 130 mil brasileiros, é um dos destinos mais procurados por turistas do Brasil. Há possibilidades inúmeras de parcerias entre companhias aéreas e internacionais.
Considerando que há o Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek, acessível por um voo de cerca de 40 minutos, além de opções com escala em grandes cidades do Sudeste e Nordeste, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Natal, não há necessidade tão urgente de voos internacionais partindo de Goiânia. O mais interessante, neste momento, poderia ser o fortalecimento das rotas nacionais diretas, sem escalas.
Há também a discussão sobre as prioridades da gestão, tema levantado por diversos internautas nos comentários da publicação. Muitos goianienses pediram que o prefeito concentre seus esforços em áreas mais urgentes, como saúde, educação, zeladoria pública, mobilidade urbana e transporte coletivo.
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