Peça ‘Koanza: do Senegal ao Curuzu’ faz temporada no Teatro Jorge Amado

A personagem Koanza, criada pelo ator Sulivã Bispo, retornou aos palcos para a nova temporada do espetáculo Koanza: do Senegal ao Curuzu. A volta da produção marca também a sétima temporada da ialorixá se apresentando em Salvador, a estreia ocorreu ontem (7) no Teatro Jorge Amado e as próximas sessões vão ser exibidas às sextas-feiras, sábados e domingo até o dia 16 de fevereiro.A produção contará com as participações especiais do bloco afro Ilê Aiyê, que convida a Banda Didá, e do Cortejo Afro, que convida Malê Debalê.A peça, dirigida por Thiago Romero, acompanha a jornada de Koanza, que retorna à Bahia após um período na África com a missão de enfrentar o avanço de discursos cristãos que atacam os cultos de matriz afro-brasileira.Aqui, ela se depara com um Brasil marcado por intensas disputas políticas e raciais, sob o governo de um presidente evangélico. Diante desse cenário, Koanza se vê desafiada a proteger o Curuzu da opressão religiosa e política, enfrentando inúmeros obstáculos ao longo de sua missão.Embora o humor seja o fio condutor do espetáculo, Koanza: do Senegal ao Curuzu também se firma como uma obra de reflexão. Questões como intolerância religiosa e racismo estão no centro do texto, abordadas de forma divertida, mas sem perder a profundidade. Sulivã Bispo comentou que, a cada temporada, ele e a produção tentam trazer novidades para manter o espírito irreverente da personagem.“Nesta temporada, Koanza trará piadas sobre acontecimentos atuais: babados, as polêmicas, assuntos relacionados ao candomblé, as avacalhações na internet, as eleições. O espetáculo se mantém ligado às atualidades, misturando realidade e ficção para fazer um bom caldo engraçado”, detalha Sulivã.O real e o fictícioUma das grandes novidades desta temporada é a participação especial de quatro blocos afro da Bahia: Ilê Aiyê, Malê Debalê, Banda Didá e Cortejo Afro. Os grupos não apenas contribuem com sua musicalidade e presença cênica, mas também fazem parte ativa da dramaturgia do espetáculo. “Faço algo inédito: um bloco afro convidando outro. Eles participam das chamadas de vídeo, dançam e atuam. O mais bonito é mostrar que os cantores e percussionistas dos blocos são artistas completos, cênicos e intérpretes também”, disse Sulivã.Para o ator, a presença dos blocos diz respeito também a sua formação artística e vida pessoal. “Sempre digo que meus ídolos são os blocos afro. Sou um menino do Curuzu. Para mim, subir a ladeira, olhar da sacada e ver o Ilê passar era como estar na minha própria passarela. O Curuzu sempre foi a minha passarela londrina, o meu Brooklyn. Então, ter os blocos afro em cena, interpretando junto com Koanza – uma personagem que carrega uma africanidade muito forte – é algo muito bonito, rico e especial para mim”.Do mesmo modo, Koanza também fala muito sobre Sulivã. Assim como a personagem, o artista também é praticante do Candomblé, o que faz com que as questões religiosas na peça sejam trabalhadas de forma atenciosa.“Koanza é uma personagem que me desafia muito. Primeiro, porque ela é uma mãe de santo, e eu sou um menino de axé. Fui iniciado para Oxum, então as questões religiosas para mim vão muito além da liturgia – são sagradas. No espetáculo, abordo a intolerância religiosa de forma crítica e bem-humorada. Trago explicações sobre a internet: que Oxalá não é signo, que Oxalá não é João Bidu. Oxum é Oxum, Aquário é Aquário, Oxóssi é Oxóssi – uma coisa não tem nada a ver com a outra”, disse Sulivã.Foi através do humor que o artista encontrou em sua carreira a linguagem necessária para poder trazer essas questões que falam sobre elementos da sua identidade e compor a personagem Koanza ao longo dos anos.“O humor me ensinou que é possível fazer rir com respeito. Quando trago Oxum no palco, trago minhas vivências. Preciso fazer isso sem ridicularizar a personagem ou alimentar o racismo recreativo. Abordo a intolerância religiosa de forma crítica e bem-humorada. Falo sobre o acarajé, que não pode ser chamado de ‘bolinho de Jesus’, e sobre músicas que devem ser cantadas com os nomes corretos dos santos e orixás.O riso coletivoSulivã destacou que seu objetivo com o espetáculo é desmistificar aspectos da cultura negra e fazer com que o público se divirta através de comparações próprias da cultura baiana. Ele utiliza como referência o modo de falar de mulheres mais velhas e de mães de santo, como sua própria mãe de santo, destacando sua elegância e respeito. “Contamos nossas histórias negras para que o público sorria com nosso cotidiano e nosso dialeto, sem rir de nós”, afirmou o ator.O espetáculo, segundo ele, foi construído de forma que seja acessível a todos os públicos, que qualquer um possa se indentificar com Koanza. “Esse espetáculo é para todo mundo. Não é só para quem entende de teatro, mas também para a cozinheira, o advogado, o gari, o arquiteto, o médico, o desembargador”, afirmou. A história emociona e provoca risos, criando uma continuidade que mantém o interesse do público, e ele acredita que essa identificação é um dos principais fatores que explicam a resposta positiva do público.Por fim, Sulivã expressou seu orgulho em interpretar Koanza durante todos esses anos, afirmando que se sente satisfeito com o caminho que seguiu como artista. “Me orgulho muito de dar vida a Koanza e fico feliz por seguir esse caminho até hoje”, concluiu.Koanza: do Senegal ao Curuzu / Hoje, amanhã e dias 14, 15 e 16.2 (sexta, sábado e domingo), 19h / Teatro Jorge Amado / R$ 60 e R$ 30 / Vendas: Sympla*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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