Por que ‘O brutalista’ é tão longo? Diretor explica duração de 3h35 do filme: ‘Às vezes mais é mais’


‘Não sei o que todo mundo está fazendo com o seu tempo que é tão precioso’, diz Brady Corbet em entrevista ao g1. Filme com dez indicações ao Oscar estreia nesta quinta-feira (20). Brady Corbet explica por que ‘O brutalista’ tem três horas e meia
Mais do que um dos favoritos ao Oscar 2025 com dez indicações no total, “O brutalista” é um estudo sobre a resiliência humana, uma parábola sobre a delicada relação entre artistas e patrocinadores e é, também, um filme longo. Muito longo.
Com 3 horas e 35 minutos, a grande estreia desta quinta-feira (20) nos cinemas brasileiros é de longe a concorrente com a maior duração de toda a categoria principal do prêmio da Academia – mesmo descontados os 15 minutos do (bem-vindo) intervalo que divide a história.
g1 já viu: ‘O brutalista’ vale cada uma de suas mais de 3 horas com Adrien Brody irretocável
Mesmo com tantas qualidades – a atuação magnética de Adrien Brody, que o coloca na liderança para ganhar sua segunda estatueta de melhor ator, a direção certeira de Brady Corbet, a trilha sonora poderosa e a bela fotografia –, a extensão pode ser uma barreira insuperável para um público com atenção cada vez mais dispersa.
O jovem diretor não se importa. Do alto de seus 36 anos, o americano lutou por sete anos para realizar o projeto da forma como imaginava quando o escreveu com sua mulher, a atriz e diretora norueguesa Mona Fastvold.
“Às vezes mais é mais. A realidade é que essa história se passa em 35 anos, tem muitos personagens. Ela apenas leva o tempo que precisa. Qual é uma duração mais aceitável?”, diz Corbet, em entrevista ao g1.
Adrien Brody em cena de ‘O brutalista’
Divulgação
“Um filme de duas horas e meia. Mesmo se eu cortasse uma hora do filme, ainda seria longo pra cacete. Então, eu só meio que pensei: ‘Quem se importa?’. Não importa. Acho que é o mesmo que criticar uma pintura por ser grande demais.”
Após começar a carreira na indústria como ator (você talvez se lembre dele como o loirinho de “Aos treze”, de 2003), Corbet chega a seu terceiro longa-metragem reconhecido por fazer muito com pouco.
Afinal, conseguiu um dos filmes com o maior número de indicações do ano (empatado em segundo lugar, com “Wicked”, atrás apenas das 13 de “Emilia Pérez”) com um orçamento de “apenas” US$ 10 milhões – um valor modesto para os padrões hollywoodianos.
“A conversa sobre a duração é interessante para mim, em especial em uma época em que todo mundo assiste a tanta televisão”, afirma o vencedor do Globo de Ouro e do Bafta de melhor direção.
“Eu também não sei o que todo mundo está fazendo com o seu tempo que é tão precioso. Quero dizer, tem maneira melhor de passar o dia do que no cinema com uma xícara de café?”
Brady Corbet, ao centro, comanda gravações de ‘O brutalista’
Divulgação
Dinâmicas
“O brutalista” retrata a saga de décadas de um talentoso arquiteto húngaro (Brody) – desde os obstáculos ao emigrar em busca do sonho americano após sobreviver ao Holocausto até uma série de relações abusivas, das drogas à esposa (Felicity Jones) e um rico e sombrio mecenas (Guy Pearce).
Filmado na Hungria depois de adiamentos de anos por causa da pandemia, a obra reflete a saga de sua própria produção, que exigiu insistência de seu criador e uma relação delicada com os financiadores.
Tanto que Corbet afirma ter feito “zero dólares” com o trabalho – por mais que o site Deadline garanta que ele deve receber parte de lucros futuros.
Até por isso, desde o começo da campanha do filme para Oscar, o diretor insiste no paralelo da história com os processos dos bastidores da indústria cinematográfica.
“O filme não é só sobre isso e, mesmo se tirássemos isso do filme, ele ainda continuaria a ser sobre o que é. Mas, em termos de controle criativo, a dinâmica entre um cliente e o arquiteto e um cineasta e – digamos – um financiador é normalmente muito difícil. Cada lado tem o que o outro precisa”, fala Corbet.
Joe Alwyn, Guy Pearce, Stacy Martin, Adrien Brody, Felicity Jones e Raffey Cassidy em cena de ‘O brutalista’
Divulgação
“Acho que todo artista, até os pintores, sofre com esse desequilíbrio de poder, no qual o mecenas às vezes abusa ao não apenas coletar o trabalho do artista, mas ao tentar criar o próprio artista no processo.”
A aposta deu certo. “O brutalista” começou sua jornada ao vencer os Globos de Ouro de melhor drama, direção e ator.
A menos de duas semanas do Oscar, que acontece em 2 de março, o filme não tem mais o favoritismo na categoria principal, cedido para “Anora”, mas ainda lidera a corrida em categorias como ator, trilha sonora (Daniel Blumberg) e fotografia (Lol Crawley).
Nada mal depois de tanta luta.
“Acabou que tive parceiros muito bons nesse filme, e eu tive muita sorte por ter tanta gente que me apoiou, mas, claro, eu tive de lutar pelo seu direito de existir. Tive de lutar não só pela duração, mas pelo formato e também pelo próprio tema. Isso em si foi uma luta. Isso é o que fazer filmes é”, diz ele.
“É engraçado, porque, na minha vida pessoal, eu realmente evito conflitos. No trabalho, eu corro em direção ao conflito, porque eu acho que só existe algo interessante acontecendo se há algo pelo qual vale a pena lutar. Senão, você meio que está fazendo nada.”
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