Crise climática interrompeu aulas de 1,17 milhão de crianças do Brasil em 2024

ISABELA PALHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Mais de 242 milhões de crianças e adolescentes de 85 países tiveram a vida escolar interrompida por eventos climáticos extremos em 2024, segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Só no Brasil, foram mais de 1,17 milhão de meninos e meninas impactados.

O dado inédito é do estudo Aprendizagem Interrompida: Um Retrato Global das Perturbações Escolares Relacionadas ao Clima, divulgado nesta quinta-feira (23), data em que é comemorado o Dia da Educação.

É a primeira vez que o órgão da ONU examina os eventos climáticos que resultaram no fechamento de escolas ou na interrupção das aulas.

O estudo aponta que as enchentes foram o principal motivo para a interrupção das atividades letivas no Brasil. As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado deixaram mais de 740 mil alunos sem aula, depois de 2.338 escolas estaduais serem afetadas.

O Unicef também destacou a seca na região amazônica, que fez com que mais de 100 escolas em áreas indígenas, juntamente com 1.600 escolas fora dessas áreas, ficassem sem aulas por tempo prolongado impactando 436 mil estudantes.

Na análise global, as ondas de calor foram o risco climático predominante para o fechamento das escolas. Só em abril do ano passado, mais de 118 milhões de estudantes foram afetados pelas altas temperaturas.

Segundo o relatório, nesse período, as temperaturas chegaram a alcançar 47°C em algumas regiões do sul da Ásia, colocando as crianças em risco de insolação. Por isso, países como Bangladesh e as Filipinas registraram o fechamento generalizado de escolas e o Camboja decidiu reduzir o horário escolar em duas horas.

“Os corpos das crianças são particularmente vulneráveis. Eles aquecem mais rápido, suam com menos eficiência e esfriam mais lentamente que os adultos. As crianças não conseguem concentrar-se em salas de aula que não oferecem proteção contra o calor sufocante e não conseguem chegar à escola se o caminho estiver inundado ou se as escolas forem destruídas”, disse Catherine Russell, diretora executiva do Unicef.

A Folha de S.Paulo mostrou que economistas do Banco Mundial fizeram uma projeção de que o aumento de dias com altas temperaturas pode levar à queda de rendimento escolar das crianças brasileiras.

Estudos já mostraram que o excesso de calor prejudica a aprendizagem por afetar a concentração, memória e a saúde física e mental dos alunos. Em setembro, outro relatório do Unicef já havia apontado que as crianças brasileiras enfrentam atualmente em média cinco vezes mais dias de extremo calor do que as crianças de 50 anos atrás.

O órgão projetou ainda que entre 2050 e 2059 essa situação deve se agravar, com oito vezes mais crianças expostas a ondas de calor e três mais expostas a cheias fluviais, em comparação com a década de 2000.

“A educação é um dos serviços mais frequentemente interrompidos devido aos riscos climáticos. No entanto, é frequentemente ignorado nas discussões políticas, apesar do seu papel na preparação das crianças para a adaptação climática”, disse Russell.

Apesar de os eventos climáticos extremos terem causado prejuízos educacionais em todas as regiões do mundo, o relatório destaca que 74% dos alunos afetados estavam em países com baixo desempenho escolar, como é o caso do Brasil.

“Globalmente, os sistemas educativos já estavam falhando com milhões de crianças. A falta de professores qualificados, as salas de aula sobrelotadas e as diferenças na qualidade e no acesso à educação têm criado, há muito tempo, uma crise de aprendizagem que os riscos climáticos estão exacerbando”, diz o estudo.

Na Europa, as chuvas torrenciais e inundações foram os principais causadores da interrupção. Em setembro do ano passado, mais de 900 mil estudantes da Itália foram prejudicados pelas tempestades.

Em outubro, mais de 13 mil crianças foram afetadas na Espanha.

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