Haddad critica quem pressiona por ajuste fiscal via lobbies sem fazer mudança no próprio setor

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou quem pressiona pelo ajuste fiscal, especialmente aqueles que atuam por lobbies, mas não querem mudanças em seus setores. Ele ponderou que o Congresso colaborou com a agenda do governo, aprovando propostas importantes, mas que muita coisa ficou de fora por pressões além do jogo político. Ele participou nesta terça-feira, 25, do painel Cenário Econômico 2025 na CEO Conference 2025, organizada pelo BTG Pactual.

“Eu nunca reclamei do Congresso. O Congresso deu aquilo que a democracia permitiu. Houve um avanço considerável nas pautas fiscais e pautas não fiscais, de crédito, de contrato, de marcos institucionais muito relevantes, que vão significar mais desenvolvimento. Eu tenho que ser honesto com o Congresso Nacional, que apoiou todas as medidas e entregou 60%, 70% da pauta fiscal. Não entregou 100%? Não. Mas não entregou 100% porque muita gente se mexeu fora do Congresso para que isso não acontecesse. Para a surpresa ingênua de alguns, são os que mais reclamam da falta de ajuste fiscal. É o cara que está fazendo o lobby lá e está pedindo ajuste fiscal, mas nunca no quintal dele”, disse o ministro.

Ao longo da participação no evento, o ministro defendeu diversas vezes o equilíbrio das contas públicas. Ele reconheceu que há um engessamento real do orçamento e defendeu o arcabouço fiscal como instrumento para atingimento da sustentabilidade das contas públicas.

“Na minha opinião, o caminho do arcabouço é o caminho da sustentabilidade orçamentária de longo prazo no Brasil”, disse Haddad.

Ele citou que o teto de gastos, adotado na gestão de Michel Temer, não melhorou as contas públicas, e que continuou a gerar déficits primários, ainda que não tenha havido despesas extraordinárias, como a pandemia ou a crise do Rio Grande do Sul

Haddad defendeu que é preciso ter memória do que cada governo representou em termos de carga tributária, de taxa de juros e de déficit primário, inclusive as gestões petistas.

“Se a gente perder a memória e a coragem de enfrentar as desonerações, que até foi do governo Dilma, erramos ou acertamos? Ela própria veio a público e disse que não acertamos nisso. Estavam imbuídos, às vezes, das melhores intenções. A gente erra. Tinha uma agenda da Fiesp ali que foi comprada e era uma agenda que se mostrou equivocada. Não gerou crescimento, gerou incerteza em relação às contas públicas”, disse o ministro

Ele ainda argumentou que é preciso fugir da polarização eleitoral para defender uma agenda comum a um projeto de país.

Distribuir responsabilidade de maneira socialmente justa

O ministro da Fazenda disse também nesta terça-feira que recebe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o comando para arrumar as contas públicas sem fazer com que o ajuste recaia “na parte mais fraca” da sociedade.

“Então vamos corrigir distorções, mas vamos distribuir essa responsabilidade de maneira socialmente justa. Eu não penso que é um comando equivocado, eu penso que é um comando certo. E o desafio da equipe econômica é grande, mas é combater todo esse patrimonialismo do Brasil, que existe no Brasil para a conta fechar de maneira correta”, disse Haddad.

Segundo o ministro, ele nunca recebeu um comando negativo de Lula, para que ele não equilibre as contas públicas. “Não é esse o comando que eu recebo do presidente”.

Ele repetiu nesta terça não acreditar que o Brasil vai conseguir operar o “milagre” do ajuste sem crescimento econômico.

“Não consigo ver crescimento econômico se a gente bombardear o andar de baixo. Não vai acontecer também. Então eu penso que é um receituário que deveria fazer sentido para mais gente, buscar combater os privilégios, fazer o ajuste necessário, garantir para os debaixo um caminho de emancipação e fazer a prosperidade chegar a mais pessoas”, disse Haddad.

Grau de investimento

O ministro também defendeu que o Brasil não vai conseguir atingir o grau de investimento se não olhar de maneira correta os números do orçamento, voltando a destacar os gastos tributários. Ele ressaltou as despesas que já estão contratadas pela Constituição e que, por isso, não há como “escapar” delas.

Para Haddad, o Brasil não vai conseguir mudar, por exemplo, a regra que alimenta o Fundeb, “bomba” jogada pela última gestão para “esse governo pagar”.

“Então não adianta inventar. Teve emenda constitucional multiplicando por dois, três, o aporte da União para o Fundeb e aí no ano seguinte você vai convencer os mesmos parlamentares que aprovaram e festejaram a emenda constitucional a mudar as regras? Não vai acontecer. Então a gente tem que ter clareza do que é possível fazer. E aí fazer a conta chegar em quem tem como pagar. Que é essa obsessão do presidente Lula”, disse Haddad.

O ministro ainda argumentou que o combate ao lobby precisa ser feito com transparência e mobilização da opinião público, repetindo sua avaliação de que a verdadeira “caixa preta” é a do Orçamento, com as várias vantagens aprovadas para diferentes setores. “Porque falava-se muito de caixa preta do BNDES, abriram a caixa preta e não acharam nada, porque lá no BNDES tudo foi sempre transparente”, disse. “Você não vai escapar dos números que eu acabei de te apresentar aqui. Pode trocar governo, pode trocar presidente, pode trocar ministro da Fazenda O Brasil não vai conseguir atingir o grau de investimento se não mirar os números certos do orçamento.”

Estadão Conteúdo

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