Tarifas de Trump sobre peças e automóveis atingem US$ 1,6 bi em exportações do Brasil

RICARDO DELLA COLLETTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

As tarifas de 25% que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs sobre automóveis e seus componentes atingem mais de US$ 1,6 bilhão em exportações do Brasil aos Estados Unidos —na sua grande maioria autopeças.


A ordem executiva do americano foi publicada em 26 de março, sob a justificativa de que ela estimulará investimentos e empregos nos EUA. Trata-se de uma ação anterior ao tarifaço anunciado na quarta (2), quando Trump instituiu um imposto mínimo de 10% sobre todos os parceiros comerciais dos americanos, o que incluiu o Brasil.


Quando o decreto do setor automotivo e de peças foi divulgado, não era possível estimar o alcance das tarifas sobre a pauta exportadora do Brasil, uma vez que os códigos do produtos afetados ainda não tinham sido divulgados.


Os dados foram finalmente publicados pelo governo Trump na quinta-feira (3). Eles mostram que o setor de automóveis deve sofrer um impacto apenas residual, uma vez que o Brasil exportou apenas US$ 6,9 milhões em veículos montados aos EUA —em comparação, as exportações globais foram de US$ 4,4 bilhões.


O segmento de autopeças, porém, tem uma exposição considerável às tarifas de Trump, de acordo com dados disponíveis no Comex Stat, sistema de estatísticas de comércio exterior do governo federal.


Os EUA foram o segundo principal mercado externo para a indústria de autopeças no Brasil, atrás apenas da Argentina. O valor de US$ 1,6 bilhão exportado aos EUA representa 18% do total das vendas internacionais de partes abrangidas pela tarifa de Trump, ainda segundo levantamento no Comex Stat.
Entre janeiro e março deste ano, foram exportados aos EUA cerca de US$ 411 milhões em componentes atingidos pela nova barreira comercial.


De acordo com especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, não é possível estimar, no momento, o impacto sobre o setor, uma vez que é preciso aguardar para observar como as cadeias produtivas vão se adaptar à nova realidade tarifária criada pelo republicano.


Os números indicam, no entanto, que o volume de comércio afetado é significativo para o Brasil.
As tarifas de 25% sobre automóveis e peças não se acumulam à sobretaxa de 10% que Trump aplicou sobre toda as exportações do Brasil.


Além dessas barreiras, o Brasil já enfrenta uma sobretaxa de 25% sobre aço e alumínio, as primeiras medidas da guerra comercial liderada por Trump que atingiram o Brasil.


O setor metalúrgico é visto como fundamental pelo governo Lula (PT). Só em 2024, foram enviados US$ 3,5 bilhões em produtos semiacabados de ferro ou aço aos EUA.


O imposto adicional para automóveis entrou em vigor em 3 de abril. A previsão é que as peças sejam taxadas a partir de 3 de maio.


O governo do presidente Lula tem avaliado como reagir aos tarifaços de Trump que afetam o Brasil.
A ideia do Palácio do Planalto é atuar em duas frentes. De um lado, enviar sinais públicos de que tem meios para retaliação e está disposto a adotar contramedidas caso seja necessário. De outro, avaliar o real impacto do tarifaço sobre as exportações brasileiras, mapear possíveis oportunidades e insistir nos contatos bilaterais para abrir cotas nas vendas de aço e alumínio.

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