Dólar cai para R$ 5,68, menor cotação desde 7 de novembro; Bolsa fecha estável

VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar fechou em queda de 0,40% nesta terça-feira (18), cotado a R$ 5,688. Esse é o menor valor desde 7 de novembro de 2024, quando encerrou a R$ 5,675. Na última sexta-feira (14), a moeda havia fechado em R$ 5,696, a mínima dos últimos três meses até então. Em 2025, a divisa dos EUA acumula queda de 7,93%.

Nas primeiras negociações da sessão, o dólar apresentava leve alta, seguindo a tendência do dia anterior -quando encerrou com alta de 0,26%, a R$ 5,71-, mas inverteu o sinal e passou a cair.

O movimento de queda se intensificou depois de um novo leilão do Banco Central, realizado entre 10h30 e 10h35, e notícias sobre o cenário político nacional para 2026, que deixaram o mercado na expectativa por novos rumos econômicos. Na mínima da sessão, o dólar chegou a atingir R$ 5,675.

Na ponta internacional, investidores monitoraram as negociações entre Estados Unidos e Rússia na Arábia Saudita pelo fim da Guerra da Ucrânia.

A baixa da moeda dos EUA foi na contramão dos mercados estrangeiros, onde o dólar se valorizava ante boa parte das divisas globais. O índice DXY, que compara o dólar a uma cesta de outras seis moedas fortes, avançava 0,32% no fim do pregão.

Já a Bolsa encerrou com estabilidade, variando 0,01% para baixo, aos 128.531 pontos.

As ações do GPA ocuparam a ponta negativa antes da divulgação do balanço e com “downgrade” do JPMorgan, sendo acompanhadas de perto pelos papéis do Assaí, enquanto BB Seguridade capitaneou as altas após balanço, previsões para 2025 e anúncio de dividendos.

Segundo Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, um dólar próximo dos R$ 5,60 ou R$ 5,70 está mais de acordo com os fundamentos atuais, após os picos vistos no fim de 2024. No entanto, Gomes não enxerga uma tendência de queda.

“Não vejo nenhuma queda no curto prazo mais acentuada. Não temos indicador que corrobore isso”, afirmou.

No início da sessão, o foco do mercado nacional se voltou para o Banco Central, que realizou um leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) de US$ 3 bilhões, entre 10h30 e 10h35.

Foram aceitas cinco propostas, a uma taxa de corte de 5,411%.

A venda foi realizada com base na taxa de câmbio da Ptax das 10h, que marcava R$ 5,7046.

Esta foi a terceira vez que o BC realizou uma operação de linha no ano e sob a gestão do novo presidente, Gabriel Galípolo. Em 20 de janeiro, dia da posse do presidente dos EUA, Donald Trump, a autarquia vendeu um total de US$ 2 bilhões em dois leilões de linha. Em 29 de janeiro, a instituição vendeu outros US$ 2 bilhões.

Ainda pela manhã, o Tesouro Nacional anunciou a emissão de títulos em dólares no mercado internacional, com prazo de 10 anos, vencendo em 2035.

A sessão desta terça também foi marcada por algumas notícias sobre o cenário político nacional, que fazem o mercado enxergar a possibilidade de uma renovação política nas próximas eleições, em 2026.

Pela manhã, o instituto Paraná Pesquisas divulgou um levantamento contratado pelo PL (Partido Liberal) simulando alguns cenários para as próximas eleições do Executivo Federal.

Em um dos cenários, o presidente Lula (PT) empataria tecnicamente com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em outro, sem Lula e sem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível, Tarcísio estaria à frente, com 23,9% de favoritismo.

A pesquisa ouviu presencialmente 2.010 eleitores em 26 estados e no Distrito Federal, entre os dias 13 e 16 de fevereiro. O nível de confiança é de 95%, com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais para os resultados gerais.

A pesquisa ecoa o último levantamento do Datafolha, que mostrou que a aprovação do governo Lula despencou de 35% para 24% -a pior de todos os seus mandatos. Os resultados foram acompanhados de perto pelo mercado e contribuíram para a queda do dólar na semana passada.

No início da tarde desta terça, uma apuração da Folha de S.Paulo revelou que o governador de São Paulo tem dito a aliados que aceitará disputar as próximas eleições para a Presidência se esse for o desejo de Bolsonaro. Oficialmente, Tarcísio nega a possibilidade de concorrer.

“Há uma expectativa em relação ao cenário político futuro. As notícias mais recentes indicam que Lula perdeu força política e está isolado, enquanto outros nomes vêm ganhando relevância para uma possível disputa eleitoral”, afirma Charo Alves, especialista da Valor Investimentos. “Esse movimento estimula o retorno de capital de curto prazo, contribuindo para a queda do dólar.”

Além disso, a jornalista Andreia Sadi, da GloboNews, noticiou em seu blog que, durante reunião no último domingo (16), ministros disseram ao presidente Lula que as medidas que mais desgastaram o governo foram as do Ministério da Fazenda.

O ministro Fernando Haddad, que comanda a pasta, não estava na reunião em razão de uma viagem ao Oriente Médio. Segundo a jornalista, há uma pressão nos bastidores pela saída de Haddad e de alguns dos auxiliares do ministro.

As atenções dos agentes financeiros também se voltaram para o cenário externo, uma vez que os mercados dos EUA reabriram após feriado na véspera. Os investidores ponderaram as incertezas geopolíticas e comerciais.

O mercado já havia monitorado na segunda, e seguiu nesta terça, de olho em uma possível trégua na guerra entre Rússia e Ucrânia depois de Trump ter ligado, na semana passada, para o presidente russo Vladimir Putin e o presidente ucraniano Volodimir Zelenski para iniciar negociações de paz.

Autoridades norte-americanas e russas se reuniram nesta terça-feira na capital saudita, Riad, para suas primeiras conversas sobre o fim da guerra na Ucrânia, enquanto Kiev e seus aliados europeus ficaram de fora.

O Departamento de Estado dos EUA informou que tanto os americanos quanto os russos concordam em iniciar esforços por paz na Ucrânia e em estabelecer um grupo de trabalho sobre o assunto. Os EUA sugeriram que o fim de sanções que atingem a economia russa estão sendo discutidas.

Reino Unido e Suécia já disseram que vão mandar forças de paz à Ucrânia caso o cessar-fogo ocorra. A guerra completará três anos na próxima semana.

O conflito na Ucrânia tem influenciado as decisões de investidores nos últimos três anos, principalmente devido a seu impacto em preços de commodities, como grãos e petróleo.

Um fim negociado para o conflito seria bem recebido pelos investidores, que teriam um fator de volatilidade a menos a ser ponderado em suas decisões.

Além da questão geopolítica, os agentes financeiros continuam atentos aos conflitos comercias gerados pelas novas ameaças tarifárias de Trump. A percepção é de que as tarifas são mais uma tática de negociação do que planos concretos, e abrem espaço para acordos entre os países que estão na mira do presidente americano.

Nesta segunda-feira (17) o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a falar sobre as tarifas recíprocas.

Em sua conta no X (ex-Twitter), o chefe do Executivo americano disse que os EUA foram tratados de maneira injusta por países amigos e inimigos.

“Se um país achar que os EUA estariam cobrando uma tarifa muito alta, tudo o que precisam fazer é reduzir ou extinguir a tarifa contra nós. Não há tarifas se você fabricar ou construir seu produto nos Estados Unidos”, disse.

O “tarifaço” tem o potencial inflacionário, ou seja, de encarecer o custo de vida dos norte-americanos, o que pode forçar o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) a manter a taxa de juros em patamares elevados por lá.

Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente. Já uma política tarifária mais branda enfraquece a moeda norte-americana, o que torna o dólar mais barato por aqui.

Diante das medidas de Trump, o governo brasileiro vê alta de juros por aqui também. Isso porque, se o Fed mantiver a taxa de juros mais alta por mais tempo, o Banco Central do Brasil deve seguir o mesmo caminho a fim de assegurar um diferencial atrativo para investidores na economia brasileira.

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