O que é a ‘teoria do louco’ e como Trump a utiliza nos EUA

A “teoria do louco” é uma estratégia de intimidação usada por líderes políticos baseada na ideia de que, ao agir de maneira imprevisível e mostrar disposição para tomar ações extremas, como usar força militar ou outras medidas drásticas, um líder pode gerar medo ou incerteza no inimigo, forçando-o a agir de maneira mais cautelosa ou a se submeter a suas demandas.

Durante seu governo, Richard Nixon, ex-presidente dos EUA, utilizou a “teoria do louco” como uma tática de intimidação, criando a impressão de que estaria disposto a agir de maneira imprevisível, incluindo o uso do botão nuclear, para pressionar o Vietnã do Norte durante a Guerra do Vietnã. Essa abordagem visava fazer o inimigo acreditar que ele poderia ser imprevisível e perigoso, o que gerava uma vantagem estratégica. No entanto, essa estratégia, embora eficaz em algumas situações, também traz grandes riscos.

No mesmo sentido, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, adotou uma estratégia semelhante em seu segundo mandato, mas, em vez do botão nuclear, ele usa outro tipo de pressão: as tarifas. Trump já havia demonstrado sua disposição para agir de maneira imprevisível em questões internacionais, como nas negociações com o presidente chinês Xi Jinping, quando afirmou que, caso a China tomasse ações militares contra Taiwan, ele aplicaria uma tarifa de 150% a 200% sobre os produtos chineses.

Esse tipo de estratégia, que utiliza a taxação como uma “arma”, busca não apenas objetivos comerciais, mas também questões internas dos EUA, como o controle do fluxo de imigrantes indocumentados e a redução do tráfico de fentanil.

Ao mesmo tempo, Trump tenta impor o seu estilo “agressivo” como negociador. Por exemplo, após o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recusar uma negociação para a exploração de “terras raras” no país em troca de apoio, Trump até abandonar os ucranianos.

No entanto, as tarifas podem ser uma jogada arriscada quando se trata de sua eficácia econômica. Segundo o economista Javier Díaz Giménez, da Universidade de Navarra, em entrevista para a CNN, os efeitos dessa política são incertos e podem afetar negativamente o crescimento econômico. “Conflitos e tensões sempre são prejudiciais para os negócios, não benéficos”, alertou.

Até agora, Trump implementou tarifas de 10% sobre as importações da China e tarifas de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses, embora essas últimas tenham sido suspensas após negociações com os respectivos governos. Recentemente, Trump assinou uma ordem executiva impondo uma tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, e anunciou tarifas recíprocas para qualquer país que tenha tarifas sobre os EUA. Essas medidas, além de aumentar a incerteza econômica, geram um ambiente volátil para os negócios globais.

Para Giménez, a imprevisibilidade da política comercial dos EUA gera um clima de insegurança, o que pode desviar a atenção das empresas de seus negócios principais. “Agora, você precisa administrar um mundo volátil e barulhento, no qual você não sabe o que esperar”, afirma. As empresas, por sua vez, ficam sem saber como reagir às constantes mudanças e ameaças, o que pode afetar sua confiança e planejamento de longo prazo.

O uso da “teoria do louco” por Trump não se limita apenas à economia. Durante seu primeiro mandato, ele também adotou essa abordagem com a Coreia do Norte, ameaçando responder com “fogo e fúria” caso o regime de Kim Jong-un ameaçasse os EUA. Para alguns analistas, como o jornalista Tom Bateman, da CNN, essa incerteza na política externa é uma estratégia deliberada de Trump para manter aliados próximos enquanto pressiona adversários. Contudo, esse comportamento imprevisível também traz o risco de erros de cálculo, especialmente em um cenário internacional já caracterizado por tensões.

Giménez acredita que, nos próximos anos, os EUA podem se tornar um parceiro comercial imprevisível, o que pode resultar em uma ruptura nas relações comerciais com outros países. “Trump está pisando nas mangueiras de todo mundo, e isso é muito arriscado. Pode significar o fim do comércio com os EUA e que negociem entre si”, alertou.

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