Programa de reciclagem dá cashback e evita emissão de 4.700 toneladas de CO2

JOSÉ CARLOS VIDEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O índice de reciclagem de resíduos sólidos no Brasil atingiu 8% no ano passado, segundo estudo da Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente). O indicador é baixo se comparado aos mais de 55% de reciclagem nos países da Europa ocidental.

Mas, a depender do exército de milhares de catadores que atua no país e de iniciativas que ajudam a criar o hábito da reciclagem, aos poucos, esse índice pode melhorar.

Casos como a da So+ma, startup brasileira que promove o descarte adequado de lixo reciclável, podem fazer a diferença. Criada em 2015, a empresa oferece uma espécie de cashback a quem leva a seus postos de coleta, batizados de Casa So+ma, materiais que iriam para o lixo.

Por meio de um aplicativo, as pessoas conseguem saber no local quanto a sua contribuição representou em termos ecológicos e quanto acumulou de pontos. O resultado da ação pode ser trocado por descontos no comércio e em serviços oferecidos por parceiros da So+ma nas localidades onde atua, a depender da pontuação obtida, conforte quantidade e tipo de material.

Desde o lançamento do projeto, já foram recolhidos pela startup mais de 5 mil toneladas de materiais, entre plásticos, vidros, alumínio, papel e papelão. Segundo a empresa, esse volume contribuiu para evitar a liberação de mais de 4,7 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, além de promover a economia de água e de eletricidade para cerca de 600 mil pessoas por dia.

Hoje, cerca de 50 mil pessoas estão cadastradas no aplicativo para levar materiais a 18 Casas So+ma nas cidades de Salvador e Camaçari, na Bahia, e em Curitiba e Campo Largo, no Paraná. Montadas em contêineres de 6 a 12 metros quadrados, as estruturas têm um espaço de recepção e outro destinado ao armazenamento de materiais coletados.

Segundo a fundadora da So+ma, Cláudia Pires, todo o material recolhido é doado a cooperativas de catadores parceiras, cujo retorno da venda do material financia suas respectivas gestões e ainda garante renda às famílias cooperadas.

“A So+ma é remunerada pela gestão do programa em cada cidade, mediante parcerias com empresas”, diz Cláudia. Ela antecipa que o projeto deve crescer em 2025, com mais nove postos de coleta em Salvador, juntando-se aos 11 já em operação na capital baiana.

Recolher tampinhas plásticas de garrafas que teriam como destino certo o meio ambiente é outra iniciativa que mobiliza as pessoas a promover o descarte adequado de plástico. Criado em 2016 pelo Instituto SustenPlást, com o apoio do Movimento Plástico Transforma, o projeto Tampinha Legal já recolheu quase 1 bilhão de tampas plásticas, o equivalente a 1,6 mil toneladas, ou cerca de 132 carretas, segundo cálculos da gerente do SustenPlást, Simara Souza.

Em operação em dez Estados, o Tampinha Legal já evitou a emissão de mais de 3.300 toneladas de CO2 na atmosfera ao longo de oito anos. No mesmo período, gerou renda de R$ 4 milhões, destinados integralmente a 509 entidades assistenciais.

Esses números parecem pouco se comparados a grandes programas de reciclagem de materiais no Brasil.

No ano passado, por exemplo, mais de 90 bilhões de latas de alumínio foram recicladas no país, ou 99,7% do total das 397,2 mil toneladas de latas comercializadas, em 2023, de acordo com o
Relatório de ESG Setorial da Abralatas (Associação Brasileira da Lata de Alumínio).

Segundo a entidade, nos últimos dez anos, a reciclagem de latas de alumínio evitou a emissão de 18 milhões de toneladas de gases do efeito estufa. Além de contribuir para a natureza, 800 mil famílias de catadores são beneficiadas com a reciclagem desse material no Brasil.

Diante desses volumes, iniciativas como as da Tampinha Legal e da So+ma parecem até uma gota no oceano. Só que, nesse processo de reciclagem, cada grama conta. A produção de um quilo de alumínio reciclado, por exemplo, garante a economia de cinco quilos de bauxita, matéria-prima do alumínio.

“Se o programa Tampinha não existisse, as tampas plásticas recolhidas não teriam se transformado em novos artefatos, economizando água, energia, matéria-prima e ainda evitando a emissão de gases de efeito estufa”, afirma Simara. Ela lembra que cada quilo de polipropileno recolhido, usado na fabricação de tampas plásticas, evita-se a emissão de cerca de dois quilos de CO2.

Para a fundadora da So+ma, o foco está em criar uma cultura de responsabilidade compartilhada para construir um sistema mais eficiente, alinhado aos princípios da economia circular. “Lidamos com algo fundamental: a mudança de comportamento”, resume Cláudia.

Com curadoria das cooperativas de catadores, a Abre (Associação Brasileira de Embalagem), lançou em 2022 o Lupinha, um código de barras nas embalagens dos produtos com orientações para o descarte correto. “O consumidor é o primeiro elo nessa cadeia. Se ele não fizer o descarte correto, a economia circular torna-se impossível”, ressalta a gerente de Sustentabilidade e Projetos Especiais da Abre, Isabella Salibe.

Esse trabalho de formiguinha se soma a ações de grandes recicladoras que processam milhares de toneladas de resíduos. Segundo o Anuário da Reciclagem 2023, do Instituto Pragma, 1,774 milhão de toneladas de materiais foram coletados e destinados à reciclagem por entidades de catadores em 2022.

O volume representou redução de 876,3 mil toneladas de emissão de CO2 para a atmosfera.

Por não terem sido descartados no meio ambiente, os materiais transformam-se em matéria-prima secundária que realimenta o ciclo dos produtos na cadeia de produção do aço, do alumínio, do plástico, do vidro, do papel e do papelão, entre outros materiais.

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