Educação pública: um dever exclusivo do Estado e não da Igreja

O ex-prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (SD), pastor licenciado da Igreja Universal, não disputou eleição e nem conseguiu a tão sonhada reeleição, mas foi eleito o pior prefeito do Brasil. Ele encerrou a sua gestão com 92% de rejeição, sendo a administração mais mal avaliada entre todas as capitais do Brasil, segundo pesquisa do Instituto Atlas Intel. Cruz será sempre lembrado pelas inúmeras crises enquanto esteve à frente da prefeitura, com destaque para a falta de transparência, incapacidade de gestão, privatização de serviços, desvalorização do servidor público e pelo excesso de contratações temporárias. Também não podemos nos esquecer das investigações policiais.

Em 2024, Rogério Cruz fechou o único abrigo público para crianças da Capital, o Niso Prego, e começou a encaminhar verba pública para o abrigo Eunice Weaver, da igreja evangélica Videira. Apesar de não atender aos pedidos da população, Cruz foi bem atencioso aos interesses de sua bolha evangélica. E ele, infelizmente, não é um caso isolado. Além de sucatearem os serviços para depois privatizá-los, alguns gestores públicos agora têm terceirizado suas responsabilidades para outras instituições: as igrejas.

Disfarçadas de organizações sociais, mas sem nenhuma obra, igrejas e empresas tem comido uma fatia cada vez maior do bolo, ganhando emendas em processos nada transparentes, e deixando os pobres com as migalhas.

Papel dos evangélicos e do Estado

Apesar dos evangélicos terem dominado a esfera política no Brasil, o Estado ainda é laico e as políticas públicas devem ser feitas para atender a todos, especialmente em um país tão marcado pela diversidade religiosa, cultural e social. A educação pública, como um direito fundamental assegurado pela Constituição Federal, deve ser responsabilidade exclusiva do Estado. Este modelo é essencial para que todas as crianças tenham acesso a um ensino gratuito, de qualidade e plural, sem interferências religiosas ou ideológicas.

O Censo 2022 revelou que o Brasil tem 580 mil templos religiosos, o que é mais do que a soma de escolas e hospitais. Na falta de assistência do Estado e com o descompromisso crescente dos parlamentares brasileiros, as pessoas têm buscado cada vez mais socorro em Deus. É inegável que as igrejas desempenham um papel importante no amparo espiritual e na assistência social, mas a atuação não deve se confundir com a administração de direitos básicos, como a educação.

O papel do Estado é prover condições para que as crianças e jovens tenham acesso a oportunidades iguais, preparando-os para uma convivência harmoniosa e respeitosa em um mundo cada vez mais diverso e interconectado. O Estado não deve guiado pela religião do então prefeito/governador ou presidente, e somente o governo pode garantir que a educação seja livre de discriminação e imparcial, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seus direitos e deveres.

Educação com instrumento de inclusão e desenvolvimento

Após Rogério Cruz deixar o comando, Sandro Mabel (UB) assumiu como mandatário executivo municipal. Mabel anunciou nesta semana a abertura imediata de 2.750 vagas na educação infantil do município para crianças de até três anos. As igrejas Videira, Assembleia de Deus e Terra Fértil deverão oferecer mais de 1.000 vagas para alunos nessa faixa etária. No entanto, ainda não há detalhes de como será essa transferência, quanto de dinheiro será destinado e como será a transparência deste processo. É importante que a medida seja temporária, com data para o poder público reassumir sua função.

É o dever do Estado garantir que a educação seja um instrumento de inclusão e desenvolvimento, e não uma ferramenta de segmentação ou doutrinação. As escolas não devem ensinar criacionismo, mas sim Ciências Exatas e da Natureza e Linguagens, além de inteligência emocional, educação financeira, tecnologia e tudo que um adulto da próxima geração vai precisar saber para sobreviver neste mundo cada vez mais acelerado.

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