A atriz Maria Menezes estreia espetáculo-solo
| Foto: Divulgação
A presença digital constante é algo que intimida Maria Menezes. Com mais de 30 anos de carreira, a sergipana admite que não considera muito as redes sociais quando pretende prospectar trabalhos. “Sou de uma época em que o ator era convidado para os projetos”, explica. “Hoje, o comediante é a própria empresa”.Conhecida do grande público principalmente pelos trabalhos na televisão e no teatro, Maria se viu recentemente à frente de um desafio ao produzir a primeira peça sozinha: “Foi como parir novamente”.Em 2023, a atriz estreou o monólogo Maria Ao Vivo! (Ou Mamãe Tá Aqui), que trata com bom humor de temas como casamento, gravidez e a vida da mulher contemporânea. “Produzir, assinar um texto, investir do meu dinheiro… Foi como assumir a minha maturidade de atriz, e olha quanto tempo demorou”.A iniciativa acompanhou as mudanças do mercado, segundo Maria. Para a humorista, a relação que criou com o público ao longo da carreira permite que ela não precise das redes sociais para conquistar novos trabalhos. “É um alívio porque não é minha praia”, reconhece. “O ator mais antigo está perdido nessa cena nova”.Ela admira a projeção que a internet oferece para os atores, especialmente os iniciantes e os que surgem de lugares com menos atenção dos veículos tradicionais. Esse é o caso de João Seu Pimenta. Nascido em Pojuca, cidade situada na Região Metropolitana de Salvador, o comediante soma dois milhões e meio de seguidores em redes como YouTube, Instagram e X (antigo Twitter).Nos perfis, o baiano faz publicações bem-humoradas com críticas à sociedade e relatos sobre a própria vida. Em um dos vídeos de maior audiência, com mais de 13 milhões de visualizações, João dança uma música de pagode com mensagens evangélicas.”Já fiquei conhecido por inúmeros formatos e acredito que a comédia sempre teve um papel fundamental em criticar sistemas de convenção social”, afirma João. “Mas, na minha vez de fazer isso, me chamam de militante, porque incomodo bastante e tenho orgulho disso”. As polêmicas ajudam a criar uma comunidade que não só compreende as mensagens do comediante, mas também o defende de qualquer ataque. “Fecho muito mais portas do que abro, porém as que eu abro tenho certeza que são as dos lugares em que eu deveria estar”.Migração
Renata Laurentino falou da cena da comédia em Salvador
| Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE
O baiano Matheus Buente também tem aberto portas. No ano passado, o show solo do comediante passou por algumas cidades do Brasil como Rio de Janeiro, Aracaju e Recife. Segundo Matheus, é preciso sair de Salvador para conseguir se sustentar como humorista. Ele lembra os casos do ator Renato Piaba e da Cia Baiana de Patifaria, do sucesso A Bofetada, que ficou nos palcos por quase 30 anos.“Eles conseguiam se sustentar no teatro de Salvador, todo sábado e domingo, por meses”, aponta. “O público mudou de perfil, hoje o soteropolitano prefere investir o dinheiro do lazer em opções diversas”.Na opinião de Matheus, esse é um dos motivos que obriga comediantes a rodar o Brasil em busca de outros mercados mais aquecidos. Segundo Tiago Banha, é importante fidelizar o público local antes de cruzar as fronteiras.“Ter Salvador como pauta das piadas não é um obstáculo, é uma vantagem”, afirma. Ele não costuma adaptar o texto quando se apresenta para outros públicos fora da capital baiana. “As pessoas nos procuram pelo nosso sotaque, pela nossa vivência, então, não faz sentido alterar”, diz.Segundo João Seu Pimenta, manter os mesmos textos é uma questão de resistência. “Se um cara do Sudeste vem para cá, fala sobre o Rio Tietê e todo mundo entende, por que eu tenho que mudar meu texto quando falo da Caixa D’água do Tomba, em Feira de Santana?”, provoca o comediante. João ainda aponta que o humor da Bahia é visto como comédia regional se comparado ao paulista ou carioca, entendidos como estilos nacionais de comédia.Para Maria Menezes, produções como o filme O Paí, Ó, dirigido por Monique Gardenberg e com roteiro baseado no espetáculo do Bando de Teatro Olodum, ajudaram a tornar o humor baiano mais conhecido em todo o país. As redes sociais continuam com o trabalho de pulverização deste estilo, ainda segundo a atriz. “A comédia baiana não é mais local, todo mundo quer falar ‘lá ele’, sem nem saber o que significa direito, porque é legal ser daqui”. Para Maria, é o trabalho dos atores e companhias que fortalece e divulga a cena local.De acordo com João, o melhor ensinamento para lidar com as dificuldades e possíveis críticas está no texto que assina e apresenta ao público: “Ataco não quem já sofre, mas quem faz sofrer”. Ele agradece a audiência que assiste aos vídeos que publica e está presente nos shows, afinal, é ela quem viabiliza novos voos. “A melhor resposta quem dá é o público, no fim das contas”.