Marconi Perillo e a síndrome do “A culpa é minha e a coloco em quem eu quiser”

O nome do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, voltou a dominar as manchetes nacionais na última semana. E mais uma vez, em contexto negativo. Isso porque o atual presidente nacional do PSDB foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) que apura desvios de recursos da saúde de 2012 a 2018, período em que o tucanato ainda imperava no Estado de Goiás. A investigação, que deu origem à Operação Panaceia – na mitologia grega, a deusa da cura -, apontou irregularidades em contratos celebrados com uma Organização Social (OS) para a gestão de dois hospitais.

A OS, conforme os investigadores, teria sido usada como fachada para contratar empresas de políticos e fazendo com que o dinheiro gasto pelo Estado voltasse aos gestores responsáveis por autorizar as contratações. Agentes da PF, inclusive, foram até a casa do ex-governador em Goiânia, localizada em um condomínio de luxo, para o cumprimento de um mandado de busca e apreensão, mas o tucano estava em São Paulo no momento da ação.

Marconi negou as acusações. Em nota enviada à imprensa, o ex-governador de Goiás disse ser alvo de “factoides” e de uma ação que, segundo ele, foi conduzida com “extrema crueldade”. “Não tem um único centavo em minhas contas e de minha família que não seja oriundo do meu trabalho e declarado no Imposto de Renda. Estão tentando criminalizar movimentações lícitas e legais e todas declaradas aos órgãos competentes. Isso é um absurdo!”.

A negativa dos ilícitos alegados na investigação e denúncia de uma apontada “perseguição”, claro, eram esperadas. Esses são, por tradição, sempre os primeiros argumentos usados por figuras públicas alvos de operações policiais ao iniciarem suas defesas. Contudo, essas justificativas ficaram no papel de coadjuvantes na postura adotada por Marconi. O tucano, como meio de tentar desqualificar a operação federal da qual foi alvo e se defender de seus impactos, decidiu culpar… o governo do Estado.

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Marconi Perillo e Ronaldo Caiado são rivais declarados e antigos da política goiana, e isso não é segredo para ninguém. Assim como não é segredo que Marconi tem pretensões políticas para 2026 – o tucano deve se lançar ao Senado ou ao Palácio das Esmeraldas – e, para tal, tem tentado manter uma postura ativa de oposição à atual gestão, mesmo que de forma um tanto quanto capenga e distinta de seu perfil, com vídeos curtos publicados em redes sociais.

É compreensível que o ex-governador aponte o atual como o responsável por problemas referentes ao Estado de Goiás, mas é, no mínimo, cômico quando ele tenta atribuir a Caiado a responsabilidade por uma operação oriunda da Justiça federal, autorizada e cumprida por órgãos federais, pertencentes a uma esfera cujo líder máximo é, também, um adversário político do atual governador goiano.

Disse Marconi: “Mesmo esperando uma reação aos meus vídeos de denúncias por parte do grupo comandado por Caiado e que hoje domina Goiás e suas instituições, não imaginava que eles, mais uma vez, ousassem usar o poder do Estado para me perseguir, constranger e tentar calar”.

Ou seja, para o tucano, do Palácio das Esmeraldas partiu a ordem para uma operação autorizada pela Justiça Federal, que já havia sido barrada pelo Ministério Público Federal, retomada, mais uma vez, pela Justiça Federal, embasada em dados da Controladoria-Geral da União (órgão do governo federal responsável pela defesa do patrimônio público e pelo incremento da transparência na gestão) e executada pela Polícia Federal.

Ora, neste caso, há de se parabenizar o governador do Estado, que, na visão de Marconi, antes mesmo de disputar o Palácio do Planalto, já o dominou por completo, subjugando a presidência da República a os órgãos a ela ligados, mandando e desmandando operações federais.

Em sua ânsia de justificar e tentar amenizar mais uma operação policial que o tem como alvo, Marconi Perillo se perde no velho personagem de “perseguido” e inventa tramas que não se sustentam na realidade. É inevitável associar a postura do ex-governador ao do conhecido personagem de desenho animado, Homer Simpson. Em um episódio em que, mais uma vez, sofre com as consequências de seus atos estapafúrdios, Homer é interpelado por sua sábia filha Lisa de que ele não poderia culpar os outros pelos resultados de seus próprios atos. O patriarca da família Simpson responde, categórico: “Lisa, a culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser”.

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