PL saiu mignon da disputa de 2024 e pode sair grande em 2026 se compor com Daniel Vilela e Gracinha Caiado

A política é uma universidade da razão disfarçada de faculdade das emoções. Políticos que operam com base apenas em intuições e em certezas irracionais até podem ganhar uma eleição, mas tendem a não vencer as próximas.

A política moderna exige, além das articulações políticas de praxe — a ampliação das alianças e a divisão dos adversários, o que também é uma atividade plenamente racional —, o uso de pesquisas qualitativas e quantitativas.

Aquele que planeja disputar eleições majoritárias precisa ter um mapa completo do quadro político do Estado (e, no caso de candidato presidencial, do país) e, ao mesmo tempo, precisa apreender o que a sociedade exige dos postulantes ao cargo de gestor da máquina pública. O candidato precisa saber com quais forças poderá compor e quais sãos “humores” do eleitorado.

Assiste-se, neste momento, o presidente Lula da Silva, do PT, preparando uma reforma do ministério que tem a ver menos com a questão administrativa e muito mais com a questão político-eleitoral de 2026.

Lula da Silva prepara, digamos, o “bote” — sedutor que é — para tentar “capturar” parte substancial do centro político. Porque o centro será decisivo na disputa eleitoral de 2026 — daqui a um ano, sete meses e 18 dias.

Observa-se que Lula da Silva está tentando absorver também parte da direita, ou centro-direita. Jair Bolsonaro, que nada tem de bobo — só é inculto (dos que confundem Kafka com Kafta) —, percebeu que o presidente opera, com alguma desenvoltura, no meio evangélico.

Professor Alcides Ribeiro (Aparecida), Fred Rodrigues (Goiânia) e Lissauer Vieira (Rio Verde): três derrotados pelo isolamento político | Foto: Jornal Opção e Divulgação

O petista-chefe sabe que não terá 50% dos votos evangélicos. Mas trabalha para reduzir a força do bolsonarismo entre eles e, por isso, quer o apoio de pelo menos parte daqueles que estão mais próximos da direita ou da centro-direita.

Ao mesmo tempo, Lula da Silva vai circular pelo país, ao lado da primeira-dama Janja. Primeiro, para se reapresentar. Segundo, para informar que está de olho em todos os Estados. Terceiro, para provar que está bem de saúde e, por isso, o eleitorado pode acreditar que dará conta do recado, se for reeleito. Será o quase-candidato se portando como estadista, dialogando com políticos e segmentos da sociedade, para além das ideologias.

As pesquisas, quantis e qualis, estão levando a estrutura de Lula da Silva a uma guinada para o centro. Então, o governo terá mais a cara do centro e do próprio Lula da Silva e menos do PT. Trata-se de uma clara tentativa de conquistar outro mandato. Há inteligência política e ciência por trás das ações do petista-chefe.

Isolamento levou PL ao desastre político em 2024

Se Lula da Silva, líder máximo do PT, está operando novas alianças, passando por cima de ideologias — que trata como “circunstanciais” — e operando com um pragmatismo absoluto, o que fará o Partido Liberal de Jair Bolsonaro em nível nacional e em Goiás?

No plano nacional, se não começar a formatar uma aliança, se tornando mais agregador, o grupo de Jair Bolsonaro corre o risco de caminhar sozinho, talvez com uma candidatura suicida, e perder parte substantiva de seus aliados tanto para outras direitas quanto para Lula da Silva.

Em 2024, por orientação equivocada de políticos não necessariamente ruins mas relativamente amadores e impulsivos, o PL saiu do pleito com uma estrutura mignon. Porque não soube fazer alianças, no espectro da própria direita e da centro-direita. Radicalizou-se e, por isso, seus candidatos perderam.

O Partido Liberal não tem uma estrutura adequada para a disputa eleitoral de 2026 porque não soube construir alianças sólidas, no campo da direita, para se fortalecer em 2024. Seus líderes esqueceram que o personalismo — do tipo “eu ganho sozinho, pois sou popular” (“pecado” supremo do populismo) — raramente funciona em disputas majoritárias.

Citemos três resultados desastrosos para o PL na eleição de 2024, em Goiânia, Aparecida de Goiânia e Rio Verde, três cidades que, com Anápolis e Luziânia (onde o PL também perdeu), contam com o maior número de eleitores de Goiás.

Em Goiânia, o candidato do PL a prefeito, Fred Rodrigues, foi para o segundo turno em primeiro lugar. Mas acabou perdendo para Sandro Mabel, do União Brasil.

Sandro Mabel ganhou principalmente porque encorpou sua aliança político-eleitoral no segundo turno. Ganhou com uma votação expressiva. Ele obteve 163.243 votos a mais do que no primeiro turno. Ficou com 55,53% dos votos válidos.

Isolado, sem conquistar novos aliados, Fred Rodrigues conquistou apenas 68.801 votos a mais do que no primeiro turno (44,47% dos votos válidos).

Em Aparecida de Goiânia, Leandro Vilela (MDB) ganhou do deputado Professor Alcides nos dois turnos. No segundo turno, obteve 132.230 (63,60%). Professor Alcides conquistou 75.675 votos (36.40%). A derrota acachapante tem a ver com o isolamento político e o discurso radical adotado pelo candidato e seus aliados. O PL cometeu um erro crasso: tentou nacionalizar uma eleição municipal, o que nunca funcionou em Goiás.

Em Rio Verde, o município mais próspero do Sudoeste goiano, o candidato do PL obteve uma votação vexatória: 24.805 votos (22,46%). O vencedor, Wellington Carrijo, do MDB, conquistou 69.209 votos (62,67%).

Na cidade com mais eleitores do Entorno de Brasília, Luziânia, o vexame ainda foi maior. O candidato do União Brasil, Diego Sorgatto, foi reeleito com 75,32 dos votos válidos. O postulante do PL ficou com 13,37%.

Em Anápolis venceu Márcio Corrêa, mas ele é muito mais do PD (Partido do Daniel) do que do PL. O prefeito de Novo Gama, Carlinhos do Mangão, está prestes a abandonar o Partido Liberal. Porque apoia o governo de Ronaldo Caiado e irá apoiar Daniel Vilela para governador, em 2026.

Sucesso do PL em 2026 pode passar por Daniel Vilela

O senador Wilder Morais, do PL, quer ter como inspirador o mineiro Tancredo Neves ou o pernambucano Severino Cavalcanti, o fugaz? | Foto: Reprodução, Câmara dos Deputados e Senado

O PL aprendeu com o recado das urnas de 2024? É provável. O senador Wilder Morais, o deputado federal Gustavo Gayer, o vereador Major Vitor Hugo e o ex-deputado Fred Rodrigues não são néscios nem nefelibatas. Portanto, certamente, não vão repetir as táticas e a estratégica da disputa pelas prefeituras. Porque deram errado.

O que irá fazer o PL de Wilder Morais, Gustavo Gayer, Márcio Corrêa, Major Vitor Hugo e Fred Rodrigues? Irá para uma aventura solo, como Professor Alcides, Fred Rodrigues e Lissauer Vieira, na disputa passada? Não é racional.

Quando se trata de 2026, o que é (racional) para o PL, com sua estrutura mignon e superdependente da imagem de Jair Bolsonaro?

Antes de apresentar a hipótese racional, é preciso frisar que os políticos do PL, como Wilder Morais, Gustavo Gayer e Major Vitor Hugo, têm o direito de seguir os caminhos que quiserem, que avaliarem como mais corretos do ponto de vista partidário e pessoal. Por exemplo, lançar candidatos a governador (Wilder Morais ou Zacharias Calil) e a senador (Gustavo Gayer, Major Vitor Hugo ou Zacharias Calil).

Entretanto, a hipótese racional é outra. Uma composição com Daniel Vilela e Gracinha Caiado, que será candidata a senadora, poderá fortalecer o PL em Goiás. O partido teria chance de eleger um senador — Gustavo Gayer ou Major Vitor Hugo — e grandes bancadas de deputado federal e estadual.

Daniel Vilela será candidato a governador e Gracinha Caiado está definida como candidata a senadora. Sobram a vice e a vaga de candidato a senador.

A vice será (já está sendo) intensamente disputada por Adriano Rocha Lima (União Brasil), Célio Silveira (MDB), Diego Sorgatto (União Brasil), Gustavo Mendanha (MDB), José Mário Schreiner (MDB), Paulo do Vale (União Brasil) e Pedro Sales (União Brasil). São sete nomes qualitativos.

A vice é altamente disputada porque, se Daniel Vilela for eleito em 2026, não poderá ser candidato em 2030. Então, seu vice assumirá o governo, em abril de 2030, e se tornará, de cara, candidato a governador. É o motivo da disputa renhida.

Uma vaga do Senado está aberta. No caso de composição com o PL, a vaga seria de Gustavo Gayer ou de Major Vitor Hugo (fale-se também no cantor Gusttavo Lima). Com uma chapa majoritária forte, com Daniel Vilela (governador), Adriano Rocha (vice), Gracinha Caiado (senadora) e Gustavo Gayer ou Major Vitor Hugo (senador), dificilmente outro grupo político terá condições de vencê-la. O jogo poderá terminar no primeiro turno, sem a prorrogação, quer dizer, o segundo turno.

A política é uma atividade sempre racional? Às vezes, é. Às vezes, não é. Em 2024, na capital, o PL perdeu o senso de racionalidade e ficou menor. Prevaleceu a irracionalidade e, também, os interesses mais pessoais do que partidários.

Em 2026, tende a prevalecer a racionalidade? Talvez sim. Talvez não. A composição com Daniel Vilela e Gracinha Caiado fortaleceria o PL, por certo. Uma nova derrota, agora de maior porte, poderá transformar o partido e seus principais líderes em pó.

Wilder Morais, se compor com Daniel Vilela em 2026, poderá se tornar um candidato forte a governador ou a senador em 2030. Mas ele pensará como Tancredo Neves ou como Severino Cavalcanti? Em 2024, agiu como o ex-presidente da Câmara dos Deputados. Resta saber se, daqui a um ano e sete meses, se comportará como o político de Minas Gerais ou como o político de Pernambuco.

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