Jovens chamam proibição de celulares na escola de ‘micão’ e debatem como burlar lei

BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Alunos do 1º ano de um colégio particular na zona sul de São Paulo declararam guerra ao presidente Lula (PT) num grupo do WhatsApp. Para eles, o fato de o petista ter sancionado uma lei proibindo o uso de celular em escolas do país é um “micão” e algo fácil de ser burlado. Táticas são debatidas.

Esconder o aparelho debaixo da roupa é a mais aceita. “Quem ousaria tocar?”, questionam os estudantes. Noutra mensagem, uma jovem diz que vai deixar seu Iphone na lancheira e, caso seja flagrada mexendo nela, já ter uma resposta: “Comer agora é crime?” Um colega elogia a ideia e diz planejar ir ao banheiro a cada meia hora para olhar as redes sociais. “É normal alguém ter dor de barriga, né?”, complementa.

Falando nas redes, a insatisfação dos alunos também é eloquente por lá —principalmente no X, ex-Twitter. Além de compartilhar seus planos contra a lei, os jovens escrevem críticas e xingamentos à gestão federal.

“O governo também está preocupado falta de merenda? Bullying? Um transporte bom para as pessoas?” —pergunta uma garota.

Além da lei federal, sancionada por Lula no último dia 13, o estado de São Paulo também aprovou a proibição do uso do aparelho tanto nas escolas públicas quando nas particulares, da educação infantil ao ensino médio. A lei paulista foi sancionada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em dezembro. As normas valem já para este ano letivo, mas a forma de implantação ainda é discutida nas redes.

O debate sobre o banimento do uso do celular por estudantes em todo o ambiente escolar se baseia em estudos que relacionam a explosão do uso dos smartphones à queda de aprendizado e ao aumento da depressão entre crianças e jovens.

Países como França, Espanha, Grécia, Dinamarca, Itália e Holanda já possuem legislações que restringem uso de celular em escolas.

Há, porém, uma questão incomodando os estudantes: o veto ao uso até no intervalo entre as aulas. Muitos dizem não ter amigos e encontrar um refúgio na internet.

A proibição ao uso de celular e outros dispositivos eletrônicos móveis (como tablets e relógios conectados à internet) por parte dos alunos vale em todo o ambiente escolar, tanto nas aulas quanto nos recreios, intervalos e em atividades extracurriculares. Na lei federal, as exceções estão previstas em situações que envolvam acessibilidade, inclusão, condições de saúde ou garantia de direitos fundamentais.

Para a implantação da medida, o MEC (Ministério da Educação) realizará uma campanha nacional de janeiro a março deste ano.

O primeiro mês será voltado para o engajamento de gestores e professores. Serão realizados seminários online sobre impactos do celular na escola, cursos saúde mental, além da distribuição de guias sobre a implementação da medida.

Em fevereiro, o MEC prevê trabalhar com famílias e educadores. Além de também apresentar guia sobre o tema, tratará dele em reuniões de família e educadoras. Apresentará ainda planos de aulas e recomendações de oficinas.

Já o último mês terá como foco os estudantes. O ministério quer dar apoio aos grêmios estudantis para realizar campanha entre os jovens, além de criar roteiro de atividades para etapas de ensino.

A lei nacional não diz onde o aparelho deve ficar guardado, abrindo assim a possibilidade, por exemplo, de que os estudantes escondam os aparelhos onde bem entenderem. Já no estado de São Paulo, está decretado que os alunos devem armazenar os celulares “de forma segura e inacessível”. O texto da lei entende ser uma opção dos estudantes levar o celular para a escola, por isso é deles a responsabilidade nos casos de perda dos aparelhos ou danos.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.