Lula diz que não vai ‘tirar pobre da rua’ para COP30 e que, se preciso, visitante dormirá sob ‘estrela do céu’

VINICIUS SASSINE
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)

O presidente Lula (PT) disse nesta quinta-feira (13), em Belém, que não vai “enfeitar” a cidade nem “tirar o pobre da rua” para a realização da COP30 (conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas), que será realizada na capital do Pará de 10 a 21 de novembro.

Lula disse que, se não houver condições ideais de hospedagem a visitantes estrangeiros, será preciso fazer uma adaptação por parte desse participante da conferência.

“Eu não vou enfeitar, eu não vou tirar pobre da rua”, afirmou Lula, em um evento num residencial no distrito de Outeiro, onde entregou chaves de apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida. “Eu quero que eles vejam a nossa Belém do jeito que ela é.”

O presidente afirmou: “Se não tiver hotel cinco estrelas, durma num de quatro. Se não tiver de quatro, durma num de três. Se não tiver de trêss, durma [sob a] estrela do céu, do mundo, olhando para o céu, que vai ser maravilhoso.”

A organização para a realização da COP30, quando são esperadas 40 mil pessoas, vem enfrentando dificuldades para abertura de vagas para hospedagem.

A cidade foi tomada por especulação imobiliária, com retenção de vagas de aluguel em imóveis e tentativas de lucros exorbitantes durante a COP30. Até agora, apesar da promessa, não há uma plataforma única a cargo do governo federal, o que poderia eliminar a especulação e a incerteza sobre hospedagem.

“Com todos os defeitos, com todas as deficiências… Vamos fazer uma COP30 que nunca vão esquecer”, afirmou Lula no evento, que contou com a presença de ministros, como Rui Costa (Casa Civil), Jader Filho (Cidades) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e do prefeito de Belém, Igor Normando (MDB).

Helder e Igor foram vaiados por uma parte do público presente no evento do governo federal. Manifestantes gritaram palavras de ordem contra os gestores e contra a realização da COP30. Eles protestaram contra a tentativa de extinção de uma fundação escolar por iniciativa do prefeito, que é primo em segundo grau do governador.

Lula disse, em um longo discurso, que a COP30 será feita em Belém e que isso não vai mudar. “Não tem problema que Belém seja do jeito que for. Que o povo seja do jeito que for. É aqui”, disse o presidente.
“Eles têm de saber quanto dói uma picada de carapanã [um mosquito bem comum em regiões amazônicas]. Tem de saber porque é bom. Eles têm de saber que Belém é um povo extraordinário, feliz. Somos pobres, mas temos orgulho”, afirmou Lula, em referência aos visitantes estrangeiros.

O chefe do Executivo voltou a fazer cobranças sobre financiamento internacional, para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, e disse que, mesmo se não houver recursos de fora, o Brasil tem o compromisso de zerar o desmatamento da amazônia até 2030.

Lula citou a “obrigação de diminuir o uso de combustível fóssil”, apesar da pressão que faz para exploração de petróleo no chamado bloco 59, na costa amazônica, na altura do Amapá. “O Brasil é o país com mais energia limpa no mundo.”

“Como que um francês, um inglês, um alemão pode dar palpite na nossa floresta? Ela é nossa”, afirmou o presidente. “Se eles já desmataram a deles, a gente tem a obrigação de manter em pé, porque o mundo tá precisando. Mas eles precisam saber que embaixo de cada copa de árvore tem um trabalhador. Um índio, um quilombola, um seringueiro, um extrativista, um pescador.”

No discurso, Lula ainda defendeu a independência financeira de mulheres, para que não precisem ser “escravas” de companheiros, e criticou pais que fornecem celulares a filhos em circunstâncias diversas.
Lula programou dois dias de agenda em Belém. Além da entrega das habitações do programa Minha Casa Minha Vida, em um residencial num distrito da capital, o presidente inaugurou um bloco de um campus do IFPA (Instituto Federal do Pará) e participará de cerimônia de anúncio da ampliação de linhas de crédito do Banco da Amazônia para micro e pequenos empreendedores.

Na sexta (14), a agenda é voltada às obras da COP30. Está programada uma visita de Lula ao Parque da Cidade, construído para ser o espaço central da conferência internacional, e há possibilidade de o presidente sobrevoar obras de macrodrenagem e urbanização que estão em curso, com promessa de que serão entregues até a COP30. Em Belém, 80% dos moradores não são atendidos com coleta de esgoto.

Entre as medidas que serão anunciadas, e que foram antecipadas pelos integrantes do governo, estão um desembolso de R$ 250 milhões do BNDES ao governo do Pará, para obras de macrodrenagem; a liberação de R$ 45 milhões do Fundo Amazônia ao Corpo de Bombeiros do estado, para combate a queimadas no período seco; e estruturação de projetos de concessões de parques amazônicos.