Candidatos a prefeito de Goiânia pouco debateram propostas ao meio ambiente

Em meio a crise climática, os candidatos a prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB) e Fred Rodrigues (PL), deixam o meio ambiente de lado em seus planos de governo e falas nos debates. O estado de Goiás sofreu, durante o mês de setembro, com uma das piores secas de sua história, recordes de temperatura elevada, além do céu encoberto por fumaça e fuligem das queimadas por semanas seguidas. 

Apesar da expressiva votação de Adriana Accorsi, os representantes da esquerda foram deixados de fora da disputa, ainda no 1° turno. Apesar da temática acerca do meio ambiente e da sustentabilidade estarem nos holofotes, pouco os candidatos à prefeitura de Goiânia falaram sobre. Quando o assunto foi abordado, veio de maneira rasa. Isso porque o eleitorado goiano parece não se importar tanto com o tema, e por consequência, seus políticos também.  

Goiás é um estado com diversas nascentes e cursos d’água relevantes (para o país e para a América Latina), com grande mancha de Cerrado, atuação de mineradoras, vasta extensão de produção agropecuária, além da presença de comunidades indígenas e quilombolas, portanto, a atuação forte de uma secretaria do meio ambiente é fundamental. 

Um estudo recente realizado pelo De Olho nos Ruralistas revela que, dos 100 maiores municípios brasileiros, apenas 48 contam com secretarias ou órgãos dedicados exclusivamente à administração ambiental. Nas outras 52 cidades, as funções relacionadas a licenciamento, fiscalização, controle e monitoramento ambiental são integradas a secretarias mistas. Em 30% dos grandes centros urbanos, a gestão ambiental está vinculada a secretarias que também tratam de setores como agronegócio, mineração e turismo.

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A cena goiana se reproduz em sua capital: a administração de Goiânia precisa atuar com firmeza sobre a pauta ambiental a fim de proteger a qualidade de vida desta e das futuras gerações. Na capital, além da crise hídrica (que se abateu sobre todo o país) somada ao cenário das queimadas, outros pontos ligados ao meio ambiente se mostram urgentes, como a gestão de resíduos sólidos e os impactos das chuvas torrenciais, enchentes e enxurradas.

Apesar da urgência do tema, os debates entre os candidatos e seus respectivos planos de governo trazem propostas rasas ou proposta alguma abordando a questão ambiental. Durante os embates presenciais, os candidatos se concentram majoritariamente em ataques ao adversário. 

Sandro Mabel 

O plano de governo de Sandro Mabel traz cinco eixos centrais de atuação do empresário, caso seja eleito. As diretrizes elencadas para a gestão hipotética são: “promover serviços públicos com mais qualidade e com respeito ao dinheiro público”, “promover serviços públicos com mais qualidade e com respeito ao dinheiro público”, “investir com prioridade nas áreas estruturantes como educação, saúde e segurança”, “alavancar o desenvolvimento econômico por meio da valorização das vocações regionais da cidade” e “tornar Goiânia uma cidade resiliente e inteligente”. A temática da sustentabilidade ficou de fora das diretrizes centrais do plano de governo.

A expressão meio ambiente foi mencionada seis vezes no documento do representante do União Brasil. 

A primeira e a segunda menção ao tema vem quando se fala dos eixos apresentados para construção de uma nova Goiânia. Entre os nove eixos elencados está o meio ambiente. “No eixo Cidade, são apresentadas propostas para construir uma Goiânia que funcione de maneira eficiente e que seja acessível a todos os goianienses. Este eixo se desdobra em 9 áreas: cidade inteligente; cidade segura; mobilidade urbana; integração metropolitana; ordenamento urbano; meio ambiente; turismo; ciência, tecnologia e inovação; e relações internacionais”, afirmam. Neste ponto, não se desdobra a temática da sustentabilidade. 

A terceira menção surge na parte destinada à mobilidade urbana. “A qualidade dos serviços públicos de transporte coletivo aliados à eficiência na gestão do trânsito são fundamentais para o desenvolvimento da economia local, para a inclusão social e redução dos impactos no meio ambiente e urbano da cidade”, colocam, novamente, sem especificações ligadas às medidas que garantiriam a sustentabilidade.

A quarta menção aparece nas especificações do ordenamento urbano. “Organizar, regular o uso do solo e planejar o desenvolvimento das áreas urbanas adequadamente é essencial para promover a qualidade de vida dos habitantes, a preservação do meio ambiente e a resiliência climática da cidade”, afirmam, novamente, sem detalhar ações, medidas ou posturas. 

A quinta e a sexta menção acontecem no espaço destinado às 17 propostas feitas pensando no meio ambiente. 

Entre essas propostas, existem aquelas voltadas especificamente para ações em locais específicos, como: “Buscar investimento para execução das etapas restantes do Programa Urbano Ambiental Macambira Anicuns ”, “Criar o Parque Urbano do Setor Sul” e “implantação de mais dois projetos de Parque Linear para a cidade”.

Outros projetos prevêem formas de melhor administrar os danos ambientais já existentes, por exemplo: “implementar ações para remoção e desobstrução do espaço aéreo e sobrecarga dos postes com estruturas e fiação” e “criar o Plano de Prevenção de Catástrofes e Monitoramento de Áreas de Risco. 

Pensando em propostas que tragam abordagens concretas e não específicas, o documento apresenta: “Investir em Infraestrutura Verde e Resiliência Climática”, “Criar uma política de exploração e desenvolvimento científico ambiental, por meio de parceria com as universidades” e “criar a Política de Incentivo ao Plantio de Árvores”.

Clique aqui e leia o plano de governo de Sandro Mabel na íntegra.

Fred Rodrigues 

No plano de governo do candidato do Partido Liberal, a expressão meio ambiente é mencionada uma única vez. No segmento “desenvolvimento econômico”, abordando a revisão do Plano Diretor Municipal, o trecho que cita o termo diz: “Preservação do meio ambiente: Protege áreas ecológicas sensíveis, como nascentes de lençóis freáticos, garantindo a sustentabilidade dos recursos naturais”. Não foram especificadas quais medidas vão ser adotadas para garantir a preservação apresentada. 

No restante do documento, termos como ‘sustentável’ e ‘sustentabilidade’ são mencionados cerca de onze vezes, entretanto, a maioria está ligada às pautas da economia. 

Oito dessas menções acontecem quando se fala das mudanças no Plano Diretor da Cidade, sem especificar quais ações iriam garantir a sustentabilidade abordada. 

A sétima menção está ligada ao tema “Programa de Incentivo à Abertura de Micro e Pequenas Empresas” (também vinculado aos assuntos econômicos). Nesse ponto, se limitam a dizer: “Pequenos negócios contribuem para a economia local, promovendo o desenvolvimento sustentável”. 

As outras duas menções estão ligadas às discussões da “integração de um Sistema de Ônibus Circular para Pontos Turísticos”. Ambas estão presentes no trecho: “promoção do turismo sustentável: Reduz a dependência de veículos particulares, promovendo uma mobilidade mais sustentável”.

Diferente de Mabel, não existe parte destinada às propostas ligadas à pauta ambiental, e quando termos correlatos surgem é de maneira rasa, sem especificar as ações que garantem o desenvolvimento sustentável propagandeado. 

Clique aqui e leia o plano de governo de Fred Rodrigues na íntegra. 

Enquanto isso 

Uma pesquisa recente do Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) revela que Goiânia, a capital goiana, apresentou um alarmante aumento nas emissões de gás carbônico em 2022, com uma média de 1,61 tonelada por habitante. Os dados, coletados pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), indicam que a cidade está distante da meta da Agenda 2030 da ONU, que estabelece um limite de 0,83 tonelada por habitante. 

A pesquisa do ICS destaca que Goiânia se posiciona como uma das cidades com emissões elevadas, superando outras capitais como Recife (1,56 tonelada) e Fortaleza (1,64 tonelada), embora esteja abaixo de centros como Manaus (3,06 toneladas) e Rio de Janeiro (2,03 toneladas). Esse aumento nas emissões em Goiânia levanta preocupações sobre a capacidade da cidade em contribuir para os esforços globais de mitigação das mudanças climáticas.

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