A lição de Encantado – II

Quem deu uma passada pelos telejornais durante o fim de semana deve ter se deparado com o destaque nacional dado à inauguração do Cristo Protetor de Encantado nesse domingo, 6. E não é só por causa das impressionantes dimensões da estátua, mas pela inspiração de sonhar, pela coragem de ousar, pela competência de construir um complexo turístico no meio do nada, que um visionário idealizou e uma comunidade abraçou.

Aos que ainda não têm dimensão do que está acontecendo em Encantado, se atentem: em seis anos – não décadas – eles se lançaram a um desafio, atravessaram uma pandemia, sobreviveram a três enchentes devastadoras, mas não abriram mão do seu sonho e da sua determinação.

Quando tudo ao redor desmoronava e as águas engoliam histórias de muitas vidas, sabe-se lá como, o sonho ressurgia. E eles conseguiram juntar, de moeda em moeda dos mais humildes, às contribuições dos mais favorecidos e às doações de empresas e beneméritos país e mundo afora, mais de R$ 25 milhões (!) para execução desse complexo turístico. Sem destinação de recursos públicos, é importante ressalvar.

É inevitável traçar o paralelo: a restauração da Catedral São João Batista, maior referência turística de Santa Cruz do Sul, orçada em pouco mais de R$ 6 milhões, não conseguiu sequer metade do valor orçado ao longo de dois, três anos. E, ainda assim, o maior montante, mais de R$ 2 milhões, destinado pela Prefeitura com recursos públicos.

O que nos falta? Não são recursos, por certo. Carecemos de pessoas que nos inspirem e nos despertem para causas maiores, de alcance social, comunitário? Ou deixamos para trás valores como a solidariedade, o engajamento e comprometimento social?

Este questionamento precisa ir além do restauro da Catedral e se estender à gestão pública municipal. Diferente do que vem acontecendo em Encantado, onde uma comunidade inteira abraçou um projeto, nele investiu e com ele visualiza a expansão e consolidação de seus empreendimentos, aqui alguém decide e executa obra à revelia da opinião e do aval público. Quase sempre é uma aposta pessoal e personalista, bancada com recursos públicos e sem engajamento comunitário.

Nossos governantes e gestores já deveriam ter aprendido: sonhos de alcance comunitário não se concretizam por decreto. Eles precisam ser avalizados e acalentados pela sociedade. O município e o povo de Encantado, com o complexo turístico do Cristo Protetor, nos oferecem a lição mais emblemática: sonhar é permitido, ousar é um desafio, realizar é a consagração.

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