Não se pode impedir o profissional Sérgio Maurício de sobreviver. Processe, mas deixe trabalhar

“E agora que será de nós sem bárbaros?/ Esses homens eram uma solução.” — Konstantinos Kaváfis

Ante os excessos dos tempos atuais, o politicamente correto se faz necessário. Porém, quando excede, pode se tornar, mais do que uma patrulha ideológica, uma milícia autoritária, rígida e implacável com os deslizes — grandes, médios e pequenos — humanos.

As milícias ideológicas operam no excesso, como se fossem policiais dos costumes, notadamente dos que consideram “maus”. Ditam regras, com tal fúria, que empresas e instituições se sentem compelidas a “obedecê-las”.

O narrador de corridas de Fórmula 1 na Band, Sérgio Maurício, cometeu o desatino — as redes sociais abrem as portas do inferno verbal — de dizer que a deputada federal Erika Hilton, do Psol de São Paulo, era uma “fake news humana, essa coisa”.

Pode-se não gostar de Erika Hilton, por razões ideológicas ou pessoais, mas é um absurdo dizer que se trata de uma “fake news humana, essa coisa”. Não se deve dizer isto de ninguém. É falta de respeito. É falta de civilidade. É falta de humanidade.

Erika Hilton é uma deputada combativa, de muita coragem, independentemente de seu posicionamento ideológico. Pode ser criticada? Pode e deve. Mas não com as palavras usadas por Sérgio Maurício, que são de uma brutalidade inaudita. A agressividade é tanta que não pode ser considerada fortuita.

Talvez para não perder o emprego, Sérgio Maurício pediu desculpas a Erika Hilton. “Lamento profundamente as palavras equivocadas que usei ao me referir à deputada Erika Hilton, parlamentar por quem tenho o mais elevado respeito. Peço desculpas a ela, a seus eleitores e a quem mais tenha se sentido ofendido”, afirmou o profissional.

Pintura de Max Ernst sobre bárbaros

Parece texto escrito não por Sérgio Maurício, e sim por um advogado particular ou da Band. Porém, de qualquer maneira, ele pediu desculpas, o que é um avanço em tempos tão radicalizados e bárbaros.

Louvável é a compostura de Erika Hilton

Porém, se quiser, a deputada tem todo o direito de processá-lo, até como medida educativa tanto para o narrador quanto para outros possíveis agressores.

Na semana passada, por decisão de Johnny Saad, presidente e dono da Band, Sérgio Maurício foi reintegrado à equipe que apresenta a Fórmula 1 na Band. O empresário levou em consideração que o jornalista pediu desculpas à parlamentar.

Johnny Saad agiu corretamente, pois não se pode impedir um profissional de trabalhar e, portanto, sobreviver (sustentar a si e à família).

Espera-se que a “correção” feita agora sirva de exemplo para opiniões futuras de Sérgio Maurício.

Oxalá as milícias digitais, sempre em busca do indivíduo perfeito — que não existe (e jamais existirá) em nenhum lugar —, deixem o profissional em paz. Assim como se espera que ele seja respeitoso com as pessoas. Às vezes, quando o bárbaro quer “sair”, como saiu, é o melhor o silêncio.

Frise-se: no conflito, quem realmente teve compostura foi Erika Hilton. Ela se defendeu, mas sem nenhuma exaltação extremada. E era e é a única a ter direito a radicalizar-se.

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