Fed mantém taxa de juros inalterada em meio a temores de recessão nos EUA

HELENA SCHUSTER
PELOTAS, RS (FOLHAPRESS)

O Fed (Federal Reserve) decidiu manter a taxa de juros dos Estados Unidos na faixa de 4,25% a 4,50%. A segunda manutenção consecutiva da taxa pelo banco central americano ocorre em meio a temores de uma recessão, influenciados pelas políticas voláteis dos primeiros dois meses do novo mandato de Donald Trump.

A decisão desta quarta-feira (19) não surpreende o mercado, que já esperava que os juros não fossem alterados. O foco, portanto, se voltou ao comunicado que acompanha a decisão e ao chamado “dot plot”, gráfico que apresenta as projeções individuais dos membros do Fomc (comitê de política monetária dos EUA) para a trajetória dos juros.

O presidente do Fed, Jerome Powell, irá comentar a decisão do banco em coletiva de imprensa marcada para às 15h30.

O Fed reduziu os juros em um ponto percentual em 2024, e uma postura cautelosa e de menos reduções em 2025 vem sendo adotada desde então. A primeira reunião deste ano interrompeu uma sequência de três cortes de juros. O comunicado do Fomc à época trouxe poucas pistas sobre quando ocorreriam novas reduções.

No entanto, uma desaceleração da inflação maior do que o esperado em fevereiro fortaleceu argumentos para retomar cortes. Antes da reunião desta semana, os investidores previam que o Fed aprovaria duas reduções de 0,25 ponto percentual até o final deste ano.

Embora essa expectativa corresponda ao que as próprias autoridades indicaram em dezembro de 2024, a situação se tornou mais complexa.

Para economistas ouvidos pelo Financial Times, a incerteza em torno das tarifas de Trump complicou a tarefa do Fed em enviar uma mensagem clara sobre a direção da economia. Nos últimos anos, o banco vem insistindo que é “dependente de dados” e se concentra mais nos últimos números de inflação e crescimento, em vez de modelar o futuro.

Alguns economistas, no entanto, temem que a dependência de dados retrospectivos coloque o Fed em desvantagem em um ambiente de crescente incerteza política e econômica, especialmente porque as pressões de preços induzidas por tarifas podem demorar para se refletir nos dados.

Até o momento, os indicadores mais observados pelo Fed sobre inflação e desemprego ainda não registraram um grande impacto dos planos de Trump. A taxa de desemprego subiu para 4,1% em fevereiro, a economia criou 151 mil postos de trabalho e a inflação continua acima da meta de 2%.

As pesquisas de confiança das empresas e dos consumidores têm tido quedas, e o governo reconheceu que suas ações podem custar caro, pelo menos no curto prazo.

“A promessa de tarifas futuras essencialmente coloca de lado o objetivo do Fed de dependência de dados e significa que eles terão que confiar mais em um modelo de previsão”, disse Joe Brusuelas, economista-chefe da empresa de consultoria e impostos RSM US.

Brusuelas acrescentou que o Fed está enfrentando “uma posição política difícil” porque aumentar tarifas sobre alguns dos maiores parceiros comerciais do país poderia simultaneamente aumentar as pressões de preços e enfraquecer o mercado de trabalho, cada um dos quais apoiaria decisões opostas sobre taxas de juros.

O escopo completo dos planos de Trump ainda é desconhecido. A maior parte das tarifas prometidas ainda está em formação, e há debates urgentes à frente sobre o teto da dívida federal e o desejo de Trump de estender os cortes de impostos de seu primeiro mandato na Casa Branca.

Até agora, as mudanças abruptas de política já provocaram uma venda no mercado de ações, preocupação por parte das empresas e temores de uma possível recessão.

“Sabemos com certeza que todos -empresas, famílias e formuladores de políticas monetárias- odeiam a incerteza”, disse David Wilcox, ex-membro da equipe do Fed que agora trabalha no Peterson Institute for International Economics e na Bloomberg Economics.

Além de uma “referência oblíqua” aos desafios da incerteza, Wilcox também antecipou que os oficiais do Fed tentariam evitar fazer qualquer referência específica à agenda econômica de Trump. “Eu suspeito que um dos principais objetivos de Powell será manter a cabeça baixa e não ser percebido como alguém que fornece qualquer comentário contínuo sobre a política da administração”, disse.

No Brasil, antes da decisão do Fed, o dólar apresentava queda nesta quarta, enquanto a Bolsa tinha mais um pregão de ganhos. O mercado doméstico ainda aguarda a decisão do Copom sobre a taxa Selic, que ocorre também nesta quarta.

Nos EUA, as ações de Wall Street estavam em alta poucos minutos antes da decisão ser divulgada. O S&P 500 subiu 0,4%, enquanto o Nasdaq Composite subiu 0,7%. Nos mercados de títulos do governo, o rendimento do Tesouro de dois anos, sensível à política, estava a 4,09%, sinalizando uma pequena queda.

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