A hipocrisia de Djonga

O rapper mineiro lançou seu oitavo álbum muito mais maduro, com uma sonoridade de início calma, letras ainda mais simbólicas e um equilíbrio dolorido na foma de cantar. As batidas ficam, muito mais modernas embalam a letra cada vez mais íntima do cantor. Muito acima da média mesmo na pior fase, canta Gustavo depois da demo tape “Inocente”, ele revela toda sua hipocrisia desde a primeira frase do novo álbum.

A troca que faz, mostrando, mais uma vez, a sua própria faceta, de Gustavo, e não somente Djonga, para mostrar, talvez, quem é. Mas a real é que ele nem precisa de nome. Do menino que queria ser Deus, a quem sente fome a insaciável de Exu, uma fome de quem é efêmero, de quem descobriu que é humano.

É de longe o melhor álbum e a melhor produção dele até aqui. Traz sua hipocrisia de quem quer dominar o mundo, com os pés no chão, acompanhado da sua ancestralidade. É o álbum com mais referências às religiões afro-brasileiras, começando do ancestrais das colheitas de algodão à Iemanjá, Orunmilá, Ogum, Xagô, Oxóssi e Exu, apenas nas duas primeiras faixas.

Encarte do álbum Quanto mais eu quanto mais eu como mais fome eu sinto | Foto: Reprodução

É um disco de peito aberto, focado no coração desde a capa, onde exibe as lágrimas douradas, de quem transformou sua dor em sucesso, em hit. Um cara comúm e sensível.

É bom ouvir um álbum que faça sentido, ouvido no todo, no conjunto.

“O poder te faz ser vilão igual Thanos
Já que agradar a Grego e Troianos
Não é o estilo dos manos
Uns pagaram de estrela
E viraram estrelinha
Leia as entrelinhas
Se tu não entende o que eu tô falando!
Sempre atento pois num é conto da carochinha
E desde as garrunchinha os mesmos tão morrendo
E os mesmos tão matando!”.

Intuição pura, traz Milton Nascimento na virada do meio do fim do disco com “Demoro a Dormir”. É o segunda produção produção com o selo da própria gravadora ‘A Quadrilha’. Coyote Beatz produz e escreve as faixas junto de Djonga nas faixa 1, 2 e 3, 5 e 9. Divide letras com Rapaz do Dread, Samuel Rosa [Skank], RT Mallone e a carioca Dora Morelenbaum do meio para o fim.

“Do campo pra dentro!… Um negro livre, escute a voz do negro livre.”

1 FOME
2 PPRT !
3 REAL DEMAIS
4 QQ CÊ QUER AQUI?
5 JOÃO E MARIA
6 MELHOR QUE ONTEM
7 DEMORO A DORMIR (Ft. Milton Nascimento)
8 SELVAGEM
9 LIVRE
10 TE ESPERO LÁ (Ft. Samuel Rosa)
11 PONTO DE VISTA (Ft. RT Mallone)
12 AINDA (Ft. Dora Morelenbaum)

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