Em tempos de investimentos milionários, comissões técnicas inchadas e clubes cada vez mais estruturados, há uma regra não escrita que parece dominar o futebol brasileiro: ninguém perde por incompetência. Nenhuma derrota é aceitável. Nenhuma atuação ruim é responsabilidade do time. A culpa, invariavelmente, recai sobre a arbitragem.
Após a primeira rodada do Brasileirão, o técnico do Bahia, Rogério Ceni, deu um depoimento sincero e necessário. Disse o óbvio, mas que poucos têm coragem de admitir: está impossível apitar um jogo no Brasil. É pressão de todos os lados — jogadores, técnicos, dirigentes. Um ambiente hostil que transforma cada apito em um gatilho para reclamações, protestos e justificativas convenientes.
“Todo mundo enchendo o saco do cara”, resumiu Ceni, sem rodeios. E está certo. Criou-se uma cultura em que o árbitro virou o bode expiatório oficial do futebol brasileiro. Jogador perde gol feito? Técnico escala mal? Time joga sem intensidade? Nada disso importa se houver uma marcação duvidosa, um pênalti não dado ou um impedimento mal assinalado. A derrota já tem dono: o juiz.
Claro que a arbitragem erra. Assim como goleiros falham, atacantes desperdiçam chances e treinadores tomam decisões questionáveis. O problema é que o erro do árbitro virou desculpa pronta — um escudo conveniente para esconder as próprias falhas. Uma estratégia para iludir o torcedor, para dizer: “Nós não vencemos, mas a culpa não foi nossa”.
Essa narrativa empobrece o debate esportivo e deseduca o público. Torna o futebol refém de polêmicas extracampo e impede a análise fria do jogo. É chegada a hora de parar de olhar apenas para o apito e começar a olhar para a bola. Porque, no fim das contas, é ela que conta a verdade que muitos tentam esconder.
E, em meio a toda essa polêmica rotineira, surge a figura do VAR. Não há como negar que o uso da tecnologia trouxe uma revolução ao futebol, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, mas sua implementação gera opiniões divididas.
No cenário brasileiro, a tecnologia ajudou a reduzir erros graves, como gols em impedimento claro ou pênaltis não marcados, mas ainda enfrenta críticas por demora nas análises e inconsistências nas decisões. Enquanto em torneios como a Premier League ou a Champions League o sistema parece mais ágil e preciso, no Brasil há queixas sobre falta de padronização e infraestrutura desigual entre estádios, o que afeta a confiança de torcedores e jogadores na ferramenta.
Apesar das polêmicas, o VAR se tornou irreversível no futebol moderno, ainda que precise de ajustes para ganhar maior aceitação. No mundo, ligas mais estruturadas mostram que, com tecnologia avançada e procedimentos claros, as intervenções podem ser mais rápidas e menos disruptivas.
Já no Brasil, além de melhorias técnicas, seria necessário maior diálogo entre árbitros, clubes e torcedores para tornar o sistema mais transparente. No fim, o objetivo é o mesmo em qualquer lugar: equilibrar a justiça esportiva com a fluidez do jogo, preservando a essência do futebol enquanto se corrigem falhas humanas.
