Zelensky diz que não se pode confiar em Putin sobre o fim da guerra

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, disse nesta quinta-feira (13) que não se pode confiar nas afirmações do líder russo, Vladimir Putin, sobre seu desejo de pôr fim à guerra, e pediu que se estabeleça um plano para a paz com Donald Trump.

Trump e Putin conversaram em um telefonema, na quarta-feira, sobre como encerrar o conflito, que começou com a invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022.

O presidente americano afirmou nesta quinta-feira que tem certeza de que seu colega russo “quer a paz” e garantiu que a Ucrânia vai fazer “parte” das conversas.

Contudo, Zelensky escreveu no X que havia “advertido às lideranças internacionais para que não confiassem nas afirmações de Putin sobre sua disposição para pôr fim à guerra”, após um telefonema com o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk.

De acordo com Zelensky, os contatos entre Ucrânia e Estados Unidos devem ser uma “prioridade”. “Somente […] depois que um plano para deter Putin for colocado em prática, acho que será bom conversar com os russos”, disse ele.

O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, assinalou que, “de uma forma ou de outra, é óbvio que a Ucrânia participará das negociações”.

Embora o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, dissesse que o contato de Trump com Putin não foi uma “traição” à Ucrânia, o gesto desencadeou uma forte reação dos aliados europeus, que temem que nem União Europeia nem Ucrânia tenham voz nas negociações.

A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, alertou nesta quinta-feira que um acordo feito às escondidas da UE “simplesmente não funcionará”, pois “não haverá implementação”.

Nesse mesmo sentido, o presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, afirmou no X que “não haverá negociações críveis e bem-sucedidas, nem paz duradoura, sem Ucrânia e sem UE”.

O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, acredita que é “crucial” que a Ucrânia esteja “estreitamente envolvida” em tudo o que lhe diz respeito.

Na quarta-feira, Hegseth disse na Otan que o retorno às fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014 era “uma meta pouco realista”.

Isso significa que Kiev deveria pelo menos desistir da península da Crimeia, tomada e anexada naquele ano por Moscou.

O ministro da Defesa da França, Sébastien Lecornu, expressou sua preocupação de que a “administração americana esteja cedendo tudo” o que a Rússia quer.

– Um lugar à mesa –

O ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, disse em Bruxelas que seu país manterá a resistência à Rússia. “A mensagem é que continuaremos. Somos fortes e capazes e cumpriremos”, disse Umerov ao chegar à sede da Otan.

No final de sua visita, Hegseth pediu para “tornar a Otan grande novamente”, com mais gastos em defesa. Trump, disse ele, “não vai permitir que ninguém transforme o ‘Tio Sam’ em ‘Tio Estúpido'”.

Por sua vez, o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, disse esperar que a Ucrânia firme um acordo de acesso a minerais que permitiria “reembolsar o contribuinte americano pelos bilhões de dólares que foram gastos ali”.

Fora do continente e da Otan, a China expressou sua satisfação, nesta quinta-feira, pelo fato de os Estados Unidos e a Rússia estarem “fortalecendo sua comunicação”, pois são “dois países muito influentes”.

Em Moscou, o Kremlin expressou interesse em organizar um encontro entre Trump e Putin “rapidamente”, já que os dois líderes “têm muito a dizer um ao outro”.

Trump mencionou na quarta-feira um possível encontro com Putin na Arábia Saudita, mas não forneceu uma data possível.

No terreno, a Ucrânia afirmou nesta quinta-feira que agora controla apenas 500 km² no oblast (região administrativa) russo de Kursk, dois terços a menos que os 1.400 km² que reivindicou em agosto, no início de sua ofensiva relâmpago na área.

O Exército ucraniano, menor e menos bem equipado que o de Moscou, está gradualmente perdendo o território que ocupa nesta região do oeste da Rússia, na fronteira com a Ucrânia, que Kiev pretende usar como moeda de troca com Moscou.

© Agence France-Presse

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