Dólar ronda estabilidade na abertura com tarifas de Trump e inflação em foco

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar à vista rondava a estabilidade ante o real nas primeiras negociações desta terça-feira (11), um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializar a imposição de tarifas sobre as importações de aço e alumínio para o país. Os investidores avaliavam dados de inflação no Brasil.


Às 9h04, a moeda americana caía 0,06%, a R$ 5,782. Na segunda, a divisa fechou em leve queda de 0,12%, cotado a R$ 5,784, e a Bolsa avançou 0,76%, aos 125.571 pontos.


A inflação desacelerou em janeiro, apontam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta terça-feira (11). O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,16% em relação a dezembro, levemente abaixo da mediana da expectativa de economistas consultados pela Bloomberg, de 0,17%.


Na véspera, a sessão foi embalada por novas ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pela valorização de commodities importantes para o mercado brasileiro.


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a ameaça de domingo (9) e ordenou nesta segunda-feira (10) um aumento substancial nas tarifas sobre as importações de aço e alumínio.


Produtos semiacabados de aço estão entre os principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves.


Segundo dados do governo americano, entre novembro de 2023 e novembro de 2024 o Canadá foi o maior fornecedor de aço, em volume, para os americanos, com 22,6% do total, seguido pelo Brasil (16,4%, com 4 milhões de toneladas) e o México (11,9%).


O Brasil ficou atrás do México em valores: recebeu US$ 2,9 bilhões, contra US$ 3,2 bilhões dos mexicanos e US$ 6,64 bilhões dos canadenses.


O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que se manifestaria após a oficialização das novas medidas.
“O governo tomou a decisão de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas, não em anúncios que podem ser mal interpretados, revistos”, disse o ministro Fernando Haddad (Fazenda) a jornalistas.


Segundo reportado pela colunista da Folha, Mônica Bergamo, o governo estuda taxar plataformas digitais norte-americanas em resposta, ainda que Haddad tenha dito, no X (ex-Twitter), que “não é correta a informação.


A cautela deve imperar entre os integrantes do Executivo. O entendimento é que, diante do comportamento errático do presidente norte-americano, a melhor postura é aguardar medidas concretas e não entrar em uma guerra comercial aberta contra os Estados Unidos.


Na análise de João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos, a percepção predominante é de que “o impacto das medidas sobre o Brasil será limitado, especialmente considerando a ausência de detalhes concretos e a já existente diversificação da balança comercial do país”.


“No curto prazo, a volatilidade pode aumentar conforme surgirem mais informações sobre a efetiva implementação dessas tarifas, dependendo também da resposta do governo brasileiro. No entanto, a posição cautelosa do Ministério da Fazenda sugere que o Brasil adotará uma estratégia de análise antes de tomar qualquer decisão.”


Por conta disso, o movimento do dólar aqui foi na contramão das demais praças cambiais. O índice DXY, que compara a força da moeda norte-americana contra seis outras divisas fortes, teve alta de 0,25%.


Analistas também creditam a queda ao desempenho de commodities relevantes para o mercado brasileiro. O petróleo Brent subiu 1,82%, enquanto o minério de ferro avançou 0,79%.


Spotify https://open.spotify.com/episode/6gP48PKaYHpcguQzTqlUWR?si=DKe0Fz-jQrGZxQzAWJkMEA *** Trump ainda pr mpor tarifas de reciprocidade a vários países ao longo desta próxima semana. A medida –uma das promessas do republicano durante a campanha eleitoral– visa igualar as tarifas de importação dos Estados Unidos às cobradas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos.
Trump não identificou quais países seriam afetados, mas sugeriu que seria um esforço amplo que também poderia ajudar a resolver os problemas orçamentários dos EUA.


“Vou anunciar isso na próxima semana, comércio recíproco, para que sejamos tratados de forma justa com outros países”, disse Trump. “Não queremos mais, nem menos.”


Os planos seguem a esteira dos decretos assinados no sábado (1º), nos quais Trump impôs tarifas adicionais sobre todas as importações do Canadá, México e China. Ele, porém, costurou acordos com as lideranças dos países vizinhos e adiou as taxas em um mês, mas manteve as de 10% sobre todos os produtos da China.


Os chineses retaliaram com taxas de 15% para carvão e gás natural dos EUA, bem como outras de 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis, em vigor a partir desta segunda.
Os mercados financeiros inicialmente esperavam que Trump pudesse seguir o mesmo roteiro com a China como fez com o Canadá e o México. Ele sugeriu que falaria com o líder chinês Xi Jinping, mas depois disse que não tinha “pressa”.


Os investidores avaliam o “tarifaço” com cautela. Isso porque a política tem o potencial de aumentar custos para os consumidores norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.


Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.


Um discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, é esperado para esta terça-feira. “Ele deve indicar como estão vendo o cenário macroeconômico por lá, e, talvez, até dê alguma sinalização sobre como está o alinhamento com o novo governo”, diz Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.


“Até o momento, não vemos uma relação estreita entre Powell e Trump. As tarifas podem impulsionar muito a inflação nos próximos meses, então o mercado fica muito atento a qualquer pronunciamento de um dos dois.”

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